JOGOS PARA A ETERNIDADE (12) - Os meus clássicos Benfica-F.C.Porto

Joga-se amanhã na Luz mais um grande clássico entre Benfica e F.C.Porto. Amplos dominadores do futebol português no último quarto de século (22 títulos em 25 anos), máximos representantes lusos além fronteiras (ambos bi-campeões europeus e totalizando em conjunto 12 finais europeias), são estes –amigos sportinguistas que me perdoem - inquestionavelmente os dois maiores clubes portugueses da actualidade, quaisquer que sejam os critérios que utilizemos para os avaliar e hierarquizar.
Este jogo surge numa altura em que o Benfica - com cinco vitórias consecutivas na liga - cresce a olhos vistos, enquanto que o F.C.Porto parece dar sinais de alguma quebra, depois de um início de época absolutamente imaculado. Nada que condicione as expectativas para a partida de amanhã, onde é tradicional o F.C.Porto agigantar-se, e conseguir, na maioria das vezes, alcançar os seus objectivos. A história assim o diz, e é dela que pretendo falar agora.
Comecei a ver futebol em 1976. Desde então (nomeadamente desde um F.C.Porto-Benfica 0-1, golo de Chalana), fazendo as contas a todos os Benfica-Portos e Porto-Benficas que se sucederam, cheguei ao bonito e caprichoso número de cem. Foram precisamente cem os clássicos do meu tempo, contando com todas as competições oficiais em que os dois emblemas se encontraram (Campeonato, Taça e Supertaça), não me recordando de um só jogo amigável entre ambos, o que aliás é perfeitamente natural em face de uma rivalidade doentia, alimentada sobretudo pelo presidente portista, mas que tem perpassado para a generalidade dos adeptos de um e outro clube.
Neste período, o F.C.Porto leva vantagem. Dos 100 jogos venceu 43, e apenas perdeu 28, registando-se 29 empates. Essa superioridade tem sido expressa sobretudo nos jogos disputados em sua casa (32 vitórias e 5 derrotas), pois se nos cingirmos aos números registados na Luz, verificamos que o Benfica venceu em 19 ocasiões perdendo apenas 9. Estes últimos números mascaram no entanto uma realidade que tem sido a nota dominante dos clássicos disputados na Luz: em quase todos os momentos de decisão o F.C.Porto tem levado a melhor, quer vencendo, quer empatando (17 empates na Luz), conseguindo frequentemente sair do reduto do rival com a sua situação classificativa reforçada, e por vezes com os títulos praticamente na algibeira.
Se a história recente vingar, neste sábado o F.C.Porto empatará na Luz, e levará para o norte os mesmos quatro pontos de vantagem que tem neste momento, dando uma machadada na recuperação encarnada das últimas semanas, tal como o fez em diversas ocasiões nesta centena de clássicos. Mas como sabemos, em futebol, nada é seguro, nada é garantido, tudo é possível.
Dos jogos que presenciei ao vivo (entre 1987 e a época passada, a cinzento no quadro acima), o Benfica venceu 5, perdeu 3 e registaram-se 10 empates, a maioria dos quais com sabor a derrota. Não é portanto um palmarés muito feliz. Tenho todavia algumas recordações bastante gratas, como a do primeiro clássico a que assisti, naquela que foi a maior enchente de sempre registada em Portugal (140.000 espectadores segundo “A Bola”), e numa temporada em que o F.C.Porto conquistaria o seu primeiro título europeu. O Benfica, vindo de uma humilhante derrota em Alvalade (os célebres 7-1), superiorizou-se categoricamente, vencendo por 3-1 com um hat-trick de Rui Águas, encetando aí a caminhada para o título nacional que viria a conquistar meses depois. Foi o último jogo de futebol a que o meu pai assistiu na sua vida.
Outra das vitórias deu-se em 1993-94, quando um golo de Ailton e outro de Rui Costa, selaram um triunfo que também encaminhou o Benfica de Toni para o título, que viria a conquistar depois dos também célebres 6-3 de Alvalade. Foi o jogo da expulsão de Fernando Couto por agressão a Mozer.

Todas as restantes vitórias que presenciei não valeram títulos, ou melhor, não se verificaram em épocas nas quais o Benfica se tenha sagrado campeão. Um livre de Sabry no tempo de Jupp Heynckes e Vale e Azevedo numa tarde chuvosa de sábado, dois golos de Van Hooijdonk nos 2-1 da época seguinte (a do 6º lugar…), e finalmente o golo solitário de Laurent Robert (frango de Baía…) há duas épocas atrás.
Apesar de ter presenciado duas derrotas que quase valeram o título aos dragões (1991-92 e 2002-03), a mais dramática de todas, aquela que mais me custou a digerir, foi indubitavelmente a de 2004-05, quando a um golo de McCarthy na primeira parte, respondeu o Benfica com um de Petit na segunda, que todavia um tristemente célebre árbitro auxiliar e o seu chefe de equipa Olegário Benquerença decidiram não considerar, mantendo assim o placar em 0-1.
Nunca me senti tão revoltado num estádio de futebol, e tenho a sensação de que se me tivessem roubado a carteira, o estado de espírito não seria muito diferente. Nem o título conquistado nessa época foi suficiente para apagar das memórias uma arbitragem cujos malefícios estiveram longe de se situar apenas no referido lance. Benquerença nunca mais voltou à Luz.
O que resta destas vitórias para um e outro lado, é um conjunto de empates mais ou menos frustrantes, de entre os quais ressaltaria o de 1992-93, com Futre vestido de encarnado, e o da época passada, em que, como se recordarão, caso o Benfica de Fernando Santos tivesse vencido, saltaria para o primeiro lugar da tabela e, “caeteris paribus”, sagrar-se-ia campeão. Ainda no estádio antigo assisti ao meu único Benfica-F.C.Porto para a Taça de Portugal, quando Fernando Santos estava no Porto e Maniche no Benfica. O resultado foi um empate 1-1, que remeteu a eliminatória para as Antas (onde o F.C.Porto venceria 4-0), mas a mim marcou-me principalmente a chuva diluviana que me deixou encharcado, num tempo em que não havia qualquer cobertura nos estádios.
Em redor destes clássicos –ao invés dos derbys lisboetas a que assisti, diga-se - foram surgindo quase sempre alguns episódios de violência, dentro e fora do estádio. No ano passado foram os petardos lançados para cima de adeptos benfiquistas. No ano anterior algumas escaramuças à entrada das claques, o que obrigou a uma correria da multidão em pânico. No tal jogo da benquerençada, recordo também os inúmeros problemas com o número de bilhetes cedidos aos portistas, o que levou a uma concentração de milhares de adeptos em pouquíssimo espaço – lembro-me de, à entrada para esse jogo, ver sair um rosto completamente ensanguentado, interrogando-me se teria começado aí a “guerra civil”.
A situação mais complicada que vivi em termos pessoais foi contudo em 1990, quando situado por baixo de uma bancada repleta de portistas, me passaram bem perto das orelhas, moedas, isqueiros e até garrafas de vidro, felizmente sem consequências nem para mim nem para quem estava por perto. Nessa mesma tarde, na zona onde anos mais tarde se ergueria o centro comercial Colombo, vi ainda um adepto do F.C.Porto ser barbaramente espancado por uns oito “benfiquistas”, o que me chocou profundamente também.
Vivi no Estádio da Luz (antigo e novo) dezoito clássicos, recheados de histórias para contar, mas devo confessar que as maiores alegrias que os Benficas-Portos me proporcionaram foram em jogos nos quais, por um ou outro motivo, não pude estar presente. As finais de Taça de 1980, 1981, 1983, 1985 e 2004, todas vencidas pelo Benfica (curiosamente não me recordo de uma final da Taça de Portugal ganha pelo F.C.Porto ao Benfica), foram momentos de grande felicidade, sobretudo, devo dizer, as que não coincidiram com títulos nacionais, ou seja a primeira (com um golo solitário do brasileiro César), e a última, para a qual não consegui arranjar bilhetes, com Camacho no banco e golos de Simão e Fyssas diante de um F.C.Porto de Mourinho a quatro dias de se sagrar campeão europeu em Gelsenkirchen. A final de 1983 teve a particularidade de se disputar no início da época seguinte, e no Estádio das Antas, depois de uma conturbada batalha institucional, na qual o F.C.Porto acabou por, como era hábito na altura, fazer prevalecer a sua vontade, mesmo contrariando a lógica e a tradição. Não lhe serviu de nada, pois um golo de Carlos Manuel fez com que o Benfica levantasse uma das mais saborosas Taças de Portugal da sua história.
Nunca tive oportunidade de assistir a um F.C.Porto-Benfica em território “inimigo”. Guardo contudo na memória – e já aqui o lembrei – o duelo de 1991, no qual o Benfica levou a melhor com dois golos de César Brito, e praticamente conquistou, nessa tarde, o campeonato. Para além desta vitória, para o campeonato apenas recordo a de há dois anos, com dois golos de Nuno Gomes, e a tal de 1976-77, que foi, como disse no inicio, o primeiro confronto entre os dois clubes de que tenho memória – recordo o resumo do jogo num programa chamado Telefutebol, apresentado por Cordeiro do Vale. Na Taça de Portugal, além da tal final, lembro-me ainda de uma outra vitória do Benfica, em 1981-82, também por 0-1 com um golo de Nené no prolongamento.
Para além destes pontuais momentos de alegria, os Portos-Benficas disputados a norte não tiveram, neste período, um historial muito feliz. Derrotas, e mais derrotas, um empate aqui, um empate ali, alguns dos quais, no entanto, bem valiosos em termos classificativos. Mas a mais pesada derrota aconteceu, ironicamente, no Estádio da Luz, quando com Paulo Autuori no banco, um Benfica sem alma e sem talento, se viu derrotado por 0-5 (!) por um F.C.Porto emplogante. Jogava-se para a Supertaça, competição maldita para as cores encarnadas (16 derrotas em 24 jogos com o rival portuense na prova).
Este é pois um jogo recheado de história, de memórias e também de alguma conflitualidade. Muitas vezes foram os árbitros a tomar o protagonismo, a maioria das quais, é preciso dizê-lo, beneficiando o mesmo lado. Expulsões absurdas (Rojas, Miguel, Ricardo Rocha, Eder), golos anulados (Amaral, Kandaurov, Petit), penáltis mal marcados (Rui Bento sobre Rui Filipe, Mozer sobre Vinha), definiram muitas vezes o resultado do clássico. É tudo o que se espera não aconteça amanhã.
Deseja-se que, após o jogo, seja dos artistas que se fale, que se assista a um grande espectáculo, e que, já agora, ganhe o Benfica. Julgo que, clubismo à parte, seria bom para o campeonato que tal acontecesse. Desejos à parte, a sensibilidade e a experiência apontam-me o empate como o desfecho mais previsível para esta partida. Veremos amanhã se se confirma este meu palpite, ou se o Benfica é capaz de dar uma grande alegria aos seus incontáveis adeptos.

