DERBY ETERNO

Sporting e Benfica disputam na próxima sexta-feira mais um derby lisboeta. Na verdade um derby como este nunca é propriamente “mais um”, pois trata-se de um duelo com décadas de história, onde a cada confronto nos surge sempre algo novo para contar, e escrever, desse modo, passo a passo, algumas das páginas mais relevantes da própria história do futebol português. Este jogo não foge à regra, transportando consigo, como sempre, a chama da paixão e da emoção.
Na situação particular em que se encontra o clube da Luz, poder-se-á afirmar com propriedade que este derby é bem mais importante para o Benfica do que para o Sporting. Os encarnados encontram-se a uma distância já de algum modo considerável do lider F.C.Porto (que dá poucos sinais de vacilar), e uma derrota em Alvalade pode inclusivamente deixá-los também demasiado longe do rival lisboeta face a um campeonato com menos quatro jornadas que os dos últimos anos, e onde as equipas mais pequenas atravessam uma impiedosa crise de valores e de finanças, que não parece permitir-lhes pensar em “roubar” muitos pontos aos três gigantes.
Como pano de fundo deste encontro, e a marcá-lo indelevelmente, temos uma ultra-decisiva jornada europeia na qual o Benfica jogará na próxima semana todas as suas últimas esperanças de prosseguir na Champions League, tendo para isso forçosamente de triunfar em Manchester, feito para o qual todas as forças serão poucas. E digo desde já que, como benfiquista, não hesitaria um segundo que fosse entre uma vitória ou outra, caso me pudesse ser dado a optar por vencer em Alvalade ou Old Trafford. À relevância internacional, ao prestígio, às receitas, e também à ...exaltação clubista de uma grande vitória e de um apuramento na Liga dos Campeões, não há rivalidade interna que faça frente. Isso irá certamente pesar na mente e ...nas pernas dos jogadores do Benfica, por muito que a retórica oficial nos possa remeter para o contrário.
Mas jornada europeia à parte, as dificuldades que o Benfica tem sistematicamente sentido diante das equipas mais fortes no que leva a temporada, por vezes com derrotas copiosas (Boavista, Braga, Sporting, Celtic, Porto, AEK, Sion), por contraste com as facilidades com que se desembaraça dos adversários mais frágeis e de cariz menos afirmativo, não podem deixar de constituir motivo de desconfiança perante um jogo desta natureza. O modelo de jogo que Fernando Santos tem implementado na Luz têm-se dado muitíssimo mal quando encontra pela frente equipas muito pressionantes, com as linhas muito próximas e com atacantes móveis e perigosos. Ora haverá poucas equipas que correspondam a este perfil com a exactidão dos comandados de Paulo Bento, que fazem destas justamente as suas armas.
Efectivamente, a forma como os leões ocupam o meio-campo, o modo como a sua linha mais recuada se cola ao sector intermediário diminuindo os espaços, e a frescura da maioria dos seus jovens elementos, são factores suficientes para tirar o sono ao Engenheiro, que não tem no seu plantel muitas soluções para contrariar a realidade evidenciada pelo conjunto encarnado já por várias ocasiões: a extrema dificuldade em libertar-se da forte pressão exercida sobre o espaço intermediário, e a incapacidade para travar os desdobramentos ofensivos do adversário sempre que perde a bola.
Depois há Liedson, que por maior crise concretizadora por que esteja a passar, se parece empertigar sempre que tem pela frente adversários de vermelho vestidos – impressionante como o Benfica é o clube que mais golos sofreu do levezinho ....
Para além desta incompatibilidade táctica do Benfica sempre que enfrenta o Sporting de Paulo Bento (2 jogos 2 derrotas 1-6 em golos), a ausência de um jogador como Fabrizio Miccoli, eventualmente no seu mais alto ponto de forma desde que chegou a Portugal, e com uma importância determinante no processo ofensivo dos encarnados, é inquestionavelmente razão para lamento por parte dos benfiquistas. Tratando-se de um jogador extremamente rápido a pensar e a executar, a sua utilidade no jogo com estas características - como o de Manchester, seguramente sem tanta posse de bola como tem acontecido na Luz diante de adversários mais humildes – poderia ser determinante.
Se juntarmos a estes factores a desinspiração de Nuno Gomes nos últimos tempos diante das balizas, e a tradicional postura competitiva do Sporting sempre que defronta o seu grande rival, e faz desse jogo invariavelmente o jogo do ano (algo a que este Benfica, neste momento, não pode, de todo, corresponder), temos um quadro de problemas que acaba por se consubstanciar na atribuição de uma elevada dose de favoritismo aos leões.
É pois assim que partimos para este desafio, na certeza porém de que um derby é, por definição, fértil em surpresas - como de resto sucedeu na Luz na temporada passada, em momento de grande empolgamento benfiquista e de alguma nebulosidade sportinguista, partida em que os leões levaram a melhor por 1-3.
Paulo Bento deverá em princípio fazer alinhar Ricardo, Miguel Garcia, Tonel, Anderson Polga, Tello, Custódio, Carlos Martins, João Moutinho, Nani, Liedson e Alecsandro (ou Djaló se recuperar).
Fernando Santos deverá ter neste momento apenas algumas dúvidas relativamente a quem deva render Miccoli no onze. Karagounis, Karyaka ou mesmo Mantorras são as hipótese que saltam à vista. A meu ver qualquer uma das duas primeiras é válida, oferecendo até uma ligeira dose de consistência acrescida, e libertando eventualmente Simão para funções mais exclusivamente ofensivas. Santos saberá melhor que ninguém como estão o grego e o russo, parecendo, pelos últimos dados disponíveis, ser Karyaka quem está melhor colocado para a titularidade. Na defesa, não sendo o Sporting uma equipa particularmente perigosa no jogo aéreo, julgo que Ricardo Rocha poderá ser uma opção mais lógica do que Anderson. Assim o Benfica poderá alinhar com Quim, Nélson, Luisão, Ricardo Rocha, Léo, Petit, Katsouranis, Nuno Assis, Karyaka, Nuno Gomes e Simão.
O árbitro Jorge Sousa, estreante em grandes clássicos, não tem um passado muito abonatório em jogos do Benfica. Recordo por exemplo um penálti assinalado em Guimarães há dois anos num lance em que Luisão nem tocou no adversário (na circustância Romeu) e que ia custando dois importantes pontos ao Benfica na sua rota para o título. Veremos o que sucede em Alvalade.
Por agora resta desejar um grande jogo – e o futebol português bem precisa deles – com emoção e golos, sem casos e...uma vitória do Benfica. Até porque a Liga resultará claramente empobrecida caso os encarnados se vejam desde já afastados da luta pelo título.
VEDETA DA BOLA não irá estar em Alvalade, pois os preços dos bilhetes disponibilizados para não sócios do Sporting cifra-se na módica quantia de 75 euros, mais do que uma cadeira num camarote do São Carlos...

VEDETA DA JORNADA

RONNY: Terão existido na jornada exibições individuais mais completas, mas um golo daqueles a dois minutos do final da partida – pelos vistos os leões têm guardado toda a sorte para a prova interna – vale bem a distinção. Mais um jovem sportinguista a brilhar nesta Liga.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Dos vários casos da jornada, nenhum influenciou a classificação.
Na Luz houve um penálti perdoado ao Marítimo ainda na primeira parte, e uma expulsão discutível no início da segunda - segundo os critérios daqueles que clamam vermelhos por tudo e por nada, esta expulsão terá que ser considerada justíssima, para os que, como eu, entendem que o futebol é uma luta dura onde não cabem pieguices, fica a dúvida, e veja-se a propósito o que se passou com Drogba no Manchester-Chelsea.
No Restelo o golo portista foi absolutamente legal, não havendo fora de jogo de Bruno Alves. No lance mais polémico da partida, fica a clara sensação de que a bola terá mesmo entrado na baliza do Belenenses, embora o movimento de Postiga possa induzir a conclusão contrária. Como o F.C.Porto ganhou, não merece a pena perder muito tempo com a discussão dum lance que, nada tendo a ver com o da Luz há dois anos atrás (aquele bem mais claro que este), só uma câmara no enfiamento da linha de golo permitiria apurar com total exactidão.
Na Figueira a polémica prende-se coma existência ou não de falta no lance que dá origem ao golo. Depois de ver várias repetições, parece-me que o livre é bem assinalado, mau grado a habitual habilidade do protagonista nas suas quedas aparatosamente encenadas. Desta vez contudo, nada a opor à decisão de Paulo Costa.

A classificação fica então assim ordenada:

SPORTING 27
F.C.Porto 26
Benfica 19 (-1 jogo)

