DE QUE SE FALA QUANDO SE FALA DE CRISE

"Quando o Benfica perde, é porque perde, quando ganha, é porque joga mal, quando joga bem é porque os adversários erraram. Não há como calar a gritaria que se ouve sempre que acontece alguma coisa com a nossa equipa, de bem ou de mal, de certo ou de errado, de importante ou de acessório. Aconteceu assim com as últimas derrotas, mas sucedera o mesmo com as vitórias - nomeadamente na Taça da Liga. Em qualquer dos casos as críticas e as polémicas inundaram o espaço mediático do país, pelo menos enquanto o campeonato e o segundo lugar não ficaram entregues.
São problemas de dimensão, dirão uns. É uma campanha montada, dirão outros. A verdade é que a tranquilidade e a paz raramente moram na Luz. A palavra crise é constantemente atirada para cima dos benfiquistas, nela se resumindo todos os adjectivos com que se pretende atingir o clube. E por vezes são eles próprios, na sequência de um resultado ou uma exibição mais pobre, a olharem-se com enfado e a culpabilizarem jogadores, técnicos e dirigentes - por esta ou outra ordem – confundindo o natural sentimento de frustração com questões de natureza mais vasta, que não devem ser analisadas sob o espesso manto das emoções de um jogo de futebol.

Ganhar jogos e títulos é a razão de ser de qualquer grande clube. Mas não os ganhar, não deve, por si só, constituir motivo para tudo colocar em causa, para precipitar revoluções, ou para atrasar processos cujo andamento natural não pode ser quebrado, sob pena de, mais do que os campeonatos, se perderem também as rédeas do próprio futuro.
Quando falamos de crise, devemos pois ter a clara noção daquilo que está em causa, de quais são os problemas do Benfica de hoje, e quais eram os de há uns anos atrás, e saber relativizar o verdadeiro significado de uma ou outra exibição menos conseguida, de uma ou outra derrota mais dolorosa, ou mesmo de uma época futebolística decepcionante, até porque nenhuma equipa joga sozinha, a concorrência é forte, e as influências externas vão-se, aqui e ali, fazendo sentir. A insatisfação natural – apaixonada, mas nem sempre lúcida - pela perda de mais um campeonato, não pode justificar a alienação de todo um capital de crescimento e de vitalidade que o Benfica alcançou nos últimos anos, e que ninguém de boa fé poderá negar.
Ao contrário de um passado não muito distante, o Benfica, em 2009, não têm qualquer problema de credibilidade institucional, tem um modelo empresarial definido e profissionalizado, tem as contas equilibradas, dispõe de boas e modernas infra-estruturas, tem equipas a discutir os títulos de variadas modalidades, tem um canal próprio de televisão, mantém intacta a chama da sua grandeza e o calor dos seus adeptos, tem o futuro diante dos seus olhos. O problema actual do Benfica é meramente desportivo, dentro do âmbito desportivo é estritamente futebolístico. Resume-se, no fundo, aos anos que o clube leva sem conquistar o campeonato nacional, e estará totalmente resolvido no dia em que essa competição lhe voltar a sorrir – o que, para suceder com a frequência desejada, exige um longo caminho de coragem e paciência. Não se trata de desvalorizar aquilo que acima é descrito como a razão de ser do clube, mas sim de contextualizar a situação presente e aferi-la com rigor, até porque só um integral conhecimento dos problemas permitirá chegar às suas soluções. E não é certamente com estados de alma auto-destrutivos que isso se consegue.
A solução para os problemas da equipa do Benfica não é fácil de encontrar, mas não será seguramente tão difícil como foi resgatar o clube do abismo em que se encontrava em 2001. Hoje os problemas são diferentes, e a resposta terá que ser mais serena e ponderada. Não se pode confundir a árvore com a floresta. Não se pode confundir a dificuldade em conseguir os desejados resultados no futebol, com a vitalidade e o crescimento sustentado de um clube tão grande como o Benfica.