NOITE DE GALA MERECIA FINAL MAIS FELIZ

É uma pena que um espectáculo como o de ontem, que uma exibição de gala como a que o Benfica foi capaz de realizar diante do campeão europeu, tenha redundado numa infeliz eliminação da principal prova europeia, deixando como magro consolo a possibilidade de uma presença na Taça Uefa.
Foi de facto um grande jogo, um dos melhores a que a Luz assistiu nos últimos anos - e merecia bem mais que os 46 mil espectadores que lá estiveram. Houve muito e bom futebol, houve um verdadeiro Milan, sobretudo na fase inicial da partida, e houve também – permitam-me - um verdadeiro Benfica, isto é, um Benfica à altura da sua história e dos seus pergaminhos na prova, capaz de exercer um domínio quase absoluto durante largos períodos do jogo, capaz de criar oportunidades em série, e a quem apenas terá faltado a pontinha de sorte que lhe tem sobrado no campeonato nacional, para manter bem viva a hipótese de apuramento para a fase seguinte.
Se havia dúvidas sobre a qualidade desta equipa do Benfica, e sobre a sua vontade de seguir em frente, a prestação de ontem tê-las-á dissipado na totalidade. O Benfica, com uma exibição quase perfeita, fez tudo para vencer o jogo e merecia tê-lo vencido.
Os primeiros quinze minutos foram do campeão europeu. Com uma circulação de bola rapidíssima – estes jogadores jogam de olhos fechados…-, um controlo do meio-campo operado a partir da criteriosa movimentação de Pirlo, e uma impressionante facilidade de desmarcação de Seedorf e Kaká pelas alas, ao Milan terá talvez faltado o ausente Inzaghi para logo nesse período poder resolver a partida. É fantástico ver esta equipa no estádio – sobretudo a partir de um plano superior, como o fiz -, perceber as suas basculações, a forma como se fecha assim que perde a bola, as desmultiplicações que empresta ao seu onze logo que a conquista, em suma, a plena harmonia como todas as suas movimentações se processam, tanto em processo ofensivo como defensivo, qual bailado em plena relva, qual esplendor de uma arte, aqui e ali pincelada pelas suas geniais individualidades, mas sobretudo alicerçada numa força colectiva notável.
O golo de Pirlo foi o corolário dessa fase inicial em que o Benfica se demorou um pouco a encontrar – talvez um tanto reverente face a tão ilustre visitante -, e parecia criar as condições para uma derrota mais ou menos anunciada.
A reacção foi espantosa. Com uma grande agressividade na recuperação de bola a meio-campo, o Benfica foi paulatinamente empurrando o Milan para trás, de onde, diga-se, praticamente não mais voltou a sair. Já depois de Cristian Rodriguez ter desperdiçado a primeira de três ocasiões flagrantes de que dispôs na primeira parte, Maxi Pereira levantou o estádio com um fabuloso golo, bem ao nível da qualidade do futebol que por essa altura se via no relvado da Luz. Era o empate, e o renovar da alma benfiquista em busca de uma noite de sonho e de glória.
Até final do primeiro tempo o jogo foi absolutamente electrizante, e digno de uma final. Bola cá, bola lá, transições velocíssimas, remates, oportunidades. Faltou apenas mais um golo (ao Benfica) para a perfeição.
Esperava-se que na segunda parte o Milan conseguisse reassumir o controlo dos ritmos de jogo, e que o Benfica dificilmente pudesse manter a mesma velocidade de processos, o que poderia levar o espectáculo a ressentir-se. Mas Camacho e a sua equipa mandaram positivamente “às malvas” quer o desgaste físico, quer a qualidade e prestígio do adversário e, partindo para cima dele, tomaram definitivamente as rédeas do jogo, reduziram a escombros todos os seus equilíbrios, e construíram um domínio, a espaços, quase avassalador. O Benfica não se rendeu ao resultadozinho honroso. Quis prosseguir na Champions, achou-se capaz disso, e demonstrou-o minuto a minuto, lance a lance. As entradas de dois avançados (Cardozo e Di Maria) e a saída de dois defesas (Luís Filipe e David Luíz) demonstra bem o carácter com que o técnico espanhol abordou esta partida. Não é fácil encostar o Milan às cordas. O Benfica fê-lo, e bem se pode queixar de algum azar – mas também, sejamos justos, de alguma imperícia concretizadora…- sem o qual estaria agora a festejar uma vitória histórica.
Foi contudo Kaká que, à boa maneira italiana, acabou por ter nos pés a última oportunidade de marcar, o que traduziria uma crueldade de todo imerecida face àquilo o que se passou em campo. Aliás o Milan, desde o meio da segunda parte, não teve outra alternativa senão procurar pausar o jogo, cortar-lhe o ritmo, não deixando de ser irónico ver jogadores como Maldini ou Nesta a queimar tempo e a atirar bolas para a bancada.
Quando Herbert Fandel apitou, o sentimento geral foi um pouco ambíguo. Por um lado, o orgulho de uma enorme prestação no principal palco europeu de clubes, por outro, o sabor amargo de uma eliminação cruel. A enorme ovação tributada aos jogadores no final da partida devolveu-lhes alguma da justiça que o resultado não foi, lamentavelmente, capaz de evidenciar.
Como se esperava – bem vistas as coisas, já desde a derrota caseira com o Shakhtar Donetsk – o Benfica despediu-se da Liga dos Campeões. Sem glória, mas com muita honra, e com a certeza de que esta equipa vai crescer, e pode ainda dar muitas alegrias aos seus adeptos, nesta ou nas próximas épocas. Tem, aliás, já nos próximos dias diante de si duas boas oportunidades para o fazer.
Ao contrário do que foi abundantemente dito por aí, o golo do Celtic nada alterou ao destino da jornada. Mesmo com um empate em Glasgow, o Benfica estaria matematicamente afastado dos oitavos-de-final (com três equipas igualadas a sete pontos, seriam sempre os ucranianos a levar vantagem num mini-campeonato de desempate). Era pois mesmo necessário ganhar. Paciência, a Liga dos Campeões é mesmo assim.
O árbitro alemão - que apitou a última final, curiosamente vencida pelo Milan - denunciou um pouco daquilo que é corrente ver (também) nas provas da Uefa: na dúvida o benefício foi sempre para o mais forte. Ainda assim, não foi por ele que o Benfica ficou pelo caminho, até porque no principal caso do jogo - o golo anulado a Nuno Gomes -, a equipa de arbitragem teve a razão do seu lado.