KIT KAT

Após importante vitória europeia e em vésperas de uma dupla de jogos que poderá simplesmente decidir toda a temporada benfiquista, a equipa de Fernando Santos não vacilou na recepção ao Marítimo obtendo uma vitória tão magra quanto justa frente a um adversário que, como este Benfica tanto gosta, pouco pôs à prova as suas debilidades defensivas.
Em condições normais este seria jogo para goleada (os 3-0 do costume...), mas uma interminável série de ocasiões de golo perdidas inviabilizou essa possibilidade, deixando no ar até alguma inquietação quando nos instantes finais os madeirenses tentaram a sua sorte, sempre sem grande critério diga-se, mas com algum susto para os presentes na bancada da Luz.
Até sair lesionado (que contratempo terrível...) Miccoli foi a unidade em maior evidência na turma da Luz. O italiano está(va) em excelente momento de forma, beneficia de grande simpatia entre os adeptos, e transmite uma alegria ao jogo a que muito devem os melhores momentos deste Benfica no plano ofensivo. Durante toda a primeira parte, sob a sua batuta, Nuno Gomes, Anderson e Katsouranis foram desperdiçando ocasiões, acabando por ser um defesa contrário a fazer aquilo que os jogadores do Benfica pareciam incapazes – colocar a bola dentro da baliza.
Ninguém esperava que muito perto do intervalo, num grande pontapé de fora da área, Marcinho restabelecesse a igualdade, o que espalhou algum nervosismo pela Luz – quando será que os adeptos compreendem as dramáticas consequências dos seus estúpidos assobios, na equipa que dizem apoiar.
No segundo período temeu-se que os sucessivos falhanços junto da baliza maritimista, e sobretudo a lesão de Miccoli, pudessem abrir a porta aos fantasmas com que o onze de Fernando Santos tem convivido esta temporada. A expulsão de Marcinho (o melhor jogador do Marítimo) foi determinante para afastar esse perigo, dando novamente ao Benfica o tónico para insistir ainda mais no ataque, e abatendo em larga medida a força anímica com que o Marítimo saíra para a segunda parte.
O golo de Katsouranis acabou por surgir com naturalidade, ficando a equipa encarnada ainda a dever mais um ou outro a uma plateia com um grau de exigência demasiado elevado e algo desfasado da realidade da equipa e do futebol actual.
Em termos individuais o destaque vai mais uma vez para aqueles que têm sido os grandes artífices do bom futebol que o Benfica tem exibido em muitos dos jogos desta temporada: Simão e Miccoli. Se o italiano estava a ser o melhor em campo até à altura de sair lesionado, o capitão agarrou bem o testemunho e foi dele que partiu a reacção que levou o Benfica à vitória. Katsouranis por sua vez continua a facturar, sendo já o melhor marcador encarnado - ontem foi mais uma vez decisivo.Pela negativa há que realçar os inaceitáveis momentos de desconcentração de Nélson, que desta vez não tiveram consequências mas que não se poderão repetir nas próximas e decisivas partidas, e ainda a dramática falta de confiança que assola Nuno Gomes, e para a qual a resposta dos associados é justamente a que mais contribui para a instabilidade do seu (?) avançado: o apupo.
Pontuação: Quim 3, Nelson 2, Anderson 3, Ricardo Rocha 3, Léo 3, Petit 3, Katsouranis 3, Nuno Assis 3, Simão 4, Miccoli 4, Nuno Gomes 2, Mantorras 1, Karagounis 3 e Manu 1.
Melhor em campo: Simão Sabrosa.
João Ferreira perdoou uma grande penalidade aos insulares ainda na primeira parte, mas no resto da partida realizou um trabalho tranquilo (ainda não tive oportunidade de ver o lance da expulsão na televisão).
NOTA: Em dia de aniversário, e aproveitando os convites que a direcção encarnada me disponibilizou para a ocasião, decidi levar toda a família ao estádio. Este foi portanto também um jogo muito especial para mim.

SORTES DIFERENTES

F.C.Porto e Sporting tiveram sortes diferentes nesta penúltima jornada da liga milionária. Enquanto os portistas tiveram um desempenho brilhante em Moscovo - com extraordinárias exibições de Quaresma e Lisandro Lopez -, construindo um resultado que os coloca a um pequeno passo da fase seguinte (só uma derrota em casa com um Arsenal sem Henry conjugada com uma vitória do CSKA em Hamburgo afastaria os dragões), os leões foram derrotados em Milão saindo assim da competição, restando-lhe agora conservar o terceiro lugar do grupo (para o que não poderão perder com o Spartak) seguindo desse modo para a Taça Uefa.
Do jogo de Milão fica a nota para a infelicidade que se abateu sobre a equipa de Paulo Bento, vendo sair por lesão Caneira e Abel ainda na primeira meia hora. O Inter é claramente uma equipa de outro campeonato, e no primeiro tempo bastou-lhe uma ocasião para se colocar em vantagem. Na segunda parte os italianos fecharam-se e esperaram pelo Sporting para explorar o contra ataque, mas a verdade é que a equipa leonina também nunca foi capaz de causar perigo, faltando-lhe confiança, experiência e...Liedson. A equipa de Alvalade sai assim mais uma vez logo na primeira fase de uma competição verdadeiramente maldita para as suas cores.
Depois desta jornada estão já apurados para a fase seguinte os seguintes clubes: Chelsea, Bayern de Munique, Inter de Milão, Liverpool, PSV Eindhoven, Valência, Olympique de Lyon, Real Madrid, Celtic de Glasgow e A C.Milan.
Na luta pelo apuramento estão por sua vez: F.C.Barcelona, Werder Bremen, A S.Roma, Schaktior Donetsk, Manchester United, S.L.Benfica, CSKA Moscovo, Arsenal, F.C.Porto, Lille OSC e AEK de Atenas.Eliminados estão: Levski Sófia, Spartak de Moscovo, Sporting, G.Bordéus, Galatasaray, Olympiakos, Steaua Bucareste, Dinamo de Kiev, F.C.Copenhaga, Hamburgo S.V.e Anderlecht.

NUVEM DE GLASGOW ENSOMBROU NOITE DE LUZ

Quando ao intervalo do jogo de ontem na Luz o Benfica vencia categoricamente o F.C.Copenhaga, e em Glasgow Celtic e Manchester permaneciam empatados a zero, tudo parecia conjugar-se para uma noite perfeita de Liga dos Campeões, capaz de inundar de esperança o horizonte benfiquista com vista à última jornada e a uma eventual passagem aos oitavos de final da prova rainha do calendário europeu e mundial. Um empate em Glasgow podia até permitir ao Benfica apurar-se mesmo perdendo em Old Trafford, caso os escoceses não fossem além do mesmo resultado na Dinamarca.
Todavia, em futebol os resultados não são aquilo que poderiam ser, mas sim aquilo que fria e objectivamente são. Nakamura marcou um golo fabuloso na conversão de um livre directo a nove minutos do final e, pior que isso, Louis Saha - que havia marcado na Luz - desperdiçou uma grande penalidade já no período de descontos do jogo do Celtic Park, deixando o Benfica com uma tarefa tremendamente difícil – vencer o Manchester United em sua casa – para se poder classificar para a fase seguinte.
Pode parecer estranho começar a crónica dum jogo do Benfica falando do que se passou a milhares de quilómetros de distância, mas a verdade é que o resultado do jogo de Glasgow era determinante para as contas do grupo, pelo que o Benfica, por um penálti falhado por outra equipa, passa de uma situação de algum conforto para um nível de hipóteses quase residual – ficando até de algum modo pior do que estava anteontem - por mais optimismo que dirigentes, técnicos e jogadores queiram transmitir uns aos outros. Esta realidade, conjugada pela pobre exibição encarnada nos segundos quarenta e cinco minutos da partida de ontem, estará em grande parte na origem do ambiente de pouco entusiasmo que se vivia à saída do estádio.
Apesar de tudo, olhando à parte meio cheia do copo, uma vitória europeia é uma vitória europeia, o Benfica garantiu pelo menos a repescagem para a Taça Uefa, e manteve-se apenas dependente de si próprio à partida para a última jornada do grupo, o que dada a situação com que saiu da primeira volta até se poderá considerar positivo.
Pelo que ontem se viu, salvaguardando desde já o integral cumprimento da obrigação por parte dos jogadores encarnados, não se pode deixar de lembrar o travo amargo dos dois pontos perdidos em Copenhaga no primeiro jogo. De facto, os dinamarqueses mostraram grandes limitações, nunca discutiram o jogo ou o resultado, foram dóceis defensiva e ofensivamente, e só não foram amplamente goleados porque o Benfica na segunda parte, com 3-0 no marcador, decidiu adoptar uma postura de repouso activo. A equipa da Luz até nem começou muito bem o jogo deixando notar alguns laivos de nervosismo, próprios aliás de quem foi (inaceitavelmente, diga-se) assobiado à entrada para o aquecimento, de quem foi (idem idem) criticado na praça pública pelo próprio presidente, de quem se viu sem o seu director desportivo, envolvido em conturbados processos na esfera da justiça, e de quem vinha de uma inapelável derrota em Braga. Ontem porém, a sorte até parecia querer estar com os encarnados que, nos dois primeiros remates à baliza de Christiansen, marcaram outros tantos golos, e quase sentenciaram desde logo para quem iriam os três pontos em disputa.
Até final da primeira parte a equipa galvanizou-se, partiu para cima do adversário, e acabou por fazer o suficiente para merecer a sorte que tivera, para justificar os três pontos, e para lavar a sua face do triste desempenho de Braga. Nesse período os encarnados conseguiram mais um golo – pelo irrequieto Miccoli -, e construíram pelo menos mais duas claras ocasiões para marcar, deixando água na boca para o que poderia suceder no segundo tempo.
Depois do intervalo, como já disse, de forma calculada ou não, a verdade é que o Benfica praticamente deixou de jogar, mau grado o facto de ter ainda criado duas boas situações de finalização, desperdiçadas por Nuno Gomes e Simão respectivamente.
Nos últimos momentos o golo nórdico acabou por ser um justo castigo para a enfadonha segunda parte do Benfica, numa fase em que as notícias de Glasgow apontavam já para a desnecessidade de pensar na diferença de golos.
Para pensar em discutir o jogo de Manchester, ou pelo menos para de lá sair de forma digna e honrada, o Benfica terá ainda muito que trabalhar no pouco tempo que já lhe resta. Estes modestos dinamarqueses não foram um teste conclusivo, e o que já lá vai de temporada deixa-nos muito pouco tranquilos face, sobretudo, à capacidade do Benfica travar o futebol atacante dos ingleses.
Este modelo de jogo tem futuro mas não tem ainda presente, e o Benfica precisa de ganhar em Alvalade e em Old Trafford, dentro das próximas duas semanas, se não quer ficar desde já arredado dos dois principais objectivos da época. Talvez uma reestruturação do meio-campo faça sentido nesta altura, eventualmente com a inclusão de Beto, um mal amado de Fernando Santos, mas que com Koeman foi de uma enorme utilidade neste tipo de compromissos em que o Benfica tem prioritariamente de saber defender para poder ganhar espaços para o contra-ataque.Pontuações: Quim 3, Nelson 3, Anderson 3, Ricardo Rocha 3, Léo 4, Petit 3, Katsouranis 3, Nuno Assis 3, Simão 4, Nuno Gomes 3, Miccoli 4, Karyaka 1, Karagounis 2 e Mantorras 1.

VEDETA DO JOGO

FABRIZIO MICCOLI: Dois golos num jogo da Champions são sempre motivo de nota. Para além disso o italiano teve à beira de concretizar um terceiro (que seria o mais bonito), não se ficando por isso e participando em diversos lances de ataque da equipa, até que saiu para os aplausos (e para descansar...).

ESQUECER TUDO E...GANHAR!

Terça Feira frente ao F.C.Copenhaga só a vitória interessa.
Força Benfica, a caminho da fase seguinte !

VEDETA DA JORNADA

RUI PATRÍCIO: Há 24 horas atrás era completamente anónimo mas a lesão de Ricardo acabou por lhe dar uma oportunidade que soube aprovveitar para brilhar. Garantiu dois pontos ao Sporting, mostrando-se, para lá do penálti, extremamente seguro, o que é de realçar num jovem que se estreava no futebol profissional.
Ricardo é dono do lugar, mas pelo que se viu, e tendo em conta a sua planta física, o Sporting não tem motivos para se preocupar com o futuro da sua baliza.