É pois importante que os benfiquistas deixem de contribuir para o foguetório de instabilidade, de pressões e de desesperos que, embora dando corpo ao natural instinto de desabafo, apenas servem, na prática, para colorir os interesses dos adversários. Com o esforço e o trabalho de uns, o apoio e a serenidade de outros, o Benfica será no futuro aquilo que os seus adeptos ardentemente desejam. Então sim, calar-se-ão para sempre as vozes da desgraça e do miserabilismo que hoje lhes perturbam os ouvidos e lhes entopem a alma."

LF em "O Benfica"

8 comentários:

Peter disse...

Brilhante não podia estar mais de acordo."São problemas de dimensão,dirão uns.È uma campanha montada,dirão outros..." Eu acredito nesta ultima, basta ver a pressão mediática e as arbitragens que o Benfica sofre para ver que está tudo preparadinho ao milímetro.
Esta história dos NN sai precisamente depois de uma boa vitória em Braga com um péssima arbitragem que prejudicou mais uma vez o Benfica.Tem que haver sempre algo de negativo, e a implicar desta vez claramente o presidente.

Vasco disse...

LF e as suas grandes reflexões!
LF poderia dizer o que acha do brasileiro RAMIRES, visto que tem amigos brasileiros e afins

Abraço, saudações benfiquistas

Vitória do Benfica disse...

Boa Tarde Luis Fialho

Já tinha lido o seu artigo no jornal O Benfica. Quero dar-lhe os parabéns por isso.
Tem toda a razão sobre a campanha mediática em torno do Benfica. Basta ver o que se disse do segundo golo do Benfica em Braga, da falha do guarda-redes Eduardo se falkou muito mas do drible do Di Maria nada se disse e nada se enalteceu.

Ontem no Programa Dia Seguinte Silvio Cervan esteve à altura de Guilherme de Aguiar. Este pediu á SIC para passar uma fotografia de LFV na casa de Condeixa, mas ninguém falou dos canticos contra o Benfica e dos impropérios contra o Benfica gritados pelos adeptos do FCP todo o desafio.

O Benfica tem de ganhar, penso que está no caminho, mas por favor não começem com a conversa de seremos campêos. è um erro enorme de gestão de expectativas. Nisso à muito trabalho as fazer. O Benfica paras ganhar tem de ter uma estrutura três vezes melhor que a do Porto

Saudações Benfiquistas

LF disse...

Peter,

O Correio da Manhã pertence à Cofina, que não perdoa à direcção do Benfica ter ficado fora da Benfica TV.
Daí para cá tem movido uma campanha vergonhosa contra o clube e o seu presidente.

A questão dos NN é um embuste.
Baseia-se no depoimento de um membro da claque, certamente também interessado em atingir o presidente que lhes negou apoio.

LF disse...

Vasco,

Já tem o posto fresquinho sobre Ramires e Chicão.
E as notícias são boas...

LF disse...

Vitória,

De um modo geral Silvio Cervan tem batido aos pontos Fernando Seara na defesa do clube.
Mas julgo que, particularmente, com Guilherme Aguiar, devia ser mais ríspido, e desmascarar as verdadeiras intenções do portista no programa.

Mas como são os dois de Gaia, e Silvio é director do clube, até compreendo algum cuidado.

Quanto à fotografia do presidente com o cachecol, não percebo qual seja o problema.
Se fosse com uma bandeira do Porto eu ficaria mais preocupado.

Vitória do Benfica disse...

Silvio Cervan ainda mais rispido??. Eu acho que quase se pegam. Eu acho Cervan é um pouco anjinho e muito inocente, devia ter um maior apoio e devia ser mais acutilante. Mas o andrade já não goza como gozava e desprestigiava no inicio

Anónimo disse...

Eh pah!!! Eu ia jurar que o LF ia escrever sobre a vergonha que foi o Benfica contratar o treinador da equipa adversaria contra quem ia jogar nessa semana e sobre a vergonhosa exibiçao do Eduardo (será que vai no pacote Jesus?)a facilitar a vida ao Benfica! Afinal não, afinal discursou sobre coisa nenhuma, chorando os azares, imaginando cabalas e conspirações e exaltando a grandeza desmedida do Benfica (da decada de 60...).
Há coisas fantasticas! Já agora, o que acha das palavras do Veiga???