ENCARNADOS UM A UM

QUIM (3) Sai um pouco penalizado pelo lance do golo, no qual, encoberto por um colega, se acabou por lançar tarde à bola, muito embora o remate tenha sido extremamente bem colocado. No resto do tempo esteve ao seu nível.
LUÍS FILIPE (4) Terá feito a sua melhor exibição com a camisola do Benfica, e a ovação que ouviu quando saiu pode ter-lhe garantido a tranquilidade de que necessitava para conquistar definitivamente o lugar e os adeptos. Não conseguir acompanhar Kaká em dois lances não envergonha defesa nenhum do mundo.
LUISÃO (3) Começou aos soluços, mas pelo tempo fora foi a trave mestra de que a defesa do Benfica necessitava. Realizou uma bela segunda parte.
DAVID LUÍZ (3) Uma ou outra falha não perturbaram a imagem globalmente positiva da sua exibição, com momentos inclusivamente de bastante brilhantismo.
LÉO (3) Outro que começou mal – naquele quarto de hora de desnorte -, sendo facilmente ultrapassado por Seedorf em, pelo menos, duas ocasiões. Ao longo do tempo recompôs-se, contribuindo, sobretudo no plano ofensivo, para a excelente exibição do colectivo.
PETIT (4) Quem não soubesse não diria que regressou há pouco de uma longa paragem por lesão. Fez um jogo à sua maneira, e na bitola a que nos tem de há muito habituado. Com ele em campo, a ligação da equipa e das suas diferentes linhas flui com outro dinamismo e qualidade.
KATSOURANIS (3) Não sendo tão exuberante como o seu parceiro, foi preponderante na batalha do meio-campo, na qual o Benfica levou claramente a melhor.
RUI COSTA (4) Fez tudo o que podia para deixar marca neste reencontro com a sua antiga equipa. As coisas nem sempre lhe saíram bem quando, por diversas vezes, tentou resolver o jogo através da iniciativa individual. Mas a sua presença foi sempre preciosa na definição de ritmos, e na projecção das movimentações globais do conjunto, ou não fosse ele o verdadeiro maestro de uma orquestra, da qual ontem se ouviu música de grande qualidade.
CRISTIAN RODRIGUEZ (3) A sua nota resulta penalizada pela forma como desperdiçou três golos praticamente feitos, ainda na primeira parte. Numa competição como esta, a eficácia é fundamental e distingue os verdadeiros campeões. Rodriguez esteve muito infeliz nesse particular, embora a sua garra, e a sua capacidade no um para um, tenham sido decisivas para o domínio que o Benfica exerceu em campo.
NUNO GOMES (3) Não esteve mal – toda a equipa jogou bem, diga-se – mas ficam na retina dois lances em que, tendo a baliza diante de si, preferiu assistir os companheiros (primeiro Rodriguez e depois Maxi), quando podia e devia ter tentado o remate, ou não fosse ele o ponta-de-lança da equipa. Acabou por marcar um golo pleno de oportunidade, mas estava ligeiramente deslocado. Trabalhou muito e saiu exausto.
DI MARIA (2) Acrescentou pouco ao que a equipa estava a fazer, e perdeu-se algumas vezes (o que é infelizmente habitual) em lances individuais absolutamente estéreis. Teve nos pés o golo da vitória, mas atirou à figura de Dida.
CARDOZO (1) Não acrescentou nada. Pareceu-se novamente com aquele avançado triste e abúlico do início da época.
ADU (-) Cinco minutos em campo não deram desta vez para marcar o golinho da sorte. O Milan também não é a Académica…

VEDETA DO JOGO

MAXI PEREIRA (5) - Estrondosa exibição deste uruguaio, que a pouco e pouco vai convencendo todos da sua enorme qualidade. Marcou um golo soberbo, mas mesmo sem contar com ele, o destaque para melhor em campo teria que ser seu. Correu como o Gattuso, cruzou como o Rodriguez, rematou como se viu. Foi um verdadeiro Super-Maxi. Indiscutivelmente o porta-estandarte da grande exibição do Benfica.

SUB-PORTO SAIU VERGADO DE ANFIELD ROAD

Não me surpreendeu a derrota copiosa do F.C.Porto. Conforme aqui dissera, seria pouco provável que Jesualdo e a sua equipa investissem muito numa partida de que, objectivamente, não necessitavam, frente a um adversário poderosíssimo, e em vésperas de um importante clássico doméstico. A tudo isto juntou-se a imperiosa e dramática necessidade de pontos dum Liverpool apostado em recuperar o tempo perdido, e mais algumas falhas individuais do infeliz Stepanov. 1-4 em Anfield Road não orgulha ninguém, mas também não creio que possa deixar marcas num grupo experiente como o F.C.Porto. Na Luz, certamente que a resposta da equipa vai ser bem diferente, pelo que não adianta ao Benfica esperar quaisquer tipo de facilidades.
Quanto à Europa, o Porto mantém tudo nas suas mãos. Basta empatar em casa com o Besiktas…

FOI-SE O ANEL DA CHAMPIONS, FICOU O DEDO DA UEFA

É de algum modo estranho, seguir um Manchester United-Sporting da Liga dos Campeões, sabendo que, qualquer que seja o resultado, o efeito prático é idêntico. Foi o que aconteceu ontem, designadamente a partir do momento, ainda na primeira parte, em que se soube que a Roma vencia em Kiev por 0-3, afastando liminarmente qualquer cenário de apuramento para os leões, e garantindo-lhe, por outro lado, a repescagem para a Taça Uefa, tolhendo ao mesmo tempo o jogo de todo e qualquer interesse competitivo.
O Sporting fez uma boa primeira parte. Beneficiando de alguma apatia da equipa inglesa, chegou ao golo, podia ter marcado o segundo – marcou-o inclusivamente por Liedson, mas em posição de fora-de-jogo -, e foi evitando danos de maior na sua defesa.
Na segunda parte tudo foi diferente. Com as entradas de Tevez e Giggs, o Manchester assumiu o seu favoritismo, e partiu para cima do Sporting, intensificando a sua pressão à medida que os minutos iam correndo. Era uma questão de tempo até surgir o empate, o que veio a acontecer por intermédio de Carlitos Tevez.
Na ponta final do jogo, não tendo os Red Devils conseguido até aí marcar o segundo golo, parecia ser possível ao Sporting sair de Old Trafford com um feliz, mas honroso empate. Contudo, foi uma vez mais o “vilão” Ronaldo a trair a sua casa mãe e, com a ajuda da deficiente colocação do jovem Rui Patrício, selar a vitória do Manchester, repondo a natural hierarquia do jogo.
Não tem o Sporting motivos para chorar. Num grupo difícil, consegue o terceiro lugar, afinal o objectivo mais natural a que se podia propor. Tem, ainda antes da última jornada, a garantia de prosseguir no futebol europeu. Resta saber se terá plantel para aguentar as quatro (!) competições em que está inserido.

MISSÕES DIFÍCEIS

Inicia-se hoje a penúltima jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Os clubes portugueses terão de novo pela frente os cabeças-de-série dos respectivos grupos, ainda que as expectativas de cada um deles sejam bem distintas.
Com um jogo destes por diante, e sem sequer depender de si próprio, quase se pode dizer que o Sporting está com um pé e meio fora da liga milionária. Resta, objectivamente, a luta pela Uefa, que com um pouco de sorte até pode ficar já hoje definida – bastando para isso que o Dínamo de Kiev seja derrotado pela Roma, independentemente até do que aconteça em Old Trafford.
De qualquer modo, e como sonhar não paga impostos, ao Sporting é ainda lícito pensar em vencer hoje, esperar uma ajuda ucraniana (na perspectiva do 2º lugar invertem-se as opções), e adiar todas as decisões para a última ronda. Os Red Devils estão apurados, o que pode ser uma boa notícia, se bem que a Roma também possa vir a beneficiar desse facto dentro de quinze dias.
Equipas prováveis:
MANCHESTER UNITED – Kuszcak, Brown, Ferdinand, Vidic, Evra, O’Shea, Fletcher, Anderson, Ronaldo, Tevez e Nani.
SPORTING – Rui Patrício, Abel, Tonel, Polga, Had, Miguel Veloso, João Moutinho, Romagnoli, Izmailov, Vukcevic e Liedson.
PROBABILIDADES (1X2) – 60% ; 30% ; 10%

Para o F.C.Porto, a deslocação a Anfield Road até pode ser encarada quase como uma espécie de jogo amigável. Os dragões estão praticamente apurados, e recebem o Besiktas na última ronda, não dependendo portanto deste jogo para nada. Caso consigam selar o apuramento em Inglaterra, decerto não desperdiçarão o ensejo. Mas não me parece que, em vésperas do importantíssimo jogo da Luz, desejem correr muitos riscos num combate frente a um adversário fortíssimo e a precisar dramaticamente dos pontos. Parece ser pois um jogo destinado ao Liverpool, com um Porto descomprimido a deixar a decisão para o Dragão.
Equipas prováveis:
LIVERPOOL – Reina, Finnan, Carragher, Hyypia, Arbeloa, X.Alonso, Mascherano, Gerrard, Riise, Torres e Kuyt.
F.C.PORTO – Helton, Bosingwa, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Fucile, Paulo Assunção, Raul Meireles, Lucho Gonzalez, Tarik, Lisandro e Quaresma.
PROBABILIDADES (1X2) – 70 % ; 20% ; 10%