ENSAIO SOBRE A HOSTILIDADE

Ontem, ainda no calor de mais uma derrota, deixei aqui expressa a minha mágoa por verificar insistentemente que os adversários do Benfica no plano nacional, sejam quem forem, denotam invariavelmente um tónico motivacional amplamente acrescido e um zelo competitivo sem paralelo, ao contrário do que sucede quando têm pela frente Sporting e sobretudo F.C.Porto.
Hoje, já mais a frio, voltei a reflectir sobre esta questão que não sendo nova se vai tornando, a meu ver, cada vez menos compreensível. Pior que isso, o clube da Luz persiste em dar mostras de não saber lidar adequadamente com ela.
Observemos por exemplo o que acontece quando o F.C.Porto (também, em menor grau, o Sporting), campeão nacional em 3 das últimas 4 épocas, e em 14 das últimas 22, para além das várias vitórias internacionais, se desloca à generalidade dos estádios da Liga Portuguesa. Invariavelmente depara-se com não mais de meia casa (frequentemente à segunda feira ou ao domingo à noite), da qual aliás uma parte significativa corresponde a Super Dragões e afins, e não passa pela cabeça de ninguém esperar que os adeptos contrários passem todo o tempo a vociferar impropérios para com o clube e seus jogadores, mesmo se o presidente é arguido num processo de corrupção desportiva e procede à afirmação do clube por via da arrogância e do cinismo. Por outro lado, a equipa adversária parece invariavelmente intimidada, sendo paradigmático o caso dos jogadores emprestados pelo próprio clube portista que, com raríssimas excepções, quase aparentam medo de afrontar a casa mãe. O resultado de tudo isto resume-se a vitórias fáceis, com ou sem auto-golos, mas invariavelmente sem a tensão a que um jogo fora de casa de uma equipa campeã obrigaria, em qualquer ponto do globo onde se jogue futebol. Sei do que estou a falar, pois já assisti a diversos jogos do F.C.Porto em Setúbal, Restelo ou Amadora (excluindo naturalmente Luz e Alvalade), imaginando o que acontece mais a norte onde, por maioria de razão, o ambiente será provavelmente ainda mais hospitaleiro.
E o Benfica ?
Os encarnados, onde quer que se desloquem, para além da numerosa falange de apoio que os acompanha, deparam com estádios a fervilhar de tensão e mesmo ódio para com as suas cores, com constantes cânticos insultuosos de adeptos contrários que parecem passar todo o ano a preparar aquele momento, mas sobretudo com jogadores motivadíssimos, exprimindo em combatividade, dureza e organização, uma atitude competitiva que não se vislumbra em mais nenhuns jogos da nossa Liga, quaisquer que sejam os protagonistas. Os jogadores emprestados pelo clube da Luz, procuram natural e justamente aproveitar esses momentos para mostrar potencialidades que os possam fazer regressar (e isto é que é normal). Os erros de arbitragem a favor dos benfiquistas são objecto de veementes indignações de jogadores e adeptos adversários, incrementando também dessa forma a sua maior exploração mediática, ao contrário do que acontece quando por exemplo o F.C.Porto é beneficiado (veja-se ainda ontem). Isto acontece desde há vários anos, mesmo nas dez temporadas em que o Benfica passou ao lado dos títulos e na maioria das quais as suas candidaturas não resistiam ao Natal.
Para além de tudo isto – ou em parte também na sua génese -, a pressão mediática em torno dos encarnados não tem paralelo, adicionando constantemente um gigantesco peso sobre os ombros dos jogadores, crucificando-os quando cometem erros, ou deles fazendo galácticas vedetas sempre que dois jogos seguidos lhes correm bem.
Ora o Benfica, institucional e culturalmente, não se tem preparado para contrariar estes circunstancialismos, deixando-se quase sempre envolver e fragilizar por eles, perdendo jogos e pontos nos locais em que vê os seus principais adversários encontrar autênticas passadeiras de vassalagem, onde arquitectam de modo triunfal as suas vitórias e títulos.
Nada disto pressupõe acusações de corrupção ou favorecimento. Embora as suspeitas existam (nomeadamente e desde há muito no caso dos jogadores), não é por aí que quero entrar. Trata-se, e isso parece-me factual, de um estado de alma da nação lusitana que faz com que o Benfica seja, mesmo quando não é ganhador, um clube tremenda e profundamente odiado em toda a parcela do país que nele não se revê, ao contrário de outros que, com muito menos adeptos, são objecto de uma quase indiferença (ou reverência) por onde se deslocam.
A pergunta que se impõe é: como lidar com isto ?
A resposta não é fácil pois afastando as nuvens sobre eventuais actos de corrupção ligados a esta situação teremos que concluir que se trata de algo tão arreigado na cultura desportiva do nosso país como, no outro lado da moeda, também o é a popularidade que faz do clube encarnado o maior do mundo em número de sócios.
O que o Benfica terá que fazer é preparar-se institucional e desportivamente para poder extrair de toda a animosidade que enfrenta, a força mental e motivacional que lhe permita reverter o clima de tensão a seu favor. Isso passa desde logo, para além de um maior esforço de mentalização, por uma política de contratações orientada genericamente para padrões competitivos hostis. Por outras palavras, de nada serve ao Benfica reunir o maior número de internacionais "A" pelos seus países no seu plantel, se estes não forem, talentosos ou não, jogadores de “faca na liga”, preparados para uma guerra com trinta batalhas e para sair com os três pontos envoltos em "sangue suor e lágrimas", dos terrenos onde enfrentam autênticas legiões combatentes empenhados em deixar ali mesmo a vida se tal for necessário para impedir as odiadas águias de triunfar.
Este Benfica, tão artístico quanto macio, não tem decididamente essa natureza, motivo pelo qual muito dificilmente se poderá sagrar campeão nacional mesmo tendo (ninguém me afasta deste ponto de vista) o melhor plantel de entre os três grandes, com uma defesa de qualidade a nível europeu, um meio campo com várias soluções e quatro pontas de lança todos internacionais "A" pelos seus países.
O que é facto é que assim, dentro desta estranha mentalidade, ao contrário da bela Liga dos Campeões, os campeonatos nacionais começam a tornar-se enjoativos e cansativos.
Que me perdoem o desabafo.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Depois de muitas jornadas neutras, há que retirar dois pontos ao F.C.Porto em virtude do seu primeiro golo ter sido inequivocamente irregular. No Funchal o Sporting viu ser-lhe mal assinalada uma grande penalidade, mas Rui Patrício resolveu o problema.
Depois desta jornada a classificação apresenta-se assim:

SPORTING 24
F.C.Porto 23
Benfica 16 (-1 jogo)

MENTIRA NO DRAGÃO !

Com uma exibição desinspirada, o F.C.Porto garantiu os três pontos perante a Académica, com alguma dose de sorte, mas sobretudo com a decisiva ajuda da equipa de arbitragem, que deixou passar em claro o nítido fora-de-jogo de Hélder Postiga no lance do primeiro golo.
É aliás elucidativa sobre aquilo que têm sido os últimos anos do futebol português, a forma como, pelo menos nas entrevistas rápidas do final da partida, nem técnico e jogador da Académica, nem entrevistador, tenham sequer tocado no assunto, quando noutros estádios e com outros emblemas, um lance daquele tipo originaria veementes protestos para toda a semana.
Outro dado merecedor de análise que esta partida nos forneceu foi a estranhíssima exibição do jovem Hélder Barbosa, uma das principais unidades da Académica, mas que neste jogo se limitou a andar pelo campo e a escorregar sucessivas vezes, entupindo muito do jogo de ataque da sua (?) equipa. Sempre defendi, ao contrário da opinião mais corrente, que jogadores emprestados não deveriam defrontar quem lhes paga. Verdade desportiva é saber-se que em cada equipa ninguém tem a menor dúvida sobre o lado onde está.
Fica também a curiosidade sobre aquilo que se vai ler e ouvir nos próximos dias sobre uma entrada verdadeiramente assassina de Lucho Gonzalez ainda na primeira parte. Especialmente vindo daqueles que ainda não se calaram com a lesão de Anderson.
Como nem tudo foi nebuloso neste jogo, tenho que salientar a segura exibição do titular da selecção brasileira Helton, mais um golo de Postiga e exibições bem conseguidas de Meireles, Pepe e Quaresma.

QUEM ÉS TU BENFICA ?


Não há rodeios possíveis. O Benfica fez um jogo miserável!
Já não é a primeira vez, nem a segunda, que a equipa encarnada dá mostras de uma inabilidade tremenda sempre que se depara com equipas pressionantes e minimamente imaginativas no ataque. Com Sporting, F.C.Porto, Celtic, Sion, Boavista e agora Sp.Braga, os encarnados sofreram sempre três golos, mostrando enormes carências nas transições defensivas, falta de capacidade de sofrimento e desnorte competitivo. Se perante adversários frágeis este Benfica consegue realizar exibições plasticamente bem conseguidas e resultados robustos, sempre que se depara com um conjunto mais forte e de maior ambição atacante espalha-se ao comprido, evidenciando fragilidades impróprias para um candidato ao título.
A primeira meia hora foi inqualificável. Nenhum lance atacante, desastre defensivo, um golo ridículo sofrido logo aos sete minutos (começa a ser lícito equacionar um regresso de Moreira), nenhuma capacidade de choque, perdas de bola sucessivas.
O golo de Ricardo Rocha surgiu completamente contra a corrente do jogo, sendo esse um golpe de sorte que nem mesmo assim o Benfica conseguiu depois aproveitar ou fazer por merecer. À beira do final do primeiro período nova oferta, desta vez de Nelson, muita delicadeza de Ricardo Rocha na abordagem a Maciel, e a bola novamente no fundo da baliza de Quim. Suspeitei de imediato que o jogo tivesse ficado aí resolvido, e a segunda parte viria a dar-me razão.
Mesmo nos momentos em que o Benfica teve mais posse de bola, a sua eficiência foi praticamente nula. Houve vários jogadores a exibirem-se a níveis francamente baixos - Nélson, Miguelito, Katsouranis e Nuno Gomes, este sentindo os golos falhados na última quarta-feira sem que desta vez se possa sequer queixar de azar -, e a equipa colectivamente nunca se entendeu com a pressão dos bracarenses, mais frescos, mais motivados e mais organizados.
O terceiro golo surgiu com naturalidade, e se o jogo durasse mais uns dez minutos provavelmente o resultado ainda teria engordado.
Fica também a perplexidade acerca da abissal diferença de prestações dos bracarenses em Alvalade, na anterior jornada, e hoje. É verdade que houve entretanto mudança de treinador, mas cada vez se torna mais evidente que o Benfica encontra nos seus adversários uma estranha e incompreensível motivação suplementar – até ao nível do próprio público – que muito o penaliza nas contas do campeonato. Prova da sua grandeza, mas também de um certo ambiente, até mesmo no espaço mediático, que favorece essa atitude.
Benquerença também puxou dos seus “galões”, poupando pelo menos dois livres perigosos aos bracarenses, numa fase em que um eventual 2-2 podia ter mudado o rumo dos acontecimentos (numa delas Petit ainda viu o cartão amarelo), tendo já antes poupado a expulsão a Maciel.
Depois de uma noite assim, as pontuações não podem ser generosas: Quim 1, Nelson 1, Anderson 1, Ricardo Rocha 2, Miguelito 0, Petit 2, Katsouranis 0, Nuno Assis 2, Simão 1, Nuno Gomes 0, Miccoli 2, Karagounis 0 e Paulo Jorge 0
Melhor jogador do Benfica, ou com mais rigor, o menos mau: Miccoli (apesar de longe, muito longe, das últimas exibições).
Veremos na terça-feira até que ponto este resultado, e sobretudo esta exibição, vai pesar numa equipa que, aos inúmeros azares que tem coleccionado, junta também uma tendência quase genética para o abismo, parecendo por vezes pensar que só com as camisolas e com um passeio bem disposto pelo relvado consegue ganhar jogos e pontos.
Assim se fica a nove pontos (!) da liderança...

