DE CHORAR POR MAIS...

Perante um Alvalade XXI completamente cheio, em jogo fundamental para as contas do grupo de qualificação para o Euro 2008, a Selecção Nacional não desmereceu e foi capaz de oferecer um grande espectáculo aos quase 50 mil presentes, e a todo o país via televisão, goleando categoricamente a Bélgica por 4-0 e mantendo o seu favoritismo intacto face ao apuramento.
Foi preciso esperar 45 minutos para os jogadores lusos soltarem toda a magia dos seus pés. No primeiro período, algum individualismo das unidades mais criativas (Ronaldo e Quaresma) e demasiada prudência nas transições ofensivas – este adversário não justificava tanta cerimónia -, impediram Portugal de sair para o intervalo com uma vantagem que, mesmo assim, pelo seu maior caudal ofensivo, já justificava.
Marcando pouco depois do início da segunda parte por intermédio de Nuno Gomes, e fazendo o 2-0 quase de imediato por Ronaldo, a equipa nacional libertou-se então para uma exibição de luxo, vencendo e convencendo, mostrando a já conhecida classe individual de alguns dos seus jogadores, e vincando a ideia de que afinal os ausentes têm quem os substitua à altura, sendo neste particular a exibição de João Moutinho (no lugar do lesionado Deco) bem elucidativa.
O ponto alto da noite foi o fabuloso golo de Ricardo Quaresma, num pontapé de trivela que transpirou força, confiança e talento, numa execução que por si só valeu bem o bilhete do jogo. O extremo portista teve finalmente a sua noite de glória ao serviço da selecção principal, mostrando, para além do inesquecível golo, mais alguns números do seu extenso repertório, ainda que por vezes insista demasiado em lances individuais e/ou em adornos desnecessários e inconsequentes, algo que é também ainda comum a Cristiano Ronaldo, sobretudo quando joga pela equipa das quinas. Com a juventude de um e outro, é de esperar que o tempo e a evolução das respectivas carreiras, apare esses excessos, e faça sobressair o inesgotável talento que brota dos seus pés, revertendo-o sempre para o colectivo.
Mas em toda a segunda parte destacaram-se também outros elementos como Tiago (finalmente em grande pela selecção), Petit, Moutinho (este o mais constante ao longo de todo o jogo), Miguel e, quando entrou, também Nani.
A Bélgica mostrou muito poucos argumentos, não sendo, de todo, um candidato ao apuramento. As declarações do guarda-redes Stijnen viraram-se claramente contra o próprio e contra a sua equipa, que desde ouvir o hino apupado – reacção desproporcionada e infeliz dum público fantástico durante todo o resto da noite – enfrentaram um coro de assobios sempre que tinham a bola em seu poder. Mostraram alguma agressividade no início da partida, mas pelo tempo fora foram-se rendendo às suas insuficiências face a uma selecção portuguesa muito forte. O resultado de 4-0 apenas peca por escasso, pois se os números ascendessem a 6 ou 7 golos não seria de espantar.
O público de Alvalade, hino belga à parte, esteve soberbo. Ficou-me na retina a imagem de um homem com o cachecol do Sporting ao pescoço a aplaudir de pé Petit quando este foi substituído. O mesmo de resto aconteceu quando todo o estádio se levantou no aplauso a Quaresma. Este sim é o verdadeiro espírito da selecção nacional, e Lisboa deu mais uma vez uma lição a esse respeito - 1-0 à Espanha e 2-1 à Holanda no Euro 2004, 7-1 à Rússia na qualificação para o Mundial e agora 4-0 à Bélgica, 4 jogos 4 vitórias importantes, 14-2 em golos, é este o balanço da selecção no Alvalade XXI.
Cabe aqui um aparte para observar que o tipo de público que assiste aos jogos da selecção é sensivelmente distinto daquele que semana a semana frequenta os estádios dos clubes. Vêm-se muito mais mulheres, muito mais jovens, muitas crianças, muitas pessoas que, tendo naturalmente as suas simpatias clubistas, apenas se mobilizam pelas cores nacionais. O clima de festa que rodeia estes jogos é impressionante, e o papel de Scolari à frente da “equipa de todos nós” não é alheio a esse facto.
Agora venha a Sérvia. Mais uma vitória colocará Portugal numa invejável posição, sobretudo por deixar (mais) um adversário directo em maus lençóis, mas um empate também não será desprezável. De qualquer forma faltam ainda 9 (!!) jogos, pelo que todas as hipóteses estão em aberto, sendo que Finlândia, Polónia, Sérvia e Portugal parecem ser os únicos candidatos às duas vagas do grupo.
Viva Portugal !

