CRUEL MENTIRA !


Inacreditável!
Poucos minutos depois do clássico do Dragão ainda me pergunto como é possível o futebol revestir-se por vezes de tamanha crueldade.
Na verdade, a derrota do Benfica é um resultado mentiroso face ao desenrolar do jogo, uma vez que, se é verdade que o F.C.Porto dominou amplamente a primeira meia hora, daí em diante os encarnados foram a melhor equipa sobre o relvado, justificando pelo menos a repartição de pontos. Mais do que a injustiça da derrota, a forma como ela foi consumada – depois de encetada uma difícil recuperação - foi um autêntico murro no estômago dos benfiquistas, e sem dúvida um dos mais dolorosos resultados de que tenho memória em jogos entre grandes no futebol nacional dos últimos vinte anos.
Apesar da forma ousada como Fernando Santos escalou o onze para esta partida (demasiado ousada talvez, ao despir, digamos assim, o meio campo de uma unidade), foram os portistas que entraram de forma esmagadora, alcançando dois golos ainda dentro da primeira vintena de minutos – o primeiro com alguma dose de sorte e o segundo num rasgo “à Ricardo Quaresma”, ainda que com culpas repartidas entre Nélson e Quim. Nesse período, o elevado nível do futebol portista e algum desnorte do Benfica fizeram inclusivamente pairar durante alguns momentos o espectro de uma possível goleada. O Benfica não acertava as marcações a meio campo e não se entendia com a extrema mobilidade dos dianteiros azuis e brancos, sobretudo do inspirado Hélder Postiga, que mesmo sem marcar (isto se atribuirmos o primeiro golo a Lisandro) realizou uma exibição de grande qualidade. Ainda assim, mesmo nessa fase, embora em termos de posse de bola e de capacidade de pressão o F.C.Porto fosse então muito superior, Léo dispôs de uma boa ocasião para marcar, enquanto os dragões marcaram os seus dois golos em apenas três oportunidades criadas.
A partir dos trinta minutos o F.C.Porto sentiu bastante a saída de Anderson - talvez também tenha adormecido um pouco à sombra da vantagem obtida - e o Benfica reagiu, construindo duas ocasiões flagrantes de marcar às quais Helton respondeu de forma soberba, impedindo Fonseca e depois Paulo Jorge de reduzirem distâncias. Pensou-se que tinha ficado por aí a possibilidade de o Benfica ainda vir a discutir o jogo, mais a mais tomando em conta aquilo que a equipa encarnada tem feito na presente temporada sempre que encontra pela frente adversários fortes e se vê em situações de desvantagem.
Todavia, na segunda parte o Benfica foi capaz de surpreender bastante e pela positiva. Depois de alguns minutos incaracterísticos, a equipa de Fernando Santos partiu para cima do adversário conquistando segundas bolas em série e empurrando o jogo para perto da baliza de Helton. Sobretudo com as entradas de Nuno Assis e Mantorras (sobretudo a do primeiro com a qual conquistou definitivamente um meio campo até aí muito pouco incisivo), a equipa encarnada tornou-se dona e senhora da partida, acabando por chegar ao golo de forma natural e esperada,por intermédio de Katsouranis num forte cabeceamento na sequência de um canto.
O golo ainda estimulou mais os benfiquistas, parecendo pelo contrário enervar a equipa de Jesualdo Ferreira, que na última meia hora raramente conseguiu ultrapassar a linha intermediária, espaço onde todas as bolas pareciam ir ter com os jogadores de vermelho vestidos, como se de um mecanismo automático se tratasse (maior frescura física ?). O empate acabou por surgir com naturalidade, e daí em diante foi o Benfica que ainda mostrou forças para procurar a vitória. Era praticamente impensável por essa altura que o F.C.Porto ainda pudesse marcar, tal a superioridade que a equipa benfiquista apresentava no jogo.
Mas, como eu comecei por dizer, o futebol tem o sortilégio de nos reservar situações estranhas e inesperadas. Umas vezes felizes, outras dramáticas. O F.C.Porto acabou por marcar no último lance da partida, quando nada o fazia prever e quando já nem demonstrava força anímica para o conseguir.
É difícil de entender como se sofre um golo numa situação como aquela, com os apenas três minutos de compensação praticamente transcorridos, com uma última substituição para fazer e na sequência de um lançamento lateral. É de questionar também o que causou uma entrada em campo tão tímida e descontrolada. Mas no cômputo geral da partida, o Benfica tem razões mais do que suficientes para sair de cabeça erguida e para acreditar em si próprio e no futuro, pois demonstrou na maior fatia do tempo de jogo, mais do que qualidade ou organização, sobretudo uma raça e uma vontade de vencer que certamente ainda darão frutos esta época, assim a sorte queira finalmente acompanhar o grupo de Fernando Santos.
Quanto ao F.C.Porto, fica a nota de uma primeira meia hora de elevadíssima categoria, mas fica também a perplexidade sobre a forma como quase ia desaproveitando uma vantagem, que a meio do primeiro tempo se situava praticamente no plano da irreversibilidade, acabando o jogo a tentar evitar a derrota, sendo depois bafejado pela deusa fortuna num golpe do improvável Bruno Moraes.
Em termos individuais os destaques entre os portistas vão para Hélder Postiga, Ricardo Quaresma, Helton e Pepe, enquanto no Benfica Simão foi o mais constante, seguido por Léo, embora as entradas de Nuno Assis e Mantorras tenham mexido muito com a equipa, conforme ficou já dito atrás. Katsouranis também esteve bem, sobretudo no período mais afirmativo da equipa lisboeta. Pela negativa há que salientar a exibição de Paulo Jorge que não pareceu em condições de assumir a titularidade, bem como mais um jogo pouco conseguido de Petit, ainda que na ponta final se tenha redimido com alguns bons apontamentos em termos de recuperação de bola. Nuno Gomes salvou uma prestação cinzenta com um golo, que afinal de nada valeu. Nelson nunca se entendeu com a presença de Quaresma no seu flanco, enquanto Quim sai um pouco mal nas fotografias dos segundo e terceiro golos.
Arbitragem tranquila de Lucílio Baptista, embora se aceitasse um cartão amarelo a Katsouranis no lance com Anderson, do qual o jovem portista saiu gravemente lesionado.
Pontuações dos jogadores do F.C.Porto: Helton 4, Fucile 2, Bruno Alves 3, Pepe 3, Cech 3, Paulo Assunção 3, Lucho 3, Anderson 3, Lisandro 3, Quaresma 4, Postiga 4, Raul Meireles 3, Sektioui 2 e Moraes 4.
Pontuações dos jogadores do Benfica: Quim 2, Nelson 2, Luisão 2, Ricardo Rocha 3, Léo 4, Petit 2, Katsouranis 3, Paulo Jorge 2, Simão 4, Fonseca 3, Nuno Gomes 3, Nuno Assis 4 e Mantorras 3.
Melhor em campo: Hélder Postiga.
Melhor benfiquista: Simão Sabrosa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Tenho duas sugestões de perguntas para o Vedeta:

- Deve o Katsouranis ser castigado, e só jogar depois do Anderson recuperar?
- Fazem falta ao futebol certos dirigentes como o Sr. Veiga e companhia?

Anónimo disse...

Otragal,

1ª RESPOSTA: Nem pensar !
É um lance absolutamente fortuito, em que Katsouranis tenta jogar a bola.
Admito que até pudesse merecer cartão amarelo, nada mais que isso.
Acho ridículo defender o contrário. Só mesmo por cegueira clubista.
Se isso acontecer (castigo) será a prova que os campeonatos estão decididamente viciados.

2ª RESPOSTA: Não me revejo, enquanto benfiquista, minimamente na atitude de Veiga.
Mas não podemos esquecer quem foi o dirigente (e falo no singular) que deu início a este tipo de atitudes e provocações, que criou guerras norte-sul, descredibilizou a competição, e tabernizou o futebol português.

Anónimo disse...

Não estou de acordo com a apreciação individual de Nelson, que me lembre o Quaresma tem três lances em que o lateral do Benfica perdeu, dois remates, um para fora, outro para o 2º golo do fcp e mais um cruzamento

Posso referir, que o Nelson cortou dois lances, importantissimos, na zona dos centrais quando o Benfica fazia o pressing para empatar o jogo, atacou muito pelo seu flanco, depois da saida do Paulo Jorge, ficando com o corredor inteiro para subir e para defender, como se tudo isto não chega-se, ainda fez o centro para o golo do Nuno Gomes

Acho, que fez um jogo muito positivo

Anónimo disse...

LF

Em relação ao jogo, penso que houve uma reação do Benfica, que não se esperava:

1º A entrada foi horrivel, fruto de nova mudança de tactica ( 4-2-3-1 ) com o Nuno Gomes mais recuado em relação ao Kikin Fonseca ( sem ritmo competitivo )e com Paulo Jorge, vindo de várias semanas lesionado, parece-me um pouco arriscado para um jogo contra o fcp

2º A reação passa pela entrada do Nuno Assis, jogador com outro ritmo competitivo e a equipa a jogar mais perto do 4-4-2 em losango, como tinha actuado nos ultimos encontros, o que levou a uma subida no terreno por parte de Katsouranis, obrigando o meio campo do fcp a ficar mais perto da sua defesa

A nível individual, penso que Quim é mal batido no 2º e 3º golos, no 2º golo o Quaresma já tinha tentado, falhando por milimetros, era de esperar outra tentativa, o Quim deva ter-se posicionado um pouco mais para fora da baliza, cortando o angulo de remate, do Nelson já falei, o Petit e Katsouranis têm grandes dificuldades a jogar lado a lado, lucrando a equipa com a subida do Grego, o Simão foi normal, o Nuno Gomes teve um baixo rendimento até a entrada do Nuno Assis, libertando-se da posição 10 apareceu mais no jogo, o Mantorras deu vivacidade no ataque

Para mim a VEDETA do jogo foi o Nuno Assis, pois com a sua entrada, mudou todo o jogo

Esta foi a minha visão do jogo

Anónimo disse...

Caro Catn,

Concordo com a sua análise.
De facto o losango parece ser o sistema que melhor funciona no presente momento.
Também destaquei a entrada de Nuno Assis, que (tal como a subida de Kit Kat e Nuno Gomes) fez o Benfica conquistar o meio campo.

Só relativamente ao Nélson é que custo a aceitar a sua passividade perante Quaresma no lance do 2º golo.
Não ponho em causa aquilo que fez antes ou depois, mas esse lance ficou-me na retina como a marca de um dia pouco feliz do lateral benfiquista.