O MAU DA FITA

Quando José Veiga chegou ao Benfica, ninguém suspeitaria que pouco tempo depois se viesse a tornar numa peça tão delicada e imprescindível da máquina encarnada.
Dele se sabia ser sócio do F.C.Porto, ter recebido um “Dragão de Ouro”, ter sido presidente da Casa do F.C.Porto no Luxemburgo, amigo próximo de Pinto da Costa, ter festejado com champanhe a derrota do Benfica na última final da Taça dos Campeões em que esteve presente frente ao Milan, ter desviado Paulo Sousa do clube da Luz para Alvalade, onde viria a colocar também Mário Jardel na altura em que o brasileiro ainda valia títulos. Digamos eufemisticamente que, para cartão de visita não se apresentava lá muito bem servido, sendo obviamente com grande desconfiança que os benfiquistas o olharam desde logo, desconfiança essa que, na verdade, nunca se chegou a dissipar.
Já com esta sua cara de cristão-novo, muitas foram também as atitudes de pouca cortesia que deixaram os mais pudicos indignados. A última das quais foi aquele irreflectido e pouco educado gesto feito no banco do estádio do Dragão, pois por muito que tenha ouvido, nada justificaria, sobretudo num interveniente no jogo com as responsabilidades de Veiga, a eles reagir.
Estes e aqueles aspectos fazem de José Veiga uma figura profundamente antipática, oscilando a sua avaliação entre o detestável (para ao adversários) e o tolerável (para os benfiquistas mais alinhados), que nem mesmo com os seus constantes e acesos ataques ao F.C.Porto e a Jorge Nuno Pinto da Costa, lhe conseguem achar muita graça.
Poucos adeptos do futebol gostarão dele. Eu não fujo à regra, e confesso que não era bem o tipo de pessoa que eu gostaria de ter como visita de casa.
Só que nada disto é relevante quando se analisa friamente o seu desempenho profissional à frente do futebol encarnado.
José Veiga, exercendo as funções de director-geral da SAD encarnada tem feito um excelente trabalho.
Jogadores, técnicos e demais profissionais – afinal de contas quem com ele trabalha diariamente – estão-se nas tintas para o facto de ele ter sido portista ou outra qualquer coisa. Simão Sabrosa fez-se jogador no Sporting, Nuno Gomes tinha como ídolo de infância o avançado portista Fernando…Gomes, Ricardo Rocha era portista, Nuno Assis sportinguista, Fernando Santos (tal como por exemplo Rodolfo Moura) trabalhou nas Antas e em Alvalade, João Moutinho, Nani, Vítor Baía, Hélder Postiga, Paulo Bento e Jesualdo Ferreira eram todos benfiquistas de pequenos servindo agora os rivais, o que prova que o profissionalismo é algo que nada tem que ver com simpatias clubistas de infância, nem com elas interferem quando chega a hora de fazer do futebol uma vida bem ou mal sucedida. Pensando bem, assim aconteceria também com qualquer um de nós, simples adeptos, se estivessem em causa rendimentos mensais de muitos milhares de euros, e deles dependesse o nosso bem estar e o futuro da nossa família.
Veiga é um profissional do qual se diz ser o primeiro a chegar e o último a partir, que dorme não mais de cinco horas, passando dia e noite a trabalhar para o Benfica – chega mesmo a dirigir-se para o estádio de madrugada no regresso de viagens internacionais para preparar o dia seguinte -, que está sempre próximo de jogadores e técnicos, sendo para eles um verdadeiro anjo da guarda – não esqueçamos que enquanto agente representava Moreira, Quim, Ricardo Rocha, Petit, Nuno Gomes e Simão entre outros -, que revela uma inesgotável capacidade de solucionar todos os aspectos logístico-organizativos em redor da equipa, libertando-a para fazer somente aquilo que sabe – jogar futebol –, que tem um aprimorado conhecimento dos mercados internacionais, uma enorme capacidade negocial e uma rede de contactos ao mais alto nível com muitos dos maiores clubes europeus e, “last but not least”, que é uma figura cuja autoridade ninguém contesta no balneário, sabendo fazer respeitar com rigor e sem concessões todas as alíneas de uma conduta profissional e disciplinar a que um grupo de futebolistas de topo está obrigado (por exemplo ao grego Fyssas, que reagiu mal à sua substituição na final da taça de 2005, terá dito de imediato para guardar bem a camisola pois nunca mais vestiria nenhuma igual).
Para além destes aspectos, julgo que qualquer observador desapaixonado lhe fará a justiça de o considerar um homem corajoso na defesa do Benfica, assumindo de frente e sem rodeios a causa do clube que lhe paga, sempre que este, ou algum elemento seu, se vê de alguma forma atacado (seja por fora ou mesmo por dentro, como também já sucedeu).
Assim se entendem os rasgados elogios que os ex-treinadores Trappatoni e Koeman, bem como muitos dos principais jogadores lhe têm feito. Assim se entende também como será difícil a Luís Filipe Vieira (a quem Veiga tem poupado muito trabalho pesado) encontrar alguém com este perfil profissional no nosso país.
Não deixando saudades entre os adeptos, a ausência de José Veiga vai provavelmente fazer-se sentir na estrutura do futebol benfiquista, o que, numa fase decisiva da temporada, não pode deixar de ser visto com algum pessimismo por quem procure avaliar friamente o problema.
Se pelo contrário, o nosso entendimento privilegiar o lado lúdico-romantico do futebol, por vezes pouco compatível com as vitórias que tanto nos fazem felizes, então soltemos um sonoro: que se lixe !
Herói ou vilão ? A história não vai ficar por aqui. Caso os problemas que o afectam sejam mais graves do que agora se supõe, Veiga poderá ter a sua carreira profissional comprometida. Caso contrário, poderemos tê-lo no Benfica dentro de muito pouco tempo, regressado em ombros de forma apoteótica.
Esperemos então pelos próximos episódios, na certeza de que Veiga, mau grado os problemas que enfrenta, está a conseguir o milagre de sair deste caso com a sua imagem fortemente reforçada junto dos benfiquistas.
Se isso é bom ou mau, o futuro o dirá.

EXTREMOS DE OURO

Não foi necessária uma grande exibição para Portugal somar três pontos frente a um muito frágil Cazaquistão, na noite de ontem em Coimbra.
Scolari apresentou o onze que se esperava, atribuindo a Raul Meireles o papel habitualmente desempenhado por Costinha, e a Paulo Ferreira as funções de lateral esquerdo. Tonel estreou-se como central, o que face ao menor ritmo de Jorge Andrade não constituiu surpresa.
A equipa nacional marcou cedo, e isso era tudo o que precisava para se tranquilizar e soltar a muito maior valia técnico-táctica dos seus jogadores, que pelo tempo fora criaram as ocasiões suficientes para um resultado bem mais robusto do que aquele que se veio a verificar. Os Cazaques só perto do final da partida foram capazes de causar algum perigo junto da baliza de Ricardo, e nunca pareceram acreditar em muito mais do que evitar uma humilhante goleada, o que, diga-se, acabaram por conseguir.
Foi assim um jogo sem grandes histórias para contar, além dos golos e das múltiplas oportunidades perdidas.
Destaque para as exibições de Simão Sabrosa e Cristiano Ronaldo - enquanto esteve em campo marcou um golo soberbo e quase levantou o estádio num outro lance espectacular a que o guardião contrário correspondeu com a defesa da noite -, bem como para as entradas muito positivas de Quaresma e Carlos Martins, ambos cheios de vontade de mostrar serviço. Pela negativa todo o realce vai para a noite infeliz de Nuno Gomes que, embora muito batalhador e rematador, não conseguiu marcar em nenhuma das muitas oportunidades de que dispôs, algumas delas bem flagrantes.
Portugal segue assim na luta por um lugar no Euro 2008, voltando à competição apenas daqui a quatro meses.

VEDETA DO JOGO

SIMÃO SABROSA: Na esteira daquilo que têm sido as suas performances no clube, Simão entrou a todo o gás nesta partida, e pelo tempo fora foi sem dúvida o mais constante de todos os que pisaram o relvado do Municipal de Coimbra. Dois golos num jogo internacional são sempre motivo de destaque, mas Simão não se limitou a isso, criando a partir dos seus pés várias outras oportunidades, que os colegas (sobretudo Nuno Gomes) foram desaproveitando.
Conforme tinha já dito neste espaço, Simão dá sinais cada vez mais evidentes de poder muito bem estar a caminho da sua melhor época de sempre.