3 comentários:

Anónimo disse...

LF

Concordo com o resumo do jogo, foi deveras empolgante, este jogo trás muita confiânça á equipa, embora o adversário fosse demasiado fraco técnicamente

A equipa Belga, é muito forte fisicamente e tenta intimidar o adversário:
1º com palavras ( coisa que nós Portugueses, estamos habituados a fazer na nossa liga e que somos dos melhores )
2º Fisicamente, com entradas muito duras, logo nos primeiros minutos da partida, para meter medo

Em relação ao espírito da selecção, é normal que sejam vistas muitas senhoras e muitas crianças, pois o risco de problémas ou confusões é deminuto, não há claques, os adeptos adversários são poucos, situação favoravel para uma grande festa

LF, a situação que descreve de um adepto com o cachecol do Sporting a aplaudir o Petit, penso que seria mais sensato não levar qualquer identificação clubistica, pois neste caso, se em vez de aplaudir, vaia-se poderia haver problémas com um adepto do Benfica, o que não seria bom para a selecção, nem para o espirito nacional

Quando joga a Selecção, devemos ser de Portugal e utilizar as cores do nosso país e deixar os clubes em paz, assim se faz o verdadeiro espirito da selecção de Portugal, embora também se possa dizer que "Sou de Portugal, porque fui obrigado, ( pois nasci cá ) do Benfica, sou porque quero"

É assim a vida, uma no cravo, outra na ferradura :)

Anónimo disse...

Penso que as razões pelas quais há mais mulheres e crianças nos jogos de Portugal têm também a ver com o espírito de festa construido em redor do Euro 2004, que trouxe muitas pessoas (nomeadamente mulhers) para o futebol, ainda que apenas esporadicamente (quando joga a selecção).

Á excepção dos clássicos entre grandes, não há praticamente quaisquer riscos de violência nos novos estádios.
Esse é um estigma lançado por pessoas que não conhecem bem o futebol.
À excepção de Benficas-Portos e Benficas-Sportings, não tenho problemas em levar o meu filho de 5 anos a qualquer jogo na Luz (quem diz a Luz dirá também Alvalade ou qualquer dos estádios do Euro).


Também acho que aos jogos de Portugal se devem levar as cores de Portugal. Todavia é frequente ver pessoas em jogos da selecção com adereços clubistas, o que não sendo muito apropriado, também não se pode dizer que seja grave.

Para mim a selecção nacional é como o Benfica. Sofro por ambos com o mesmo entusiasmo, sobretudo se me lembrar das fases finais de Europeus e Mundiais.

Anónimo disse...

LF

Sabe que os problémas de violência no nosso futebol, não são muitos frequêntes, mas essa ideia da violência, vem de á muito tempo atrás, onde realmente não havia muita segurança nos estádios e onde as claques dos Super Dragões, Juve Leo e No Name Boys, criavam muitos desacatos, não só nos jogos entre grandes, mas por todo o lado onde se deslocavam, o que criou um estado de insegurança permanente, retirando pessoas aos estádios

Quero ainda dizer, que não está na nossa cultura, as senhoras irem á bola, este cenário está a mudar desde o Euro 2004, até porque os tempos são outros e as senhoras estão a aprender e a gostar de desporto, estão a descobrir a sensação de vibrar com os golos

Para mim, as sensações e o sofrimento em relação ao Benfica e á Selecção Nacional são diferentes, quero dizer, assim como "amor de pais" e "amor de filhos", um mais contido (Selecção)e o outro mais exuberante (Benfica), repare, o LF falou de Mundiais e Europeus, vibrou com os feitos da nossa Selecção, mas em relação ao Benfica, vibra nem que seja com o Cascalheira F.C.,não é necessario ser na Champions ou na Taça UEFA, para mim basta ser num jogo amigavel para vibrar e para o meu nivel cardiaco subir e se algo corre mal, fico aborrecido e triste, para mim é muito diferente

Mas em todo o caso, VIVA PORTUGAL e que ganhe hoje á Servia, pois para mim só interessa a vitória