O que se diz para o F.C.Porto, pode ser válido também para o Benfica, mas em sentido inverso.
Ao passo que os nortenhos estão quase apurados, os encarnados só por milagre conseguirão chegar aos oitavos-de-final. Recebendo o todo poderoso campeão da Europa, três dias antes de, no mesmo local, se poderem posicionar muito bem na luta pelo título nacional, talvez não esteja no espírito de Camacho, conhecido pelo seu pragmatismo, apostar tudo num pouco provável brilharete na Champions, para o qual o seu plantel não dispõe - sejamos lúcidos - de base de sustentação.
É verdade que há um nome a defender, há um palmarés a recuperar, e defrontar o Milan é sempre um desafio. Mas creio que neste momento, dada a infeliz sobreposição de datas, dada a possibilidade que se abre de sucesso na principal frente interna, e sobretudo, dadas as indisfarçáveis fragilidades da equipa, e o seu extremamente complicado posicionamento classificativo nesta prova europeia, a prioridade parece clara.
Resta saber como o Milan, também ele com a sua situação praticamente definida – pode resolver o apuramento em casa com o Celtic – se vai apresentar na Luz. Ambrosini, Jankulovski e Inzaghi são baixas confirmadas, enquanto Seedorf está em dúvida. Haverá poupanças de esforços ? Irá fazer tudo para vencer ou, à italiana, pensar apenas num empate, reservando a festa para a última jornada ? Da prestação do Milan depende em larga medida aquilo que o Benfica pode ou não fazer.
Enfim, qualquer que seja o resultado, será sobretudo um jogo para jogadores e adeptos se divertirem, num grande palco e num grande ambiente. Qualquer resultado que não seja a vitória elimina o Benfica da Champions, mas um empate seria suficiente para sair de cabeça erguida, e deixar a hipótese Uefa em aberto para a Ucrânia.
Para mim pessoalmente será a hipótese de ver finalmente em acção este colosso do futebol europeu. Depois de Liverpool, Manchester, Arsenal, Chelsea, Real Madrid, Barcelona, Juventus, Inter, Roma e Bayern, este era o clube que me faltava ver ao vivo. Será pois, aconteça o que acontecer, uma noite de festa, com Maldini, Kaká e companhia diante dos nossos olhos.
Equipas prováveis:
BENFICA – Quim, Luís Filipe, Luisão, David Luíz, Léo, Petit, Katsouranis, Maxi Pereira, Rui Costa, Rodriguez e Nuno Gomes.
A.C.MILAN – Dida, Oddo, Maldini, Nesta, Kaladze, Pirlo, Bonnera, Gattuso, Seedorf, Kaká e Gilardino.
PROBABILIDADES (1X2) – 20% ; 30% ; 50%

FÁCIL ? DE MODO ALGUM !

Parece impossível mas há quem veja facilidades no grupo de qualificação para o Mundial de 2010 que calhou em sorte a Portugal.
Não sei se quem assim pensa olhou bem para os restantes grupos, ou conhece minimamente o valor de selecções como a Dinamarca e sobretudo a Suécia. A mim parece-me que, à excepção do grupo que engloba Croácia, Inglaterra, Ucrânia e Bielorrússia, este é precisamente o mais difícil e equilibrado.
Levando em conta que só o primeiro classificado se apura directamente, a selecção nacional vai ter muito que pedalar para estar na África do Sul, o que até poderia nem ter de acontecer, caso tivesse sido um pouco mais bafejada pela sorte, pois até era cabeça-de-série. Acessível seria, por exemplo, um grupo com Israel (ou Bulgária) e Irlanda do Norte em vez das selecções nórdicas. De positivo, só talvez ter evitado a Inglaterra do pote 2.
De qualquer forma, Portugal tem obviamente as suas hipóteses.

CINCO MINUTOS À BENFICA !

Chamem-lhe garra, fúria espanhola, vontade de vencer, sorte ou qualquer outra coisa, a verdade é que a crueldade com que o Benfica tem marcado os seus golos – nos últimos instantes das partidas - tem sido absolutamente impressionante.
Dos 30 golos marcados em jogos oficiais, 12 (precisamente 40 %) foram obtidos para além do minuto 85, o que, atestando a forma como a equipa acredita em si até final dos jogos, não deixa de ser também um tremendo golpe psicológico nos adversários.
O norte-americano Freddy Adu tem sido neste aspecto particularmente feliz. Anotou já 3 golos em período de descontos (E.Amadora 91’, V.Setúbal 93’ e Académica 94’), e um no minuto 89 da partida com o Marítimo ! Curiosamente, marcou ainda mais um outro golo nos descontos, no jogo do Bonfim, mas… na primeira parte. Petit (ao Leixões 89’), Rui Costa (ao Copenhaga 88’) Luisão (Académica 85’), Katsouranis (P.Ferreira 87’), Nuno Gomes (Milan 93’ e Boavista 85’ e 89’) e Cardozo (ao Celtic 87’) foram os restantes matadores desta estranha sequência.
Na época passada, como se lembram, era o Sporting a marcar no início das partidas.

O GOLO DE QUARESMA

VEDETA DA JORNADA

QUARESMA: Não foi uma jornada dada a grandes protagonismos individuais. Pelo regresso às boas exibições, e pelo fantástico golo marcado, a distinção assenta bem ao extremo portista.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

O único caso a apontar nos jogos em que participaram os grandes, foi uma falta na área cometida sobre Lisandro Lopez que ficou por assinalar no Dragão. Como o Porto venceu, a classificação segue sem correcções:
BENFICA 27
F.C.Porto 26
Sporting 19

TRÊS PONTOS CAÍDOS DO CÉU

Em terra de doutores, quase se pode dizer que o Benfica passou o exame sem saber ler nem escrever.
VEDETA DA BOLA esteve em Coimbra, e viu um Benfica amorfo, demasiado expectante, falho de imaginação, e parecendo esperar que os golos e a vitória lhe acabassem por cair do céu, o que de resto viria a acontecer. Pode-se agora enaltecer a raça, a mentalidade e todos os vectores emocionais que têm feito da equipa de Camacho uma equipa ganhadora, mas o que é certo é que foi o infeliz guarda-redes da equipa dos estudantes o principal (único?) responsável pelo resultado do jogo de sábado.
Há condicionantes que explicam as dificuldades encontradas pelo Benfica. Em primeiro lugar, as ausências – sobretudo a de Rodriguez, eventualmente o melhor jogador da equipa nas últimas semanas -, e as necessárias alterações para as colmatar. Em segundo lugar, a aproximação de um ciclo infernal de jogos (Milan, Porto e Shakhtar), onde se decidirá muito daquilo que pode ser o resto da época dos encarnados, e que em momento algum terá naturalmente saído da cabeça dos jogadores. Finalmente, a lesão de Nuno Assis, logo na fase inicial da partida, que obrigou Camacho a uma alteração estrutural que não estaria certamente nos seus planos, e poderá também ter condicionado a prestação global da equipa.
O resultado de tudo isto foram as enormes dificuldades que o Benfica sentiu para derrotar uma equipa que, ainda assim, deixou perceber francas limitações, sem as quais dificilmente os encarnados teriam saído do campo com os três pontos.
Como o que conta é o resultado, ora aí está o Benfica, com cinco vitórias consecutivas, há trinta e dois jogos sem perder, e apostado em reduzir, na próxima semana, para um pontinho apenas a sua diferença para o líder. Assim se compreende o clima de festa em que terminou a partida de Coimbra, onde dos dezasseis mil espectadores presentes, pelo menos dez mil seriam apaniguados do clube da Luz, que na noite fria de Coimbra acabaram bem aquecidos com mais uma vitória obtida nos últimos instantes de jogo.
Individualmente, há que destacar as prestações de Rui Costa – o mais constante ao longo dos noventa minutos – , a primeira parte de Di Maria, que parece querer regressar às exibições que o fizeram dar nas vistas na fase inicial da temporada, e a segurança e sobriedade do regressado David Luíz. Depois, claro, o golpe de calcanhar de Luisão, e mais um golo de Freddy Adu. Tudo o resto foi pobre, muito pobre.