FALTA DE ESPELHOS

Comparar Eusébio (um dos melhores jogadores do Mundo de todos os tempos) com Anderson (uma mera promessa, cujo curriculo é um golo e duas bolas ao poste), ou acusar João Alves de ser um treinador fracassado (depois de ter feito excelente carreira no Estrela da Amadora, onde levou o clube ao cume da sua história, e no Boavista), é absolutamente natural em quem nada percebe de futebol.
De facto existem intelectuais e pseudo-intelectuais. Estes últimos são justamente aqueles que falam sobre tudo mas de nada percebem, ainda que com o dom da oratória ou uma escrita fluente quase pareçam por vezes possuir uma credibilidade que de facto não têm.
Porque não se olham ao espelho ?

TRAUMA DE INFÂNCIA

O Sporting é um grande clube nacional. O seu historial, o seu palmarés, e a grande quantidade de adeptos espalhados por todo o país, fazem dele uma referência no desporto português, e uma entidade respeitada no panorama internacional. Tem neste momento uma equipa jovem e forte, um treinador ambicioso, estando presente na Liga dos Campeões ainda com todas as hipóteses de apuramento.
Por tudo isto, não se percebe que o clube de Alvalade insista em se assumir constantemente como uma espécie de negativo do Benfica, algo que, em nada afectando o rival, empequenece os leões aos olhos de qualquer observador desapaixonado.
Vem isto a propósito das declarações do dirigente leonino Meneses Rodrigues num encontro com um núcleo de sportinguistas, que para além de se limitarem praticamente a ataques aos rivais lisboetas, algo verdadeiramente incompreensível (e impossível de suceder no inverso), incorrem em erros de facto que importa desmontar.
O Benfica procedeu a uma meticulosa renumeração de associados imediatamente antes de dar início à campanha do novo “Kit”. Como sócio do clube, sou testemunha disso, tendo visto na altura o meu número baixar consideravelmente.
É claro que haverá pessoas que, tendo comprado o Kit, não tenham prosseguido com o pagamento das quotas. Mas trata-se seguramente de uma minoria irrelevante, pois não é natural alguém aderir a uma instituição e abandoná-la apenas seis meses depois (os primeiros estão desde logo assegurados).
Seria bom para o Sporting que os seus dirigentes e adeptos assumissem de uma vez por todas a identidade própria do clube sem recurso ao odiado Benfica. Sendo certo que os clubes não sobrevivem sem oposição desportiva, também soa a complexo de inferioridade a constante invocação do eterno rival, na maioria das vezes sem qualquer razão lógica ou aparente.
Estou em crer que o Benfica, com toda a sua implantação e prestígio internacional, sobreviveria muito bem sem o Sporting. Será que o contrário também é verdade ?

O OUTRO LADO DA BOLA

Longe dos holofotes do mediatismo, longe dos grandes palcos e das grandes multidões, longe do profissionalismo principescamente pago, existe um outro futebol, com menos qualidade técnica é certo, mas igualmente capaz de despertar as grandes emoções de um desporto que, também aí, é rei.
Em fim-de-semana de pausa no principal campeonato, VEDETA DA BOLA esteve na eliminatória da Taça de Portugal, designadamente em Évora, no confronto entre o Juventude local (III divisão) e o Pampilhosa (II B), e garante que não deu o seu tempo por mal empregue tal a intensidade dramática de uma fita que, mesmo com actores de segunda e terceira categoria, foi capaz de prender o olhar durante mais de 120 minutos, terminando com um verdadeiro “happy-end” para os de uma casa que não deixa de ser também do autor destas linhas, sócio do clube eborense há mais duas décadas.
A equipa juventudista – cuja unidade de maior nomeada é actualmente o ponta-de-lança Edinho, que jogou no V.Guimarães com Vítor Paneira, Capucho, Zahovic, Neno e José Carlos, passando também pela segunda divisão inglesa - ganhou após duas séries de desempate por grandes penalidades, depois de ter estado a perder durante quase todo o tempo regulamentar, chegar à igualdade a apenas seis minutos dos noventa na sequência de um penálti (convertido justamente pelo veterano avançado de que falei), ver-se novamente em desvantagem no prolongamento fruto de uma falha incrível do seu guarda-redes (minutos mais tarde tornado herói), e ter voltado a empatar no último lance do jogo quando os relógios já passavam dos 120 minutos. Na lotaria do desempate, vários falhanços para um e outro lado foram criando uma expectativa cada vez maior, até que ao oitavo penálti, o Juventude levou a melhor, lançando o delírio entre os cerca de 300 espectadores presentes.

Este magnífico espectáculo que numa linda tarde de Outono presenciei, faz-me reflectir sobre aquilo que é hoje o futebol das divisões secundárias.
Há trinta anos atrás, quando a televisão apenas nos oferecia as finais da Taça de Inglaterra e da Taça dos Campeões, e nem a maioria dos jogos da selecção nacional eram objecto de transmissão directa, a única forma que grande parte do país tinha de assistir a um jogo de futebol era deslocar-se nos domingos à tarde ao campo (na maioria das vezes de terra batida) da sua terra, e aí vibrar com os golos, as defesas, os penáltis (assinalados e por assinalar), com a curiosa vantagem de poder falar bem aos ouvidos do fiscal de linha, do treinador, e eventualmente até poder discutir com ele ou com os jogadores, no dia seguinte à mesa do café, as incidências da partida.
Este era um conceito de futebol assente nas rivalidades regionais, cuja concretização passava muitas vezes pelo prazer da prática desportiva, pela carolice de uns quantos dirigentes - o meu pai foi um deles, lembrando-me ainda vagamente de na minha mais remota infância andar com ele de terra em terra, Alentejo fora, pelos bancos de suplentes de campos pelados e a servir de mascote a jogadores para quem os honorários se cingiam a um lanche ajantarado na sede do clube aos domingos após os jogos -, mas que aglutinava o público, e o fazia inclusivamente deslocar quando as equipas jogavam fora de casa.
Desde há uns anos para cá, com a exagerada profusão de jogos nos canais da televisão por cabo (ontem à hora do jantar eram três as transmissões em simultâneo), com a qualidade dos protagonistas de ligas como a inglesa, a espanhola ou a italiana, o público português virou as costas ao futebol amador ou semi-profissional. Aliás, virou as costas a todos os estádios, pois mesmo na Liga principal as assistências são escandalosamente fracas, sobretudo tendo em conta os investimentos que os clubes são obrigados a fazer para manter a sua face de profissionalismo, que mascara o mar de equívocos económico-financeiros em que navegam. Em Portugal o futebol saiu dos estádios e passou definitivamente a ser um mero programa televisivo.
Julgo haver motivos para temer que este novo paradigma acabe por matar o jogo no seu carácter mais universal, pois o mediatismo crescente (limitado aos clubes grandes e à selecção, diga-se), não encontra paralelismo na criação de receitas compatíveis com os custos que os clubes mantêm, sobretudo aqueles que nas divisões secundárias se vêm afastados dos generosos proventos proporcionados pelas transmissões do pequeno ecrã.
Há que fazer algo, e esse algo poderá muito bem ser a redução do profissionalismo a um número restrito de clubes (talvez apenas dez), incrementando por outro lado as receitas nas divisões secundárias, o que passa pelo aumento do número de jogos, pela segmentação regional dos campeonatos e pela harmonização de horários.
Neste sentido julgo que o quadro competitivo ideal seria uma Liga Principal com dez equipas a quatro voltas, com cinco jogos semanais todos televisionados e todos dentro do fim-de-semana e em horários regulares (sábados às 17.00, 19.00 e 21.00, e domingos às 19.00 e 21.00, por exemplo), uma segunda divisão com quatro zonas de 22 clubes cada uma, e uma terceira divisão com seis zonas também de 22 clubes, com os jogos todos ao domingo às 16.00, e equipas de carácter amador ou semi-profissional. Penso que seria também de restringir e ordenar a verdadeira hemorragia de transmissões directas com que SportTv nos brinda quase diariamente, das quais cerca de metade que certamente ninguém sentiria a falta – que tal apenas o mais importante jogo de cada liga europeia semanalmente ?
É certo que este modelo originaria bastante contestação de jogadores e técnicos, pois muitos deles ficariam a prazo sem lugar no escalão principal. Mas entre este lado do problema, e o definhar de clubes, os salários em atraso que são regra fora do âmbito dos cinco ou seis principais emblemas, a quebra de assistências e de receitas, e a falta de competitividade e espectacularidade dos principais jogos, que se reflecte também no rendimento internacional, há que tomar decisões racionais e que apontem para o longo prazo.
Não se pode banalizar o futebol, nem destruir as suas raízes de base, que sociologicamente se encontram nos despiques entre bairros ou entre localidades vizinhas.
Fica a reflexão.

E já agora que saia um Juventude de Évora-Benfica na próxima eliminatória, onde já entram os principais clubes. Seria seguramente o jogo da minha vida !

FOTO: www.juventudesportclube.blogspot.com

SOLTAS

O BENFICA tornou-se no maior clube do mundo em número de associados. Era algo que já se anunciava desde que a campanha de angariação de novos sócios teve início.
Não deixa contudo de ser notável que, num país da dimensão do nosso, exista uma instituição desportiva capaz de congregar tantos milhares de pessoas. Mais ainda se atentarmos ao facto de o clube estar longe daquilo que foram os seus melhores tempos, nos quais chegou a dominar a Europa.

CARLOS CARVALHAL saiu sem glória do Sporting de Braga depois de na temporada passada, aproximadamente na mesma altura, ter abandonado também o Belenenses. Trata-se de um treinador da nova vaga – a vaga dos pseudo seguidores de Mourinho – mas que ainda não demonstrou uma valia ao nível das oportunidades de trabalho que tem tido. O Braga é a equipa da Liga que mais golos sofreu relativamente à mesma jornada da época passada, enquanto que o Belenenses, pelo contrário, é a menos batida pelo mesmo critério. Caso para Carvalhal reflectir.

NÃO SE PERCEBE porque motivo não há Liga Portuguesa este fim-de-semana. Sendo o jogo com o Cazaquistão apenas na quarta-feira, e iniciando-se a concentração dos jogadores no domingo à noite, não me parece haver qualquer motivo para não se disputar a jornada da Liga, eventualmente entre sexta e sábado. Mais a mais atendendo a que, ao contrário do que sucedeu em quase toda a Europa com as respectivas taças, não houve por cá qualquer competição a meio da semana.

O MERCADO DE INVERNO e as especulações em seu redor, começam a fazer-se sentir nas principais equipas portuguesas. Enquanto no Benfica são dados como dispensáveis Marco Ferreira, Diego Souza, João Coimbra, Pedro Correia e eventualmente também Manú e Beto, no Sporting o grande problema pode vir a ser a saída de Marco Caneira para o Valência. Também em Alvalade Carlos Bueno e João Alves parecem ter os dias contados. No F.C.Porto por sua vez são os nomes de Sektioui, Ezequias e Alan que estão em cima da mesa.
Quanto a entradas, para já nada se sabe.

