UM ADEUS PORTUGUÊS

Gabriel Garcia Marquez no seu romance “Crónica de uma Morte Anunciada”, dá a conhecer logo na primeira página o trágico destino do principal personagem. Ontem ao assistir à eliminação da selecção nacional perante o Chile lembrei-me deste magnífico romance, quer pela forma como nas estrelas se já parecera escrever a condenação desta equipa, quer pelo modo trágico-cómico como ela se acabou por concretizar, como que a lembrar algumas das melhores pérolas do realismo-mágico do mestre colombiano.
O episódio digno de desenhos animados protagonizado por Zequinha, vai certamente alimentar as televisões do mundo inteiro, vai (ou já estará a ?) ser consultado no You Tube e ser falado em todos os recantos onde se comentem as curiosidades em redor do desporto-rei. Vai também, e isso é gravíssimo, contribuir para denegrir ainda mais a imagem que o futebol português e os jogadores portugueses já têm perante as instâncias internacionais, imagem essa formada substancialmente por culpa própria (um balneário destruído em França, camisolas atiradas a árbitros na Bélgica, murros na cintura de árbitros argentinos, protestos constantes, conferências de imprensa inflamadas, expulsões compulsivas) e que já começa a causar engulhos aos clubes e representações nacionais perante as arbitragens que vão encontrando, quer em competições europeias, quer em torneios deste tipo.
Em trinta anos de futebol, recordo-me de ver um jogador dos campeonatos distritais a correr atrás de um árbitro com a bota na mão para lhe atirar acima, e depois sair do campo para agredir um espectador - julgo que foi irradiado, estávamos nos princípios dos anos oitenta -, alguns anos mais tarde da cena da karaté protagonizada por Eric Cantona num estádio inglês, e mais recentemente de um assomo de arruaceirismo de Sérgio Conceição no campeonato belga. A atitude de Zequinha – jogador que fica desde já com a sua carreira carimbada por esta tremenda demonstração de imaturidade – inscreve-se praticamente no mesmo nível que as referidas acima, senão pela violência, pelo grotesco, o que em termos de má propaganda para o futebol português talvez se revele até bem pior.
Mas se a selecção nacional tem motivos para sair envergonhada desta competição pelo que se passou nos últimos instantes da partida, futebolisticamente não os terá menos de acordo com o desenrolar dos noventa minutos, e para ir mais longe, por tudo o que fez neste mundial, excepção feita ao primeiro jogo (com um adversário bastante dócil) e a alguns momentos do segundo.
Portugal foi uma vez mais uma equipa sem chama, sem critério, sem classe e sem orientação. A primeira parte, sobretudo, foi verdadeiramente tormentosa. A equipa nacional mudou o seu figurino táctico (para 4-4-2), mas deu mostras evidentes de não estar preparada para isso, tornando-se previsível primeiro, e desorientada depois, insistindo num jogo directo sem rei nem roque, que se foi transformando a pouco e pouco em mero pontapé para a frente.
Na segunda parte, já a perder e com toda a justiça, Portugal foi mais agressivo e mais acutilante, mas tudo foi sendo feito muito mais com o coração, do que com uma cabeça que de facto parecia não ser capaz de pensar, nem ter ninguém que pensasse por ela. O Chile também se retraiu, mas ainda assim foi dos sul-americanos a melhor oportunidade de todo o segundo período.
Quando a esperança ainda residia num eventual milagre que permitisse empatar e levar o jogo para prolongamento, eis que Mano primeiro, e Zequinha depois, espetaram os últimos pregos no caixão desta triste e pobre participação portuguesa.
Pobres emigrantes, que tão longe dos seus clubes e dos seus jogadores, não mereciam ser assim tão defraudados. Três derrotas em quatro jogos, com os adversários que Portugal enfrentou, é de facto mau. Muito mau. Terminar o mundial a tirar um cartão vermelho das mãos do árbitro é uma vergonha. Mais uma.
A alguns jogadores sem ponta de classe (Nuno Coelho, João Pedro, Zequinha, Mano etc), juntou-se um técnico sem competência. Nada me move contra ele, que acredito ser um profissional sério e honesto. Simplesmente não têm competência, ou seja, não dispõe daquilo que constitui uma mistura entre conhecimentos técnicos de base, e vocação para a função. Não percebo como chegou ao F.C.Porto, e muito menos como, depois de ter feito descer o Belenenses - que praticamente com o mesmo plantel se apurou um ano depois para as competições europeias - acabou por ser contratado pela F.P.F. Como já aqui disse, Couceiro dá por vezes a sensação de saber tanto de futebol como um adepto comum, e que num mundo (e sobretudo num país) em que a imagem dita leis, chegou, com o seu discurso fluente e com os seus fatos de bom corte, a um nível completamente desfasado das suas reais capacidades, que dariam, vá lá, para uma Liga de Honra se tanto.
Mas em verdade se digaque será injusto culpá-lo só a ele e esquecer quem o nomeou.
Onde anda Gilberto Madaíl ? Estará de férias ?