LEÃO VOLTA A VACILAR; DRAGÃO VOLTA ÀS VITÓRIAS

Vi muito pouco do Leixões-Sporting, e em condições muito deficientes – num ecrã do centro comercial contíguo ao Estádio Municipal de Coimbra, enquanto comia. Não me pareceu, pelo que vi, que o Sporting tivesse jogado mal, mas mais uma vez viu fugir-lhe a vitória, e está já a dez pontos da liderança e seis do segundo lugar.
Matematicamente, tudo ainda é possível – na época transacta os leões estavam a nove pontos de distância à vigésima jornada, e acabaram a apenas um. Mas, ou o Sporting investe fortemente no mercado de Janeiro, e corrige alguns desajustamentos estruturais do seu plantel, ou as hipóteses de sucesso na Liga me parecem pouco menos que condenadas. Até porque, ao contrário do Benfica – cujas deficiências têm mais a ver com a coesão e os automatismos que ainda estão por conseguir -, os problemas do Sporting têm tendência agravar-se, quando o desgaste acumulado começar a pesar sobre um grupo curto e envolvido em várias competições. O Sporting apenas venceu seis dos últimos dezoito jogos (um terço portanto), e estou em crer que, ou encontra rapidamente o caminho das vitórias, ou toda a sua estrutura técnico-directiva verá a contestação atingir níveis insustentáveis, com consequências que são, neste momento, difíceis de imaginar.
O F.C.Porto regressou às vitórias, batendo uma das equipas mais interessantes desta edição da Liga, e realizando uma exibição à altura da liderança que mantém desde o início da prova.
Marcando cedo, os portistas não mais perderam o controlo do jogo, e salvo nos minutos imediatamente anteriores ao segundo golo, nunca viram perigar uma vitória absolutamente incontestável.
Agora segue-se o Liverpool – um jogo em que Jesualdo não apostará muito – e a visita à Luz, onde teremos então decerto um F.C.Porto firmemente empenhado em não perder a preciosa vantagem de que dispõe na tabela classificativa.

JOGOS PARA A ETERNIDADE (11) - Benfica-Manchester United, 2-1 / 2005


Quando se aproxima mais uma jornada europeia de elevadíssimo grau de dificuldade para o Benfica, é talvez o momento de recordar uma outra, de características similares, que redundou numa noite de glória verdadeiramente inesquecível. Falo do Benfica-Manchester United de 2005, que foi, sem dúvida alguma, um dos jogos da minha vida, e o qual só não foi antes chamado a esta rubrica de forma a manter o distanciamento temporal que permita evocá-lo como uma verdadeira recordação do passado. Decorridos alguns anos, parece ser altura para lembrar essa deliciosa noite.
Estávamos na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, onde o Benfica se encontrava depois de uma ausência de alguns anos. Para os lados da Luz, estava ainda bem viva a conquista do título nacional meses antes, que interrompera onze anos de jejum, e levara o clube de volta aos principais palcos do futebol europeu. Apesar de toda a euforia do título, que ainda envolvia os adeptos, poucos apostariam que o Benfica conseguisse ultrapassar esta fase, sobretudo depois da derrota em casa com o Villarreal - à partida, o seu principal adversário, tomando como seguro que ao todo poderoso Manchester United nunca fugiria um dos lugares de apuramento.
O Benfica iniciou a prova com uma preciosa vitória sobre o Lille na Luz, obtida com um golo de Miccoli no último minuto. Depois foi derrotado em Old Trafford, empatou em Villarreal, perdeu em casa com os espanhóis, e foi empatar a Paris com o Lille. Chegou à derradeira jornada em último lugar, com 5 pontos, face aos 6 de Lille e Manchester United, e aos 7 do surpreendente líder Villarreal.
Só a vitória interessava, e permitia, sem quaisquer dependências, a qualificação. Qualquer outro resultado eliminava sumariamente o Benfica da prova rainha, e um eventual empate nem sequer garantia a repescagem para a Taça Uefa. O Manchester não podia perder, jogando também nessa noite o apuramento, depois de uma fase de grupos bastante sinuosa, na qual perdera já nove pontos em cinco jogos. O panorama era pois de autêntico mata-mata, e, para agravar, o Benfica tinha de o enfrentar com vários jogadores lesionados, tais como Manuel Fernandes, Ricardo Rocha, Karagounis, Miccoli, e, sobretudo, o capitão Simão Sabrosa. Era o que se poderia chamar, uma missão impossível.
Mas há noites em que algo de mágico parece acender as velas da nossa esperança. Fui para o estádio bem cedo, e embora, como quase toda a gente, não visse forma de o Benfica conseguir ultrapassar o tremendo obstáculo que tinha diante de si, sentia por dentro uma estranha fé, capaz de transmitir uma difusa sensação de que era possível ocorrer o verdadeiro milagre com que sonhava. Afinal eram onze contra onze, e a bola seria, com toda a certeza, redonda.
O ambiente em redor da Luz era, naturalmente, o dos grandes jogos. A lotação estava esgotada havia semanas, e a tensão nervosa era electrizante.
O Benfica alinhou com Quim, Alcides, Luisão, Anderson, Léo, Nelson, Petit, Beto, Nuno Assis, Nuno Gomes e Geovanni, enquanto o Manchester United fazia actuar Van der Sar, Neville, Ferdinand, Silvestre, O’Shea, Smith, Fletcher, Scholes, Ronaldo, Rooney e Van Nistelrooy. Os técnicos eram Ronald Koeman e Alex Ferguson.
Desde que o jogo teve início, logo se percebeu que Cristiano Ronaldo não seria poupado a assobios. Cada vez que o jovem português tocava na bola, sessenta mil pessoas faziam um barulho ensurdecedor, factor que terá sido responsável pela pobre exibição que o puto maravilha – ainda relativamente pouco experiente - realizou nessa noite. Ao ser substituido, Ronaldo, de cabeça perdida, faria um gesto indelicado para as bancadas, o que lhe viria a valer um castigo. Estou em crer que se hoje voltasse à Luz, tudo seria perdoado.
Mas as coisas não começaram nada bem para o a equipa portuguesa, muito pelo contrário. Logo aos seis minutos, uma falha de marcação permite um cruzamento para a pequena área, onde Paul Scholes bateu Quim de forma pouco ortodoxa – a bola apenas passou uns centímetros da linha de golo, mas os suficientes para o Benfica se ver em desvantagem no marcador. Se as dificuldades já eram muitas, um início de jogo tão infeliz parecia ser o pronuncio de uma noite de desilusão, ainda que, com as expectativas tão baixas, essa palavra fosse até de algum modo excessiva. Quaisquer palavras que utilizássemos, o que parecia certo era o natural apuramento dos Red Devils, e a eliminação dos encarnados da Luz.
Recordo bem a forma como, impulsionados pelas claques, os benfiquistas de imediato apoiaram a equipa, fazendo-lhe sentir que tudo ainda era possível. Terá sido um dos jogos em que me recordo de um apoio mais vibrante vindo das bancadas. A Luz, nesse dia, foi mesmo um verdadeiro inferno.

A reacção dos jogadores foi espantosa. Desde esse minuto seis, até ao final da primeira parte, assisti a melhor exibição do Benfica dos últimos dez anos. Segurança defensiva, critério na troca de bola, ataques rápidos e perigosos. Todos pareciam capazes de comer a relva e engolir a bola. Os golos teriam de surgir.
E surgiram mesmo. Primeiro Geovanni – cirurgicamente aproveitado como ponta-de-lança -, a cruzamento de Nelson. Era o empate, era a devolução da esperança à Luz, repondo tudo na estaca de partida. Pouco depois seria a vez do improvável Beto – mal amado pelos sócios – rematar de fora da área, na sequência de um ressalto, batendo sem apelo o gigante Van der Sar. Parecia impossível, mas o Benfica tinha consumado uma cambalhota no resultado. Mas faltava ainda muito, muito tempo.
Van Nistelrooy e Ronaldo têm boas oportunidades, mas à beira do intervalo, em mais um lançamento para as costas da defesa inglesa, o veloz Geovanni escapa-se, isola-se, e acaba rasteirado mesmo sobre a linha limite da área. Todo o estádio se levantou esperando o penálti (ou, no mínimo, o perigoso livre) e o respectivo cartão vermelho. Tal como sucederia poucos meses depois frente ao Barcelona, o Benfica provou também aqui um pouco daquilo que é uma indesmentível protecção da Uefa, e das suas arbitragens, aos nomes financeira e comercialmente mais fortes. O árbitro nada assinalou, e perdia-se assim uma excelente ocasião para dilatar a vantagem, e assegurar algum conforto para uma segunda parte que se antevia dramática.
Chegou-se ao intervalo com 2-1. Ninguém sabia, mas seria este o resultado final.
Devo dizer que, durante quase toda a partida, perante uma vantagem tão frágil – e o empate, recorde-se, não chegava -, contra tão forte adversário, nunca me convenci plenamente da possibilidade de êxito do Benfica. De certo que a qualquer momento Cristiano Ronaldo, Van Nistelrooy ou Rooney, num lance individual ou colectivo, numa falha ou por via de um qualquer golpe de genialidade, acabariam por repor a natural hierarquia do jogo. Era esse o meu espírito quando, nos corredores da Luz, discutia ao telefone com amigos as incidências da primeira parte.
O segundo período iniciou-se, e pouco depois Ronaldo atirou uma bola ao poste. O tempo ia passando, o Manchester pressionava, mas a torre de centrais que o Koeman colocava na sua área (Alcides, Luisão e Anderson) ia chegando para tudo. O relógio parecia andar para trás, mas a realidade é que o Benfica se aproximava de um feito notável. A meio da segunda parte comecei, enfim, a acreditar que o milagre seria possível.
A ponta final do jogo foi de um dramatismo indescritível. O estádio rebentava de um misto de euforia e ansiedade, que criava um clima onde mesmo um experiente adversário, como o Manchester United, tinha dificuldade em jogar. O Benfica dava mostras de uma união fortíssima entre os seus jogadores, e conseguia, a espaços, contra-ataques perigosos - recordo dois, concluídos por Geovanni e João Pereira (entretanto entrado) com remates ao lado. A equipa de Alex Ferguson começava a perder a cabeça, e insistia cada vez mais num chuveirinho para a área, que soava a música celestial para os centrais benfiquistas.
Quando o árbitro (se não estou em erro, o grego Vassaras) apitou para o final, tudo parecia tratar-se de um sonho. Muitos dos adeptos, ainda sintonizados com os tempos de glória europeia do clube, terão encarado a passagem com felicidade, mas com alguma naturalidade. Para mim - e para muitos outros - foi um feito extraordinário, e terei ficado tão feliz como quando, anos antes, por duas vezes, vi na Luz o Benfica apurar-se para a própria final da prova. Este era aliás, o momento do reencontro do Benfica com a sua história, e era, na verdade, algo que fazia a Europa abrir a boca de espanto.
A noite foi de festa, com passagem por várias das principais "capelinhas" de Lisboa. Das Docas ao Bairro Alto, terminando ao som da música do Lux, mesmo à beirinha do Tejo, sempre com muita cerveja e muita euforia. Prometi a mim próprio que só me iria deitar depois de ler “A Bola” do dia seguinte, e recordo perfeitamente de, já com o sol a nascer, comprar de enfiada, numa estação de serviço, todos os jornais desportivos do dia, e deleitar-me a folheá-los antes de adormecer sobre uma nuvem de felicidade.
O Benfica terá atingido, nessa noite, um dos pontos mais altos da sua história internacional nas últimas décadas. Seguiu-se a também inesquecível eliminatória com o Liverpool, e depois a infelicidade de apanhar, nos quartos-de-final, com a melhor equipa da competição - o Barcelona já de Messi, e ainda de Ronaldinho Gaúcho, Deco, Eto'o, Puyol e companhia, que seria o natural campeão europeu da temporada.