DEPOIS de duas temporadas em que os principais campeonatos europeus se viram desde muito cedo praticamente resolvidos, esta temporada está a apresentar um maior equilíbrio em Espanha (em parte fruto da lesão de Eto’o e da baixa de forma de Ronaldinho), em Inglaterra (graças ao excelente desempenho do Manchester e a uma inesperada dificuldade de integração de Schevchenko e Ballack no Chelsea) e em Itália (devido aos efeitos do calciocaos). Razões de sobra para os fins-de-semana televisivos da Sport Tv se tornarem mais atraentes. Hoje: Chelsea, depois Manchester e depois Milan. Amanhã: Inter, depois Real Madrid e depois Barça.

EVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE

A convocatória de Scolari para o jogo frente ao Cazaquistão trouxe algumas surpresas. As justas chamadas de Nelson, Raul Meireles, Tonel, Carlos Martins, João Moutinho e Daniel Fernandes provam que o seleccionador nacional também sabe mudar quando isso se lhe afigura aconselhável.
João Moutinho é claramente um jogador de selecção A, pecando a sua convocação apenas por tardia. Nelson e Raul Meireles estão ambos em grande forma e são também jogadores ainda muito jovens que poderão ser apostas firmes a médio prazo. Tonel já terá estado em melhor forma do que no actual momento, mas não deixa de ser uma boa alternativa, sobretudo levando em conta o seu excelente jogo aéreo. A chamada de Daniel Fernandes insere-se numa lógica de observação que terá estado já subjacente à convocação de Bruno Vale e Moreira há tempos atrás. Carlos Martins, embora tratando-se de um jogador bastante oscilante, terá sido escolhido por ser um dos poucos jogadores portugueses com perfil para suprir eventuais ausências de Deco. Já a chamada de Jorge Andrade corresponde ao critério mais conservador que Scolari tem utilizado frequentemente para com aqueles que considera o seu núcleo duro, como é o caso do central do Deportivo.
Sendo jogo dos sub-21 particular, tendo em conta os sinais que o jogo de Chorzow deixou no ar, e dada a fragilidade dos Cazaques, percebe-se que tenha sido este o momento escolhido para promover alguma renovação, observando e testando novos jogadores. Não parece todavia ser de acreditar que isto signifique que nomes como Nuno Valente, Costinha ou Maniche (Fernando Meira e Petit estão lesionados) estejam descartados para o futuro. São jogadores experientes, que deram muito à selecção, e de certo voltarão ainda às convocatórias, assim que a necessidade do seu peso e maturidade competitiva se cruzem com uma adequada forma física. Até porque Scolari não costuma ser ingrato para com quem tanto o ajudou a conseguir os melhores resultados de sempre da “equipa de todos nós”.
Para este jogo, será natural que Portugal apresente um onze com a seguinte configuração: Ricardo, Miguel, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Paulo Ferreira, Raul Meireles, Tiago, Deco, Cristiano Ronaldo, Nuno Gomes e Simão.

ESCOLHA OS MELHORES

VEDETA DA BOLA desafia os seus leitores a votarem, a partir de hoje e até final do ano, naqueles que mais se tenham destacado em 2006.
Estão a concurso os títulos de "Jogador do Ano / Liga Portuguesa", "Jogador do Ano / Futebol Internacional", "Treinador do Ano / Liga Portuguesa" e "Treinador do Ano / Futebol Internacional".
A pré-escolha das dez opções é da responsabilidade de VEDETA DA BOLA, mas certamente que qualquer outra perspectiva não fugiria muito dos nomes apresentados, pois a maioria deles parecem relativamente consensuais.
Resta pois aguardar pela vossa participação e pelas vossas escolhas.