PS: Nos outros jogos destaque para a eliminação do Brasil diante da Espanha, que virou um resultado de 0-2 para um categórico e merecido 4-2.
O quadro dos quartos-de-final a disputar no fim-de-semana ficou assim definido:
E.U.A-Austria
Espanha-Rep.Checa
Chile-Nigéria
Argentina-México

6 comentários:

Anónimo disse...

Temos uma selecção fraquita, pelo o que ficou demonstrado, mas mesmo assim, penso não haver interesse em dramatizar a questão (tão ao gosto português)... Está-se a dar demasiada importância ao campeonato do mundo de sub20, temos que relativizar um pouco.
Um aparte: Gostei muito da cena cómica e original protagonizada pelo nosso jogador ao tirar o cartão vermelho da mão do árbitro, só foi pena não lho ter mostrado e feito o gesto de expulsão. Estou muito optmista ni que se refere à possibilidade dessa imagenm correr mundo, demonstrando assim a capacidade humuristica dos nossos jovens talentos. Gostei!

Boabdil disse...

Eu vi a primeira parte do jogo e fui para a cama com tanto sono que estava. se calhar devia ter ficado para ver as cenas "charlie chaplin" do fim do jogo :-)

Além disso o sorriso manhoso do couceiro quando via (?) a nossa selecao ser trucidada pelo chile, enquanto ele ficou impávido e sereno, me deu um certo... vou ser simpático: Asco.

também já tinha ficado indisposto ao ver o jogo anterior.

LF disse...

Eu dou bastante importância ao mundial sub 20 onde, não esqueçamos, Portugal já levantou a Taça por duas vezes, uma das quais perante 120 mil pessoas num Estádio da Luz a abarrotar.

Desde 1979, quando apareceu um rapaz chamado Diego Maradona, passando pelas vitórias portuguesas com que vibrei bastante, até ao aparecimento já este século de estrelas como Saviola (que não confirmou nos seniores o que parecia nos sub20), Kaká ou Messi, esta competição sempre me fascinou.

Trata-se de uma representação nacional de alto nível, perante os olhares do mundo inteiro, pelo que nada pode atenuar a irresponsabilidade dos jogadores e/ou de quem os comanda.
O que é mais grave é que isto é uma situação reiterada. À excepção das equipas de Scolari, rara foi a participação portuguesa em provas internacionais que não acabou assim ou de forma semelhante, o que, sabendo-se do mediatismo que o futebol tem, lesa gravemente a imagem do país no exterior.

Realmente faltou mostrar o cartão ao árbitro, mas aí, mais que um caso de indisciplina teria sido um caso de demência, ainda mais grave.

A mim preocupa-me esta imagem da juventude portuguesa. E o pior é que ela me parece corresponder à realidade do que se passa nas escolas por esse país fora.
Mas isso são contas de outro rosário.

LF disse...

Não Boabdil. Fez bem em ir-se deitar.

Palerma fui eu em ficar acordado quase até às 3 da manhã, ainda por cima já pela segunda vez, para assistir a cenas destas, quando não dava um pau de fósforo queimado pela qualificação desta equipa.

Anónimo disse...

LF

Resumo tudo em duas palavras "UMA VERGONHA"

Jogamos mal, mal e mal, depois aquela palhaçada no final, um jogador tirar o cartão ao arbitro, é...eu nem sei o que é, este jogador deveria ser irradidiado da Selecção Nacional, Portugal não necessita deste tipo de jogadores

Já chega de palhaçadas destas, o nome de Portugal, sempre nestas situações de indisciplina, após terem perdido um jogo e de serem eliminados das competições

Não me venham com a desculpa, de ser um jovem, muitos jovens da sua idade, trabalham e têem muitas responsabilidades e não podem fazer erros de qualquer tipo, sob pena de serem despedidos

Do José Couceiro, já deixei a minha opinião, noutro Post do Vedeta da Bola

Do Gilberto Madail, só aparece quando se ganha, é um cobarde que se esconde nas derrotas e nos actos de indisciplina, pode ter trazido para Portugal, o Europeu e outros eventos, mas isso não chega, tem de ser um lider e por os treinadores e jogadores na linha, em relação aos treinadores, será que pode, quanto ganha ele, em contratar este tipo de treinadores ?

A FPF tem de levar uma limpeza, mas com estas situações, não se preocupa o Secretário do Estado, tal como no caso Nuno Assis, deveria dizer e fazer algo

ESTOU BRUTO E PRONTO :)

Tony cross disse...

Estou plenamentte de acordo com LF e CATN. O que se passou com a selecção sub-20 foi uma VERGONHA.
Em cada jogo da selecção não estão presentes apenas 11 jogadores. Está uma Nação inteira do tamanho do MUNDO TODO, que é onde cabe a diáspora portuguesa.
Também me REPUGNAM os silêncios do secretário do desporto em matérias como o apito dourado e os comportamentos indisciplinados de quem se obriga a levar com honra o estandarte de Portugal.
Desconheço quais as academias que "formaram" estes jovens, mas tenho um dedinho que adivinha de onde terão vindo e que valores lhes terão passado.
Saudações!!!