ALTA VOLTAGEM NO CLÁSSICO SUL-AMERICANO

Grande partida de futebol a madrugada passada no Morumbi entre Brasil e Uruguai. Jogo digno de uma fase final, com muita velocidade, recheado de lances espectaculares e oportunidades de golo, sobretudo na baliza do Brasil. Grande injustiça a derrota de um super-Uruguai, onde Cristian Rodriguez (encheu o campo), Maxi Pereira (fez o cruzamento para o golo) e Fucile brilharam a grande altura. Grandes exibições de Luís Fabiano, autor dos dois golos do escrete, e do guarda-redes Júlio César, o melhor em campo e aquele que acabou por fazer a diferença perante o desacerto de Carini no lado oposto.
Para quem não viu, repete hoje às 21.30h na Sport Tv.

EXERCÍCIOS ESPECULATIVOS

Realiza-se no próximo dia 2 o sorteio para a fase final do Euro 2008. Estranhamente, a Uefa designou como cabeças de série a Áustria, a Suiça, a Grécia e a Holanda, remetendo, por exemplo, a campeã do mundo Itália para o pote 2, e a vice-campeã França para o 4º e último lote de equipas. Portugal estará no pote 3, juntamente com Espanha, Alemanha e Roménia, selecções que portanto não encontraremos na fase de grupos.
Quer isto dizer que o sorteio tanto pode ser muito bom, como...muito mau. Pode-nos calhar um grupo englobando, por exemplo, a Áustria, a Suécia e a Turquia, ou um outro juntando Holanda, Itália e França, o que são, convenhamos, realidades bem distintas. Olhando à configuração dos potes, no meu ponto de vista, interessa sobretudo evitar Itália e França. Se isso for conseguido, não se poderá falar em azar, muito pelo contrário.
Os potes estão assim definidos:
POTE 1: Grécia, Áustria, Suíça e Holanda.
POTE 2: Itália, Croácia, Suécia e República Checa.
POTE 3: Portugal, Alemanha, Espanha e Roménia.
POTE 4: Rússia, França, Turquia e Polónia.
Antes, já este domingo, decorre na África do Sul o sorteio da fase de qualificação para o Mundial 2010. Nesse, Portugal é cabeça-de-série.
Continuando com o pensamento em Junho próximo, reflictamos desde já sobre os eventuais convocados para a competição. Aqui vai uma proposta. GUARDA-REDES: Ricardo, Quim e Paulo Santos DEFESAS: Bosingwa, Ricardo Carvalho, Pepe, Marco Caneira, Paulo Ferreira, Fernando Meira e Bruno Alves MÉDIOS: Petit, Maniche, Deco, Miguel Veloso, Raul Meireles e Tiago AVANÇADOS: Cristiano Ronaldo, Hugo Almeida, Quaresma, Simão, Nani, Nuno Gomes e Hélder Postiga.

EUFÓRICO, POIS CLARO !