JOGOS PARA A ETERNIDADE (4) - Sporting-Benfica / 1994

13 de Maio de 1994 – Estádio José Alvalade.
O derby de Lisboa entre Benfica e Sporting é sem dúvida o jogo mais tradicional do futebol português. A rivalidade de Benfica e F.C.Porto tem sido de há três décadas para cá bem maior e mais doentia do que alguma outra, mas a tradição será sempre a tradição e nada como um bom de um Benfica-Sporting para a redesenhar de cada vez que as camisolas encarnadas se misturam com as verde e brancas nos relvados. É assim em Portugal, é assim também em Espanha com o Real e Atlético em Madrid, em Itália com o A. C. Milan e o Inter em Milão, e onde quer que dois clubes da mesma cidade – no caso praticamente da mesma rua – se encontrem.
Ainda recordo o tempo em que todas as mesas de matraquilhos – jogo que me é muito querido – tinham Benfica e Sporting como protagonistas, antes ainda do F.C.Porto tomar o lugar dos leões em muitas delas, espelho da sua ascensão ao segundo lugar da hierarquia de títulos nacionais, e de seus feitos europeus em nada menores que os que o Benfica havia conseguido na década de sessenta.
Os dois grandes de Lisboa eram então os baluartes, não só do futebol, mas de quase todas as modalidades desportivas que se disputavam no país, do hóquei ao ciclismo, do basquete ao voleibol, do atletismo ao ténis de mesa, do andebol ao râguebi – e que pena é que os leões tenham abandonado o seu outrora tão proclamado ecletismo, que tantos títulos de carácter nacional e internacional lhes valeu.
Foram décadas e décadas de acesa disputa, que mais do que desportiva era também em de algum modo de âmbito social, com os mais abastados predominantemente ligados ao Sporting e os desfavorecidos torcendo naturalmente por um Benfica da cor do seu sangue.
Não espanta por isso que muitos Benficas-Sportingues tenham entrado como lendas para a história do desporto nacional e perdurem inesquecíveis em todos aqueles que de uma ou outra forma os vivenciaram.
De entre todo um conjunto de momentos épicos protagonizados pelos dois clubes, há dois derbys que, se me permitem, poderei considerar o pai e a mãe de todos os derbys nacionais. Disputaram-se ambos em Alvalade, com uma vitória para cada lado, e constituem momentos que os adeptos não se cansam de recordar: os 7-1 para o Sporting de 1986 e o 3-6 para o Benfica de 1994, este último com a particularidade de ter valido um importante título.
Deixo as recordações do jogo dos 7-1 para os sportinguistas que eventualmente o queiram comentar, pois prefiro naturalmente lembrar o sublime jogo dos 3-6, o qual aliás, também por ter sido há menos tempo, me permite recordações mais vivas.
Lamentavelmente não pude estar presente no estádio nessa tarde de Maio de 1994. Embora já acompanhasse o Benfica com bastante frequência, foi se a memória não me atraiçoa, por não ter conseguido bilhetes que faltei a essa determinante partida – à semelhança do que aconteceu, por exemplo, na final da Taça de Portugal de 2004 que marcou o regresso do Benfica aos títulos depois de um prolongado jejum.
Vi o jogo numa televisão de 33 cm e a preto e branco em casa de um colega de lides universitárias, por sinal sportinguista, o que deu também acrescida peculiaridade à situação.
Essa temporada foi inesquecível. O defeso anterior ficou conhecido como o “verão quente” (em alusão ao período revolucionário que o país viveu em 1975), pois foi marcado pelas rescisões unilaterais dos contratos de Paulo Sousa e Pacheco, que alegando salários em atraso na Luz rumaram até Alvalade. Falou-se ainda de Rui Costa, Vítor Paneira, Isaías, Hélder e Neno como tendo sido aliciados pelo Sporting a seguirem o mesmo caminho, embora acabassem por permanecer de águia ao peito. João Vieira Pinto, o melhor jogador português da altura, chegou mesmo a rescindir o contrato sendo contudo resgatado in-extremis pelo então presidente e recentemente falecido Jorge de Brito em Torremolinos, quando tinha tudo acertado com o Sporting para jogar em Alvalade. Um contrato amplamente melhorado manteve-o na Luz, mas longe estávamos ainda de saber a importância que esse momento teria no desenrolar da época.
Como se pode imaginar, as relações entre Benfica e Sporting azedaram bastante e gerou-se um clima de grande tensão, o que acabou paradoxalmente por favorecer o clube da Luz, pois os orientados de Toni fizeram deste campeonato a causa de uma vida e lutaram como nunca para resgatar o seu orgulho, tão ferido que fora meses antes.
O Sporting construíra uma grande equipa juntando os ex-benfiquistas aos campeões do mundo de juniores Luís Figo, Peixe, Capucho, Nelson, Amaral, Filipe e Paulo Torres, além de jogadores mais experientes como os internacionais Balakov, Cadete, Valckx e Juskowiak. Todavia o Benfica, mesmo privado de Paulo Sousa e Pacheco, para além da venda de Paulo Futre ao Marselha, tinha um plantel ainda mais poderoso. Aos jogadores atrás referidos juntavam-se ainda o central brasileiro Mozer, os também brasileiros William e Ailton, os portugueses Abel Xavier, Veloso e Kenedy, o sueco Stefan Schwarz e os polémicos mas categorizados russos Yuran, Kulkov e Mostovoi. A equipa benfiquista faria nesta temporada alguns dos jogos mais espectaculares da história do clube, como este que agora se recorda, ou um outro em Leverkusen (4-4) para a Taça das Taças cuja evocação ficará para uma próxima oportunidade.
O F.C.Porto falhara rotundamente no regresso de Ivic ao clube, e logo na primeira volta perdeu vários pontos que o deixaram, sobretudo após perder na Luz na primeira jornada da segunda volta, praticamente arredado do título. A luta cedo ficou portanto resumida aos dois rivais lisboetas.
O Sporting, depois de um início muito forte, veria um dos seus principais jogadores, o jovem russo Cherbakov, ficar paraplégico na sequência de um dramático acidente de viação nocturno. Na semana anterior (julgo que já em Dezembro), o impulsivo presidente despedira o conceituado técnico inglês Bobby Robson devido ao afastamento das provas europeias após uma derrota por 0-3 em Salzburgo. Robson iria para o F.C.Porto, onde terminou bem a época vencendo a taça e alcançando inclusive o segundo lugar do campeonato, vindo a ser campeão logo na época seguinte. Para Alvalade seguiu o Professor Carlos Queiroz, técnico bi-campeão mundial de sub-20 (selecção onde orientara muitos dos jogadores do Sporting), e à data com um prestígio no país quase equivalente ao que hoje detém José Mourinho.
Pouco depois da estreia do novo técnico o Sporting joga na Luz em vésperas de natal, mas depois de Figo abrir o marcador, o Benfica consegue a reviravolta na segunda parte com golos de Yuran e Isaías, assumindo o comando isolado do campeonato.
As duas equipas foram prosseguindo a sua caminhada, com o Sporting sempre bem próximo do rival, até que uma semana antes do derby da segunda volta o Benfica empata em casa com o Estrela da Amadora e fica com apenas um ponto de vantagem sobre o Sporting, que no mesmo dia ganha exuberantemente em Aveiro por 0-4. Os leões apresentavam-se nessa fase em grande forma, ao contrário do Benfica que evidenciava uma quebra resultante do desgaste que as provas europeias – onde chegou às meias finais da Taça das Taças, perdendo então com o poderoso Parma.
Eis-nos então chegados a Alvalade, a essa tarde de 13 de Maio em que tudo se decidia.
Faltavam apenas mais quatro jornadas para terminar a prova e, assim sendo, quem vencesse ficaria com o caminho aberto para o título.
Não se tratava de um qualquer título. Era talvez o título nacional mais importante da história do Benfica até então. Era o título do orgulho resgatado, depois de quase se assistir ao desmantelamento da equipa e do próprio clube, que continuava mergulhado num mar de dívidas e dificuldades organizativas diversas. Por outro lado, o Sporting não vencia qualquer prova havia doze anos. Era aquilo a que se pode chamar um jogo de vida ou de morte, e logo entre os eternos rivais.
A tarde estava chuvosa e o estádio a abarrotar. Recordo que até o pontapé de saída foi rodeado de suspense, com o árbitro (o recentemente falecido Vítor Correia) a mandá-lo repetir.
As equipas alinhavam da seguinte forma:
Sporting – Lemajic, Nelson, Valckx, Vujacic, Paulo Torres, Paulo Sousa, Capucho, Figo, Balakov, Cadete e Iordanov.
Benfica – Neno, Veloso, Mozer, Hélder, Kenedy, Abel Xavier, Vítor Paneira, Schwarz, Isaías, João Pinto e Ailton.
Os grandes ausentes eram Peixe e Juskowiak castigados no Sporting e Rui Costa no Benfica por opção de Toni. Foi talvez a única vez que Rui Costa ficou no banco em toda a época, o que se entendeu pelo facto de o então jovem jogador atravessar uma fase de grande desgaste físico.
O Sporting entrou de forma avassaladora, dominando completamente a primeira meia hora de jogo. Logo aos 10 minutos, Jorge Cadete corresponde a um cruzamento e bate de cabeça o guardião Neno abrindo o activo. Pouco depois nova oportunidade desta vez desperdiçada por Iordanov. O Benfica mal respira e teme-se o pior. Alvalade ferve de euforia.
Aos 25 minutos de jogo surge João Vieira Pinto, que dá nesse momento início à mais memorável exibição da sua carreira, e a um dos desempenhos individualmente mais bem conseguidos da história do futebol luso. O jovem avançado ganha um ressalto a Paulo Sousa, rodopia e estoira desde 30 metros de distância batendo inapelavelmente um impotente Lemajic. Contra a corrente do jogo o Benfica restabelecia a igualdade.
Foi sol de pouca dura, pois alguns minutos mais tarde, na sequência de um canto, Luís Figo, novamente de cabeça, faz o segundo golo dos da casa, devolvendo a loucura às bancadas de Alvalade.
Mas João Pinto parece cada vez mais decidido a entrar para a história, e pouco depois, num extraordinário lance individual em que dribla dois defesas sportinguistas já no interior da área, atira mais uma vez fora do alcance do guardião jugoslavo. 2-2 num jogo cada vez mais empolgante.
A um minuto do intervalo, num livre estudado Vítor Paneira desmarca-se e cruza para a área onde Isaías ganha de cabeça, e novamente João Pinto, também de cabeça, faz um inacreditável hat-trick, dando vantagem ao Benfica ainda na primeira parte, poucos minutos depois dos encarnados parecerem estar à beira do KO.
Ao intervalo de um jogo de loucos, com o resultado ainda completamente em aberto, Carlos Queiroz faz uma substituição suicida, retirando o lateral esquerdo Paulo Torres e colocando o extremo Pacheco em campo. O Benfica, mais experiente, saberia a partir daí ganhar definitivamente vantagem no jogo, marcando todos os restantes golos por esse flanco.
Logo nos primeiros minutos do segundo período, Vítor Paneira escapa-se a Paulo Sousa, cruza para a área, João Pinto salta por cima da bola , que sobra para Isaías isolado que fuzila Lemajic fazendo o 2-4. Começava-se nesse momento a ver o fundo do tacho deste jogo, pois pela primeira vez, e já na segunda parte, uma das equipas ganhava vantagem de dois golos.
Por volta do quarto de hora, João Pinto dá ainda mais brilho à sua prestação com uma jogada individual extraordinária, que culmina com um drible sobre Paulo Sousa já dentro da área (perfeita metáfora de tudo o que significara essa temporada), e um passe soberbo a isolar novamente Isaías que bisa no jogo elevando o resultado para 2-5. Os adeptos leoninos não queriam acreditar. A festa era agora claramente do Benfica, que se sentia à beira do mais importante título nacional até a esse momento.
Já em clima de festival benfiquista, e já com Rui Costa em campo, mais uma vez Vítor Paneira, mais uma vez pela direita do ataque encarnado, cruza para a entrada da área onde Hélder, em acção ofensiva, remata em vólei para o 2-6 que cada vez mais assumia a natureza de escândalo. Era a hipótese de vingar os 7-1 ali mesmo sofridos oito anos antes.
João Pinto entretanto era substituído, ficando a imagem do aperto de mão que Carlos Queiroz, seu treinador nos sub-20, lhe fez questão de dar, como sinal do reconhecimento do seu fenomenal trabalho nessa tarde.
O Sporting, num último assomo de dignidade, ainda reduziu por Balakov de penálti, mas o título estava entregue.
No dia seguinte “A Bola” titulava “Céus ! 6-3 em Alvalade; Benfica sublime, empolgante e aterrador”, e atribuía pela única vez na sua história a nota 10 a João Vieira Pinto, que com uma exibição eusebiana garantira a vitória e o título para os encarnados.
Naturalmente a festa pelo país fora durou até às tantas.
Na semana seguinte o Benfica selava em Braga a conquista matemática do campeonato, mas foi nesse 13 de Maio que a “aparição” João Pinto dizimou o Sporting (onde viria ainda a jogar) e resolveu a questão.
Inesquecível !

VEDETA DA JORNADA

SIMÃO SABROSA: Mais uma vez o melhor em campo, o capitão do Benfica, investido de novas funções tácticas, apresenta-se neste momento em grande forma.
A liberdade que tem neste momento em campo permite-lhe explorar outras capacidades até aqui um tanto submersas. Chega a ser um regalo para a vista observá-lo a conduzir a bola, sair dos dribles, fazer aberturas primorosas, e espalhar toda a classe própria de um jogador verdadeiramente fora-de-série.
Falta-lhe apenas recuperar a sua perícia nos livres directos para termos talvez o melhor Simão de sempre.
Miccoli esteve também em destaque frente ao Beira Mar, mas perde-se um pouco numa atitude exacerbadamente exibicionista – e não falo do estonteante drible que fez dentro da área contrária -, parecendo por vezes pretender brilhar sozinho, o que lhe retira, quanto a mim, alguns dos méritos que a sua qualidade técnica poderia permitir.
Postiga ou Quaresma, com excelentes golos, seriam também alternativas.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Numa jornada em que os grandes vencem todos por 3-0, as polémicas de arbitragem passam naturalmente para plano secundário, no qual diga-se, se deveriam sempre manter.
Assim sendo, casos como um possível golo fantasma em Alvalade, um possível corte com a mão de um jogador do Beira Mar na sua área, um possível fora-de-jogo de Miccoli no terceiro golo do Benfica ou a expulsão poupada a um jogador aveirense, em nada interferiram nos resultados dos jogos, pelo que não afectam a classificação “real”:

F.C.PORTO 22 pts
Sporting 21
Benfica 16 (-1 jogo)

TUDO TÃO FÁCIL...

Sporting e F.C.Porto concluíram ontem com vitórias por 3-0 (à semelhança daquilo que fizera o Benfica) mais uma jornada da Liga.
Tanto um como outro não necessitaram de muito esforço ou brilhantismo para alcançar os três pontos, pois quer Sp.Braga, exausto do decisivo jogo de quinta-feira para a Uefa, quer V.Setúbal, envolto em graves problemas disciplinares internos, foram pouco mais do que figurantes em duas partidas sem muito que contar.
Em Alvalade dois (!!) auto-golos abriram caminho à vitória dos leões, sendo que o terceiro golo deixou muitas dúvidas quanto à sua real existência, embora seja de dar benefício da dúvida à decisão do árbitro assistente, pois nenhuma imagem televisiva permite qualquer conclusão. Ainda assim, tendo em conta a extrema fragilidade com que os bracarenses se apresentaram, a vitória do Sporting não merece discussão.
Em Setúbal, dois golos nos primeiros seis minutos acabaram com as resistências sadinas e acabaram também com o jogo. Daí em diante o F.C.Porto pôde passear-se tranquilamente pelo relvado, num jogo tão enfadonho como as despidas bancadas do Bonfim numa chuvosa segunda-feira à noite. Em termos de espectáculo salvaram-se apenas os excelentes golos de Postiga e Quaresma.

