AINDA DEU PARA SONHAR...

Aconteceu aquilo que se esperava. O Benfica não foi capaz de ultrapassar o enorme obstáculo que tinha pela frente, saindo assim da Champions League sem glória, mas com a honra perfeitamente intacta e com a consciência de ter tido globalmente um desempenho que em nada envergonha o prestígio internacional de que o clube ainda desfruta.
Custa sempre muito perder, e ainda mais neste tipo de competições onde se joga quase a vida, mas o futebol é assim mesmo e também na hora da dor se reveste de enorme beleza. Bem podem agora os encarnados chorar pelos momentos onde esta eliminação se decidiu, pois num exercício subjectivo mas legítimo, uma vitória em Copenhaga ou mesmo sem ela apenas o penálti falhado por Saha em Glasgow teriam sido suficientes para levar o Benfica aos oitavos-de-final. Mas os resultados são fria e objectivamente aquilo que são.
Para este jogo a tarefa era, convenhamos, quase impossível. O Manchester tinha de garantir a sua qualificação – veja-se a propósito as facilidades concedidas nesta jornada pelos já apurados Liverpool, PSV, Lyon, Real Madrid e Milan, e chore-se mais umas lágrimas pelo tal penálti... – e jogava em sua casa. Estaria também mentalmente muito bem preparado para não repetir o falhanço da época transacta quando foi eliminado na Luz.
O Benfica fez o que tinha a fazer. Entrou bem no jogo, deitou água na fervura do ataque inglês que durante toda a primeira parte pouco perigo criou (pelo menos à luz do que se esperaria), e conseguiu mesmo aquilo que parecia mais difícil: colocar-se em vantagem num estupendo golo de Nelson. Foi tempo para sonhar.
Até final da primeira parte pareceu ser possível reviver a epopeia de Anfield Road em Março passado, pois a equipa da Luz revelava uma grande entreajuda e coesão enquanto o Manchester dava já sinais de alguma ansiedade. Mas eis então que surgiu um golpe demasiado duro para um conjunto de homens que necessitava de toda a sorte deste mundo e do outro: já em período de descontos, num lance de bola parada, Vidic restabeleceu a igualdade, que neste caso representava nova vantagem para a experiente equipa inglesa.
O Benfica perdeu nesse momento a confiança que revelara em todos os primeiros quarenta e cinco minutos, e nunca mais acreditou na sua felicidade. Logo no início da segunda parte se verificou que o jogo mudaria de feição e que dificilmente o Benfica encontraria oportunidade de o voltar de novo a seu favor. De facto aquele golo, para além da influência anímica sobre ambas as equipas, condicionou fortemente a estratégia que Fernando Santos poderia aplicar para a segunda parte. O Benfica fechar-se-ia, o Manchester teria que arriscar e abrir espaços atrás, através dos quais Simão e Miccoli teriam oportunidades de construir lances de perigo. Com 1-1 no marcador nada disso seria mais possível.
Ainda assim os encarnados lutaram sempre com as armas de que dispunham, e mesmo depois do 2-1, dois lances de génio de Simão – melhor benfiquista em campo – levaram algum sobressalto até às imediações da baliza de Vandersar. O jogo ficou bastante aberto e ou o Benfica fazia o 2-2 e relançava o jogo, ou o Manchester marcava e acabava com ele. Não surpreende que tenha sido a equipa mais forte e mais tranquila a conseguir marcar mais uma vez, fechando assim a porta a qualquer possibilidade dos benfiquistas.
Apesar da derrota, tem de se dizer que o Benfica sai da Liga dos Campeões de cabeça bem erguida. Teve algum azar em momentos cruciais do grupo (o tal penálti...), e não se pode dizer que tenha estado mal em nenhum dos seis jogos, nem mesmo quando saiu derrotado de Glasgow por um 3-0 manifestamente exagerado. Acabou por levar a sua luta até ao último jogo, onde chegou a estar em vantagem. Não era obrigado a mais.
Venha a Taça Uefa, e já agora alguma sorte num sorteio que poderá pôr diante dos encarnados equipas como o Feyenoord, Bayer Leverkusen, Palermo ou Tottenham, mas também o Waregen, o Hapoel, o Nancy ou o Maccabi Haifa. Embora esta prova não tenha, nem de perto, o brilho da Champions, também é verdade que as hipótese de nela chegar longe são bem menos remotas.
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Viva o Benfica!

Em termos individuais há que destacar a excelente exibição de Simão, que não merecia de todo sair da Liga dos Campeões, bem como a prestação de Ricardo Rocha que está de facto em grande forma. Nélson marcou um golo fantástico, mas fica ligado ao terceiro golo britânico, enquanto Katsouranis depois de uma primeira parte onde sobressaiu pelo rigor no auxílio defensivo a Nelson, borrou por completo a pintura no lance do segundo golo onde pareceu perfeitamente adormecido e permitiu a Giggs cabecear à vontade para o fundo da baliza de Quim. Léo esteve num dia infeliz, sendo ultrapassado inúmeras vezes com uma facilidade que não lhe é nada habitual, Nuno Gomes confirmou o seu mau momento falhando também a cobertura defensiva no primeiro e decisivo golo, e Miccoli, em quem se depositavam muitas esperanças, pareceu limitado fisicamente, acabando por pedir a sua substituição.
Pontuações: Quim 3, Nelson 3, Luisão 3, Ricardo Rocha 4, Léo 2, Petit 3, Nuno Assis 3, Katsouranis 2, Simão 4, Miccoli 2, Nuno Gomes 2, Karagounis 1 e Paulo Jorge 1.
Melhor benfiquista em campo: Simão Sabrosa (à beira da nota 5).
O árbitro alemão não se deixou notar.

1 comentário:

Anónimo disse...

LF

Não havia nada a fazer, o Benfica bateu-se muito bem, talvez um pouco encolhido e muito recuado após o golo de Nelson

Aqueles minutos, até ao intervalo foram um sufoco, talvez um pouco por culpa do próprio Benfica, que nunca tentou sair com a bola no pé, mas sim com chutões para o meio campo do Manchester

Penso, que na 2ª parte, o FS deveria ter avançado um pouco mais o Katsouranis e passar do 4-4-2 em "quadrado" ( 4-2-2-2), para o 4-4-2 em "losango", para tentar ter mais posse de bola e não ficar á espera do Manchester

Enfim, não manchou o prestigio do Benfica e demonstrou, que quando o Benfica tem esta postura é uma equipa temivel, quer em Portugal,
como na Europa

Agora, vamos ver como será, contra o Naval