Quase me apetecia dividir esta crónica em duas partes: uma para o empate e o apuramento de Portugal para o Euro 2008, e outra para a forma como ele foi entendido por alguns jornalistas, comentadores e afins.
Em primeiro lugar, é de salientar a forma como o povo do norte apoiou a selecção, dissipando todas e quaisquer desconfianças que pudessem existir a esse respeito. O estádio estava cheio, e o apoio foi constante, mostrando que felizmente há – como por vezes esquecemos, mas é justo reconhecer – muito Porto para além do fanatismo e facciosismo de alguns. Suponho que nesse particular, a selecção nacional e os portuenses (e portistas) tenham ontem dado um importante passo no sentido de esquecer alguns mal entendidos do passado recente, e partir para uma nova etapa, na qual possa ser possível enfim congregar todo o país em redor da equipa das quinas. Ontem o Porto mereceu a festa e o apuramento. Honra lhe seja feita.
Quanto ao jogo, devo dizer que não diferiu muito daquilo que esperava. Uma Finlândia expectante, a apostar na sua frieza, e num eventual erro que lhe pudesse valer o golo, e Portugal fazendo tudo para chegar cedo a uma vantagem que lhe pudesse conferir maior segurança na abordagem ao resto do jogo, mas com algumas dificuldades no seu processo ofensivo, resultantes sobretudo da ausência de Deco – estratega indispensável a esta equipa -, e do menor fulgor de Quaresma e Cristiano Ronaldo.
A selecção nacional criou algumas oportunidades, obrigou Jaaskelainen a brilhar, e fez até o suficiente para justificar uma vitória. Não empolgou, é um facto, mas há que salientar que a natureza deste jogo dificilmente poderia permitir uma atitude muito diferente à equipa de Scolari, do que aquela que manifestou. Teria sido suicida se Portugal trocasse a segurança com que desenvolveu as suas transições, por uma maior espectacularidade que, diga-se, não estava, com tantas ausências e tantas dificuldades na montagem da equipa, em condições de proporcionar. Aliás, a Finlândia também está longe de ser um adversário dócil, tratando-se antes de uma equipa madura, organizada, forte fisicamente e que chegava ao Dragão apostada em fazer história. Quase o conseguiu.
Nos minutos finais houve tempo para sofrer bastante. Os nórdicos subiram finalmente no terreno e, sobretudo nalguns lances de bola parada, ainda nos assustaram a todos, como por exemplo naquele corte deficiente de Bruno Alves que quase traía Ricardo. O apito final soou como um alívio. O empate foi aquilo que precisávamos para fazer a festa e seguir para a fase final, objectivo primeiro e último desta fase de apuramento.
Agora haverá tempo para preparar estes e outros jogadores, recuperar lesionados, e com toda a gente em boa forma, abordar então o Euro com confiança e determinação em conseguir mais uma campanha ao nível do que tem sido comum com Scolari. Até lá muita coisa se vai passar, mas estou seguro de que o nível futebolístico que a selecção nacional poderá oferecer em Junho, será com certeza superior ao que lhe tem sido possível apresentar nos últimos meses.
Quando se pensava que a conferência de imprensa com o seleccionador nacional ia ter como pano de fundo a consagração de um feito alcançado, eis que alguns jornalistas insistiram, de forma tão ridícula quanto absurda, no facto de a selecção nacional não ter ganho o jogo, não ter dado espectáculo, e não ter esmagado os finlandeses, e todos os outros adversários que foram ficando para trás. Não foi nada que não me passasse pela cabeça, sobretudo depois de ver a inacreditável reportagem da SIC Notícias à saída do estádio, na qual o (suponho) editor de desporto do canal, entrevistava adeptos, e quase violentando as suas opiniões os induzia a criticar a selecção e o seleccionador de forma extraordinariamente obstinada.
Obviamente que Scolari – que irá disputar a terceira fase final em quatro anos desta sua aventura portuguesa - perdeu a paciência e foi-se embora. Eu teria feito o mesmo.
Nunca em trinta anos de futebol vi ninguém festejar exibições. Os jogos, as competições, os campeonatos são definidos pelos resultados e pelas classificações. São estas que levam os adeptos às ruas, que nos fazem vibrar de euforia, ou que, ao invés, nos roem por vezes de amargura e nos banham em lágrimas. O futebol é um jogo em que as equipas procuram ganhar jogos, títulos ou qualificações. Quando não conseguem os adeptos ficam tristes e decepcionados, quando, pelo contrário, os objectivos são alcançados, o mais natural é que reine a alegria e a felicidade. Parece bastante simples e linear, mas no nosso país, cheio de teóricos de algibeira, não o é.
Portugal conseguiu o seu objectivo, deixando de fora um ex-campeão da Europa, e um ex-vice-campeão, no único dos grupos que tinha cinco (!) candidatos ao apuramento. Enfrentou grandes dificuldades para formar um onze coeso, fruto das saídas, por diferentes motivos, de Figo, Costinha, Nuno Valente e Pauleta, e das inúmeras lesões que marcaram os momentos decisivos desta fase de qualificação (para este jogo Scolari não dispunha de “apenas” Paulo Ferreira, Miguel, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Petit, Deco e Hugo Almeida !, todos eles potenciais titulares). Acabou por cumprir os catorze jogos cedendo apenas uma derrota tangencial. Apurou-se com três pontos de vantagem. O que é preciso fazer mais ?
Sou do tempo das vitórias morais. Do tempo em que as fases de qualificação começavam invariavelmente de modo empolgante, mas na altura das decisões, quase sempre com uma vistosa exibição, Portugal ficava pelo caminho, chorando pontos mal perdidos, bolas que não entraram, falhas deste ou daquele, lamentando, de lágrima no olho, o triste fado português. Scolari acabou com isso, e Portugal tem sabido, com ele, afirmar-se nos momentos decisivos, e chamar a si um sucesso alicerçado numa força mental e numa capacidade competitiva notáveis. Foi assim que, no meio de críticas, insultos, incompreensões e ataques mais ou menos pessoais, levou a nossa selecção a uma final de um Europeu – coisa que nunca tinha acontecido -, e às meias-finais de um Mundial, repetindo a histórica saga dos magriços.
A Inglaterra ficou de fora, França, Holanda e Espanha só in-extremis conseguiram as suas classificações. A Itália, campeã do mundo, qualificou-se nos minutos de desconto do último jogo, festejou exuberantemente, e duvido que alguém se tenha insurgido contra Donadoni por jogar bonito ou feio, defender assim ou assado, atacar com este ou aquele. O que pensam afinal estes nossos senhores “comentadores” sobre o que é o futebol internacional da actualidade?
Se, por exemplo, no caso do Benfica, ainda é desculpável algum saudosismo das exibições e resultados do tempo de Eusébio e dos títulos internacionais então conquistados, à selecção nacional, sem qualquer palmarés relevante, estar-se agora a exigir que massacre todos os adversários, que dê show a cada partida que disputa, que consiga apuramentos antes de toda as mais poderosas selecções da Europa, soa a alarvidade. Tal atitude não faz qualquer sentido à luz de nenhuma lógica, e como tal só pode significar bastante má vontade, caso não lhe queiramos chamar estupidez.
Foi graças a esta mentalidade lunática e sonhadora, a esta mania de grandezas mal dissimulada, a esta constante atracção retórica para o abismo, que Portugal muitas vezes se afundou a si próprio, desperdiçando recursos e virtudes, no futebol e noutros aspectos da sua história. Já é tempo de mudar. Na sua área, Scolari tem contribuido para essa mudança, e o país devia estar-lhe grato por isso.
Vamos pois festejar este apuramento, e ignorar o ruído que alguns - uma sonora minoria - têm feito à volta dele. Portugal está na elite das 16 melhores selecções da Europa. Isto basta. Para já…
Viva Portugal !

ÀS ARMAS !

19.45 Estádio do Dragão
PORTUGAL: Ricardo, Bosingwa, Bruno Alves, Fernando Meira, Marco Caneira, Miguel Veloso, Maniche, Simão Sabrosa, Ricardo Qauresma, Nuno Gomes e Cristiano Ronaldo.
FINLÂNDIA: Jaaskelainen, Pasanen, Tihinen, Hyypia, Kallio, Heikkinen, Tainio, Kolkka, Sjolund, Johansson e Forssell.

SELECÇÃO OU CLUBE, QUEM MANDA MAIS NO NOSSO CORAÇÃO

Mesmo aqui ao lado, numa das caixas de – poderei assim chamar-lhe – "sondagem", é pedido ao leitor que diga se o seu entusiasmo se faz sentir mais com os jogos e as vitórias da selecção nacional, ou com os do seu clube. É justo que, mediante tão pertinente desafio, a "casa" manifeste também a sua opção, embora quem por aqui tenha o hábito de passar, já deva saber de algum modo as linhas com que por aqui se vai cosendo.
Pois bem. Para mim é perfeitamente equivalente a emoção, a intensidade, e a vibração que sinto perante um jogo da selecção nacional e um jogo do meu clube – como sabem o Benfica. Clube e selecção preenchem diferentes e complementares espaços da minha vivência futebolística e desportiva, e um e outro a ela fazem falta. É, mal comparado, quase como ter de escolher entre dois filhos, dois irmãos ou o pai e a mãe. Quase sempre assim foi, desde o longínquo ano de 1976, quando, numa noite de Novembro, se jogou na Luz primeiro jogo da selecção nacional do qual tenho memória, ainda que difusa – um Portugal-Dinamarca, que ganhámos por 1-0 com um golo de Manuel Fernandes, e no qual se estreou um menino de barbas chamado Fernando Chalana.
Saía-se então de um período em que, fruto da revolução de Abril, de alguns equívocos ou excessos com ela relacionados, e de uma descolonização tardia e conturbada, a selecção era maldita pelo povo e considerada tão fascista como o Estádio Nacional mandado construir nos anos quarenta por Oliveira Salazar. Foi o tempo em que o próprio futebol era, à boa maneira marxista, proclamado como ópio do povo, e factor de alienação das atenções da classe operária. E era-o justamente por muitos dos que, anos mais tarde, bem estacionados na vida, de pronto esqueceram os desfavorecidos, contribuindo do alto do poder que entretanto conquistaram na sociedade, para um sistema amplamente reprodutor de desigualdades, da ansiedade social, do desemprego e da exclusão, que antes tanto diziam combater, mas que está aí bem de pé. Mas enfim, aqui é de futebol que se fala.
Queria eu dizer que foi justamente numa fase em que a selecção procurava re-ocupar o seu lugar no desporto português que eu a ela aderi de coração aberto, como só uma criança é capaz de fazer. Foi sem dúvida a minha mais precoce manifestação de patriotismo, e ainda hoje permanece como a principal delas, pois nunca como nos jogos da selecção me comovi a ouvir o hino nacional, e poucas vezes senti tanto orgulho em ser português como em algumas das vitórias da nossa selecção.
Mas para além da redundante condição que me é dada pela nacionalidade, a selecção portuguesa sempre representou para mim um bocadinho mais do que isso, até porque o meu patriotismo lacto sensu nunca passou da mediania. A selecção não só era a equipa do meu país, mas também a minha equipa, ou melhor, uma das minhas equipas. Os apuramentos para o Euro 84, e Mundial de 86, e as respectivas fases finais, representaram o sedimentar dessa paixão que, com altos e baixos, se foi mantendo até hoje, tendo talvez como ponto alto a inolvidável vivência do Euro 2004 – meti férias e andei de estádio em estádio a saborear o evento -, sem esquecer o dramatismo com que vivenciei os melhores momentos do último mundial, e que aqui partilhei convosco na altura.
Momentos houve em que o Benfica significou para mim bastante mais do que a selecção nacional. Lembro-me, por exemplo, do período pós Saltillo, durante o qual o Benfica foi a duas finais europeias enquanto a selecção permanecia mergulhada no caos, entre indisponíveis e seabrinhas, entre a vergonha e o desconsolo. Mas também não é menos verdade que noutras alturas, foi a selecção a tomar a dianteira das minhas atenções e da minha paixão futebolística, como por exemplo no final dos anos noventa, quando o "valeeazevedismo" dominava o clube da Luz, e na selecção despontava a grande fornada dos Figos, Rui Costas et autres Fernando Coutos, que ainda por cima já haviam saído dos clubes portugueses, elevando-se assim a um plano de supra clubismo capaz de fazer recrudescer afectos e angustias, e aglutinar atrás de si todo o país desportivo, como de certo modo veio a acontecer nos anos posteriores.
Portanto a relação amor clubista versus amor selecção nacional é para mim perfeitamente simétrica, sendo que em oportunidades diferentes me chego mais para um ou outro lado, conforme as circunstâncias do momento. Nesta medida, não custa também reconhecer que muitos dos jogos das últimas fases de qualificação, frente a selecções como o Liechtenstein, Azerbaijão, Cazaquistão, Luxemburgo, Andorra etc, não se me afiguraram particularmente estimulantes. Tal aliás, como se o Benfica enfrentasse o Vilafranquense ou o Pêro Pinheiro para a Taça de Portugal, onde o reduzido interesse competitivo me causaria decerto um quase total alheamento.
E, por falar em clubes mais pequenos, há ainda o Juventude da minha terra, que acompanho sempre que posso, e muitas vezes também disputa este, por assim dizer, “campeonato”, onde cada um tem o seu papel, e todos constroem, pedra a pedra, vitória a vitória, a paixão irreprimível que tenho por este jogo, que a todos nos move, que todos amamos e a todos nos une.
Para finalizar, deixo apenas uma reflexão/confissão que me parece oportuna: se pudesse escolher entre a passagem do Benfica aos oitavos-de-final da Champions, e a presença de Portugal no Euro 2008, não hesitava e optava pela segunda.