A CONTA QUE DEUS FEZ

Diz a experiência que jogos domésticos precedidos de grandes jornadas europeias apresentam normalmente um grau de dificuldade acrescido. O cansaço, o eventual deslumbramento com bons resultados, o desgaste mental em caso de derrotas, ou a menor motivação para palcos menos iluminados, contribuem para que, com alguma frequência, aconteçam resultados surpreendentes neste tipo de partidas – vejamos por exemplo o que aconteceu a Chelsea, Barcelona, Lyon, Arsenal, Real Madrid e Milan num fim de semana em que nenhum deles ganhou. Por isto mesmo o Benfica-Beira Mar de ontem à noite era, à partida, um jogo de risco e um teste à estabilidade mental da equipa de Fernando Santos, sobretudo tendo em conta a moralização dos aveirenses decorrente da excelente exibição realizada na jornada anterior face ao Sporting.
Mas observando aquilo que aconteceu, o que se pode dizer é que os encarnados atiraram para trás das costas todas estas teorias revelando nos momentos decisivos da partida uma motivação, uma vontade de vencer e uma condição física impressionantes dadas as circunstâncias, e mostrando que são neste momento a equipa que joga o mais vistoso futebol da nossa Liga.
Efectivamente, este Benfica versão 2006-2007 é, em termos de processo ofensivo, talvez o mais forte da última década, criando ocasiões de golo em catadupa quer esteja a jogar no Dragão, diante do Manchester United, do Celtic ou do Beira Mar. Só nos melhores tempos de Camacho os benfiquistas desfrutaram de uma qualidade do jogo de ataque próxima da que Fernando Santos tem sido capaz de implementar (com 16 golos marcados nas últimas 5 jornadas), e que promete cada vez mais tornar-se irresistível, sobretudo quando tem pela frente equipas mais fracas, muito fechadas e incapazes de explorar as lacunas defensivas que o Benfica – aí sim - ainda não conseguiu corrigir inteiramente.
Com Miccoli em super forma - aquele drible no interior da área ficou seguramente gravado na retina dos 38 mil espectadores presentes na Luz -, com Nuno Gomes a concretizar (embora ontem o seu golinho tenha sido, e bem, anulado) e Simão a subir de forma a olhos vistos mostrando toda a sua categoria jogo após jogo, o Benfica conta ainda com uma unidade fulcral no meio campo, capaz de sustentar transições ofensivas e defensivas, e que se vem assumindo paulatinamente como um caso muito sério neste Benfica e na Liga Portuguesa. Falo de Katsouranis, tão injustamente tratado na semana anterior devido a um lance normalíssimo de futebol, mas que ontem voltou a deixar a clara ideia de se tratar de um grande futebolista, um verdadeiro todo-o-terreno ao qual não falta o instinto goleador nem (pelos vistos) um temperamento de gelo capaz de o alhear de todas as polémicas em seu redor (talvez também por não perceber ainda muito bem o que se diz…). Também Petit dá agora finalmente mostras de uma melhor adaptação às suas novas funções, enquanto Nuno Assis, embora ontem não tenha estado ao nível que já o vimos, tem cumprido o seu papel de forma muito positiva, em termos de acções ofensivas.
Como disse acima, falta ainda ao Benfica trabalhar melhor as transições defensivas deste seu novo figurino táctico para se tornar de facto numa grande equipa, isto é, numa equipa ganhadora, numa equipa campeã, algo que só o tempo e o trabalho poderão permitir. Katsouranis parece capaz de ser um elemento determinante nesse particular, mas não podem ser apenas ele e Petit a assumir toda a despesa posicional do meio campo, deixando muitas vezes quatro homens estáticos na frente quando a equipa perde a posse de bola. É este o aspecto a corrigir, pois com a bola nos pés esta equipa tem já condições para se tornar pouco menos que imparável, falando naturalmente em termos nacionais.
O Beira Mar - como o Nacional, o Desportivo das Aves ou o Estrela da Amadora, equipas que visitaram a Luz nesta Liga - não foi de todo capaz de parar a enxurrada de futebol ofensivo que o Benfica aplicou quando decidiu finalmente que o jogo não se ganharia apenas com as camisolas. No início, embora a equipa da Luz tenha dominado o espaço e a bola, não teve imaginação suficiente para ultrapassar a linha defensiva aveirense, procurando apenas através de alguns disparos de meia distância bater o guardião Ale. No segundo período contudo, com legítimo receio que o correr do tempo lhe fosse complicando a vida, o Benfica entrou de rompante realizando meia hora verdadeiramente demolidora, reavivando a marca das suas últimas exibições. Marcou dois golos de rajada e resolveu praticamente aí a partida. A expulsão de Buba e o terceiro golo foram o corolário de um domínio avassalador, e a expressão justa de uma vitória sem mácula.
Segue-se agora uma pausa após a qual se saberá até que ponto os encarnados serão capazes de manter a cadência. Há lesionados para recuperar, e o calendário afigura-se difícil: visita a Braga; e recepção ao Copenhaga absolutamente determinante para o seu futuro europeu.
Individualmente destacaria Simão Sabrosa, cada vez mais ao seu melhor; Miccoli, mau grado alguns laivos de individualismo e exibicionismo excessivos; Katsouranis, pelo que já ficou dito; e Nelson que parece ter definitivamente ganho o lugar que, desde que ao seu melhor, lhe pertence com naturalidade. Pela negativa notou-se, no tempo que esteve em campo, que Karagounis sentiu bastante a paragem forçada, revelando-se bem longe do registo que apresentava antes de se lesionar.
Palavra ainda para Mário Jardel que pareceu estranhamente mais pesado do que já estivera há umas semanas atrás. A reacção à monumental vaia de que foi alvo também não terá sido a mais profissional.
A arbitragem não teve muito protagonismo, embora tivesse poupado a expulsão ao jogador aveirense que entrou de forma bárbara sobre Miguelito perto do final da primeira parte, e que havia visto a cartolina amarela minutos antes. No terceiro golo do Benfica Miccoli não parece interferir no lance, pelo que o seu fora-de-jogo se deve entender como meramente posicional.
Pontuações: Quim 3, Nelson 4, Luisão 3, Ricardo Rocha 3, Miguelito 3, Petit, 3, Katsouranis 4, Nuno Assis 3, Simão 4, Nuno Gomes 3, Miccoli 4, Karagounis 1, Karyaka 2, Mantorras 1.
Melhor benfiquista em campo: Simão Sabrosa.

A NOITE DA INDEPENDÊNCIA

Tinha aqui dito na antevisão da jornada europeia que seria extremamente difícil ao Benfica conseguir um resultado que, para além dos três pontos, o deixasse em situação favorável em termos de desempate (4-0) ou pelo menos (3-0) em igualdade perante os escoceses.
Pois a verdade é que nesta linda noite da Luz - que espectáculo dentro e fora do estádio, fazendo lembrar o Euro 2004 !, que adeptos fantásticos estes escoceses !-, o Benfica não só conseguiu, em parte, esse desiderato, como também viu o Manchester United perder em Copenhaga, o que para além de deitar por terra alguns comentários que na altura da visita do Benfica à Dinamarca se ouviram acerca da pseudo fragilidade da equipa nórdica (que havia aliás eliminado já o Ajax), tem o condão de permitir aos comandados de Fernando Santos dependerem apenas de si próprios para se apurarem para a fase seguinte, algo que parecia de todo improvável antes desta jornada.
Com efeito, esta carambola de resultados deixa a equipa da Luz em situação de, vencendo os dois jogos que lhe faltam (o que não será nada fácil, diga-se também), apurar-se matematicamente para os oitavos de final quaisquer que sejam os outros resultados, pois caso Celtic perca em casa frente ao Manchester será de imediato ultrapassado, caso ganhe seriam os ingleses a ficar pelo caminho, e em caso de empate no Celtic-Manchester (mantendo-se sempre a hipótese de o Benfica vencer os dois jogos que lhe faltam), ficariam três equipas empatadas com 10 pontos e em termos de desempate prevaleceria o critério da pontuação entre eles, sendo assim o Celtic o eliminado (faria apenas 4 pontos nos jogos com Benfica e Man.United). Até se pode dar o caso de o Benfica perder em Manchester e passar à fase seguinte com 7 pontos, isto se o Celtic perder os dois jogos.
Contas complicadas, mas que para o Benfica se resumem, para já, a ganhar, se possível por dois ou três golos de diferença (pois há ainda mais algumas variantes de resultados que podem entroncar no desempate por goal-average), ao Copenhaga na Luz no próximo dia 21.
Para esta saborosa auto-dependência de que hoje desfruta, o Benfica contou ontem em grande parte com a sorte que noutras ocasiões lhe faltou. Poder-se-á mesmo dizer que o Pai Natal chegou mais cedo à Luz, vestiu-se de verde, e chamou-se Caldwell.
Aos 22 minutos, sem que ainda houvesse grandes motivos para tal, o Benfica viu-se a vencer por 2-0, fruto de um auto-golo e um erro clamoroso do central internacional escocês.
Pode-se e deve-se dizer que o Benfica a partir desse momento soube aproveitar a fortuna que lhe caiu em mãos. Fez-se ao jogo, nunca deixou de atacar, e pelo que conseguiu, sobretudo ao longo do segundo tempo, justificou amplamente a vitória.
O Benfica de ontem foi corajoso, agressivo e organizado, características que nem sempre soubera ainda conciliar no que já leva a presente temporada. Dominou claramente o adversário e mostrou que o resultado da primeira volta fora um equívoco.
Foi uma vitória por números exagerados ? Talvez, mas não tanto como o havia sido a derrota de Glasgow, onde o Benfica equilibrou o jogo durante cerca de dois terços do mesmo, algo que o Celtic nunca conseguiu fazer em Lisboa, salvo nos momentos finais da primeira parte.
Em termos individuais há que salientar as prestações de Simão e Nuno Gomes, bem como o ressurgimento de Nélson a níveis próximos dos que exibira em alguns momentos da temporada passada. Léo também se exibiu em bom plano, tal como todo o meio campo encarnado. Destaque ainda para a exuberante entrada de Karyaka, que parece, agora sim, o internacional russo que conheciamos antes de chegar à Luz e que depois misteriosamente se eclipsou. Pela negativa Miccoli deu mostras de se encontrar algo debilitado, o que é natural em quem vem de uma amigdalite, e Luisão não foi aquela trave mestra que normalmente é, complicando muitas vezes aquilo que parecia simples, felizmente sem consequências.
Pontuações: Quim 3, Nélson 4, Luisão 2, Ricardo Rocha 3, Léo 3, Petit 3, Katsouranis 3, Nuno Assis 3, Simão 4, Nuno Gomes 4, Miccoli 2, Karyaka 4, Beto 2 e Mantorras 1.
Melhor benfiquista em campo: Não podendo ser Caldweel, optaria por Simão Sabrosa.

Palavra ainda para os excelentes jogos das outras equipas portuguesas na Alemanha, embora o resultado do Sporting saia ensombrado pela vitória do Inter em Moscovo, o que deixa os leões na obrigação de agora vencer em Milão para seguir em frente.
7 pontos numa jornada é muito bom para Portugal, que neste momento, a duas jornadas do fim da fase de grupos, tem todas as equipas apenas dependentes de sí próprias para seguirem em frente.
Dentro de três semanas volta o grande espectáculo da Champions League, numa fase em que todos os jogos serão de importância absolutamente vital.