QUEREMOS MAIS...

CUMPRIR UMA FORMALIDADE OU ESCREVER HISTÓRIA

Se Portugal se classificar para o Euro 2008, fá-lo-á pela quarta vez em todo o seu historial (para o Euro 2004 classificou-se de forma automática). Quer isto dizer que, em onze fases de qualificação disputadas, Portugal apenas foi bem sucedido em três, e em todas elas apenas alcançou o objectivo na última jornada, tendo, curiosamente, sempre a antiga Luz como palco. Em 1983 derrotando a União Soviética por 1-0, em 1995 vencendo a Irlanda por 3-0, e em 1999 triunfando sobre a Hungria também por 3-0.
Tudo isto vale por dizer que, caso amanhã consiga selar o apuramento, estar-se-á a escrever história, e não a cumprir uma mera formalidade como alguns parecem fazer crer. E não adianta falar de Cristiano Ronaldo, Simão ou Quaresma, pois o próprio Eusebio nunca jogou uma só fase final de um Europeu.
A história serve precisamente para estabelecer hierarquias: relativizar algumas coisas, dando o devido valor a outras. Quem tenha a memória curta, ou seja simplesmente mais jovem, terá tendência a entender como uma fatalidade a selecção nacional estar presente em todas as provas internacionais, e como uma imperiosa obrigação estar na fase final do próximo verão. Quem, como eu, se lembra de inúmeras qualificações frustradas, sabe que as coisas não são assim tão simples.
Ontem, num programa televisivo, um inquérito dava conta de um enorme grau de insatisfação face à carreira da selecção nacional. Fiquei pasmado. Bem à portuguesa, e ao nosso tradicional "oito ou oitentismo", por não esmagarmos a Arménia, já somos os piores do mundo, mesmo estando à beira de um - é importante realça-lo - feito histórico.
Por mim, digo-o com franqueza, um empate no jogo do Dragão deixar-me-á extremamente feliz.
Depois, em Junho, se verá realmente até que ponto teremos condições para sonhar mais alto ou não.

ERROS DE CÁLCULO

Quem frequenta habitualmente este espaço, sabe bem a forma como sempre tenho procurado combater a atitude de muitos dos adeptos do nosso futebol – em particular do Benfica -, que insistem em assobiar a sua equipa durante os jogos, não percebendo – ou não querendo perceber – o quanto isso a prejudica. Não entendo como se cospe no próprio prato em que se come, e acho sinceramente que mais vale ficar em casa do que ir ao estádio, de cachecol ao pescoço, ajudar os… adversários.
Parece que o vírus atacou também a, até agora, imune selecção nacional. Em Leiria, durante largos períodos de jogo, assobios ouviram-se desde as bancadas, aumentando os níveis de ansiedade que a equipa decerto já sentia, e contribuindo para deteriorar ainda mais da qualidade do espectáculo. A cidade do Liz não soube assim merecer a oportunidade que lhe foi dada de ver os melhores jogadores portugueses em acção, e é natural (e desejável) que a federação tenha isso em conta quando agendar os jogos de apuramento para o Mundial 2010, bem como, assim o esperamos, os particulares de preparação para a fase final do Euro.
Mesmo descontando o facto de, como aqui já disse uma vez, pouco mais de meia centena de indivíduos conseguir, no meio do silêncio, fazer-se passar por uma enganadora multidão, devo dizer que este episódio de Leiria não me surpreendeu totalmente, surpreendendo-me, isso sim, o facto de este jogo ter sido lá marcado.
Se há cidades em Portugal onde me parece que as pessoas vivem de costas para o futebol, Leiria é uma delas. Dispõe de um estádio fabuloso, tem uma actividade industrial considerável, um bom nível de vida, e uma equipa desde há anos na divisão maior, mas o que é certo é que as assistências dos jogos do União local são reiterada e inexplicavelmente das mais baixas da Liga portuguesa, e seguramente das mais baixas de todas as principais ligas europeias. A agravar a situação, o União de Leiria é neste momento último na classificação, tem tido uma época conturbada, o que naturalmente potencia um ainda maior desencanto dos leirienses, que só nas últimas horas antes da partida esgotaram os cerca de vinte mil bilhetes à venda.
Não há mal nenhum em as pessoas não gostarem de futebol – ninguém a isso é obrigado -, o que não se pode, nem deve, esperar, é que essa indiferença venha a ser “premiada” com jogos decisivos da selecção, enquanto muitas outras pessoas, de muitas outras cidades, tudo dariam para ter Ronaldo, Simão, Quaresma etc, diante dos seus olhos. Aliás, já na qualificação para o Mundial Leiria recebeu um jogo e ainda esta temporada recebeu a Supertaça, enquanto que por exemplo o estádio do Algarve, o de Braga e o de Guimarães (este conhecido pelo entusiasmo e fidelidade dos adeptos) ficaram de fora das escolhas. Desconheço o momento em que foi definido o local deste jogo, mas suspeito que o mesmo tenha sido marcado já numa fase em que se perspectivava a sua importância, o que torna ainda menos compreensível a opção da FPF.
Mas o caso não fica infelizmente por aqui. Na próxima quarta-feira, a selecção nacional vai decidir o apuramento para o Euro 2008 no estádio de um clube que anda, desde há muito, em rota de colisão com o seleccionador nacional, e consequentemente, por muito que isso possa ser negado, com a federação e com a própria equipa. Aliás, cabe aqui uma nota para referir que o F.C.Porto, e a sua órbita de influência, nunca tiveram uma relação muito saudável com a selecção nacional. Desde os tempos de Pedroto, reforçados, sedimentados e refinados com Pinto da Costa, que os portistas, ou muitos deles, aprenderam a olhar de lado uma representação nacional que, ao fim e ao cabo, procura unir aquilo que eles, política e institucionalmente, sempre procuraram dividir. Nos últimos anos, primeiro o caso Baía, depois também – porque negá-lo - os excelentes resultados da equipa das quinas, que retiraram em certos momentos algum espaço (ao nível mediático, e emocional) às conquistas europeias do F.C.Porto – em 2004 viu-se um país em festa com as cores nacionais, menos de um mês depois de, perante a indiferença do país desportivo, o F.C.Porto se ter sagrado campeão europeu -, acentuaram essa, para ser simpático, indiferença. É no estádio do Dragão que Portugal se vai ter de qualificar para o Euro, o que demonstra, uma vez mais, a falta de perspicácia de quem agendou estes jogos, notória aliás também em face da própria calendarização e sequencia dos mesmos, permitindo por exemplo a marcação de uma deslocação à Arménia a meio de Agosto, ou à Bélgica após terminado o campeonato nacional, quando se impunha o aproveitamento dessas datas para a realização de jogos caseiros contra equipas menores.
Espero estar enganado. Acredito que quem irá encher o Estádio do Dragão o fará para apoiar Portugal, independentemente da maior ou menor simpatia que tenha pelo seleccionador nacional. Mas basta um breve olhar pela blogosfera – onde, ao contrário da comunicação social, o politicamente correcto fica à porta – para perceber o estado de espírito com que os portistas olham para a selecção, e até mesmo o desejo que alguns (muitos ?) deles terão de ver a equipa de Scolari ficar pelo caminho, seguindo aliás o exemplo do seu presidente que, ao que se sabe, festejou com champanhe a vitória grega no último europeu. Talvez que a utilização de Bosingwa, Bruno Alves, Raul Meireles, Quaresma, Pepe ou Hugo Almeida (se recuperar) possam ajudar a cativar apoios. Mas temo o pior, sobretudo se as coisas começarem de alguma forma a correr mal.