UMA ESPÉCIE DE CLÁSSICO

Qualquer que seja o resultado do escaldante jogo de Braga, ambas as equipas ocuparão os dois primeiros lugares da tabela classificativa no final da jornada. Não é pois, nem pouco mais ou menos, um jogo decisivo.
Não é também, por muito que alguns o possam tentar insinuar, um teste definitivo para qualquer dos conjuntos. O Sp.Braga já ganhou ao FC Porto e ao Sporting, e não será um eventual desaire perante o líder que lhe irá comprometer a época. O Benfica já fez o suficiente (no Restelo, na Mata Real, com o Everton, com o Nacional etc) para merecer todo o crédito, mesmo que uma qualquer partida lhe venha a correr menos bem - até porque este é um dos três mais difíceis jogos de toda a Liga, e se vencerem os outros 27, os encarnados serão seguramente campeões.
Quem espera goleadas também não terá o gosto feito. A equipa de Domingos Paciência tem a melhor defesa do campeonato, joga em casa, e constituirá com certeza um adversário duríssimo para o Benfica. Mesmo sendo de atribuir algum favoritismo aos lisboetas (até por Jesus conhecer melhor o adversário), este tipo de jogos é normalmente decidido por detalhes, e assim deverá suceder uma vez mais.
Direi mesmo que, enquanto adepto do Benfica, não ficaria desiludido com um empate. Um eventual nulo permitiria manter a liderança e a invencibilidade, e estou em crer que não beliscaria minimamente a confiança da equipa face aos compromissos seguintes. Um campeonato não é um jogo de computador, e se há momentos em que o pragmatismo pode fazer campeões, este talvez seja um deles.
Espera-se que Jorge Sousa não estrague um espectáculo que tem todos os ingredientes para ser belo e apaixonante.

CASO PARA DESCONFIAR...

(clique para aumentar)
Não disponho dos dados anteriores, mas lembro-me de uma eliminação na Taça de Portugal, na Luz, diante do V.Guimarães, com um golo solitário obtido após domínio de Flávio Meireles com a mão; e com o mesmo adversário, de um penálti estapafúrdio por alegado encosto de Luisão a Romeu em 2004-05, num jogo disputado em Felgueiras.
É tido como um dos melhores árbitros portugueses, mas, que diabo, com este curriculo, nada aconselhava a sua nomeação para este jogo.
Também é verdade que as alternativas (Benquerença, Proença, etc) eram de fugir...

A SOCIEDADE PERFEITA

9 golos nos últimos dois jogos, 36 golos na temporada. Quem poderá parar Cardozo e Saviola ?

CLASSIFICAÇÃO REAL

Esta terá sido, provavelmente, a jornada com mais decisões polémicas, desde que se iniciou a Liga.
Em todos os jogos se verificaram vários erros graves, ainda que em termos de pontos só uma partida (a de Vila do Conde) origine correcções.
RIO AVE-SP.BRAGA
Apenas vi os golos, e na verdade, o do Rio Ave nasce de uma falta de João Tomás. Depois de tantas ajudas, chegou a vez do Sp.Braga também ser penalizado pelas arbitragens.
Resultado Real: 0-1

FC PORTO-ACADÉMICA
Uma arbitragem caótica deixou a sua marca em quase todos os golos. Mas logo na primeira parte, ao não sancionar um penálti cometido por Bruno Alves, Hugo Miguel começou a errar.
O central portista escapou, aliás, duplamente à expulsão. Quer nos dois amarelos que deveria ter visto e não viu, quer no vermelho que ficou por mostrar quando agrediu de forma selvática um seu adversário, primeiro com o cotovelo, depois com a bota, em mais uma demonstração de violência e da respectiva impunidade. Nada que não estejamos já habituados a ver nos relvados portugueses.
Esse lance (o da agressão) é impressionante. A forma como Bruno Alves o disputa é verdadeiramente elucidativa daquela que é a sua postura em campo, e deixa no ar a interrogação: será apenas a agressividade de quem quer ganhar e sabe que o pode fazer por todos os meios ? ou será mais alguma coisa ?
Um golo obtido por Farias em fora-de-jogo completa o ramalhete de ajudas aos da casa.
Mas há que dizer que ambos os golos da equipa estudantil ficaram também marcados pela ilegalidade. No segundo não tenho dúvidas, há mesmo mão na bola. No primeiro gostaria de ver outra imagem, mas infelizmente (por acaso ou não) a RTP apenas disponibilizou uma, onde parece haver infracção, mas não fica a certeza absoluta de tal acontecer. Sendo os indícios demasiado fortes, devo todavia, em justiça, retirar ambos os golos à Académica.
Resumindo, o Porto marcaria apenas duas vezes, e a Académica uma (a do penálti). Bruno Alves teria sido expulso com a sua equipa em desvantagem, mas todas as conjecturas que se possam fazer sobre essa eventualidade carecem de objectividade.
Resultado Real: 2-1

BENFICA-NACIONAL
Outra arbitragem péssima, igualmente com prejuízos para ambos os lados.
Na primeira parte assistiu-se a um verdadeiro show do fiscal-de-linha (chamemos-lhes assim) do lado dos bancos. Faltas mesmo nas suas barbas que fez que não viu, desorientação total, e para culminar, a validação do golo do Nacional, obtido em claro fora-de-jogo. Perto do intervalo foi poupada a expulsão a Patacas, que já com cartão amarelo protagonizou uma entrada violenta sobre Di Maria, passível de lhe valer o segundo cartão.
Ao intervalo temi o pior. Pensei como seria fácil a meia-dúzia de indivíduos vestidos de negro, reduzir a cacos toda a exuberância e talento de uma grande equipa de futebol.
Obviamente que o Estádio da Luz não podia ficar calado. A assobiadela monumental com que brindou a equipa de arbitragem ter-lhe-á feito sentir os erros que tinha cometido, e admito que o penálti (inexistente) assinalado aos três minutos da segunda parte possa ter tido origem nessa má consciência. Tenho dúvidas que exista simulação (parece mais um tropeção ou uma escorregadela), mas, de facto, não havia qualquer razão para grande penalidade.
Os erros não se ficaram por aqui.
Pouco depois, novamente o mesmo fiscal-de-linha (e como seria bom saber os seus nomes, de onde são, como apareceram no futebol etc), anula um lance de ataque ao Benfica que culminaria num golo de Saviola. Mais tarde, foi novamente a vez do Benfica ser favorecido, com a marcação da falta que originou o 5º (?) golo e expulsão (mais tardia do que injusta) de Patacas, num lance em que Ruben Amorim tropeça nas suas próprias pernas.
Espero não me estar a esquecer de mais nenhum lance.
Um grande espectáculo não pode ser apagado por uma exibição desastrosa do árbitro, para mais, quando acabou por não ser ele a definir o vencedor. Mas esta arbitragem prova a falta de categoria de alguns árbitros, e a falta de cuidado de Vítor Pereira ao nomeá-los para certos jogos.
Resultado Real: 5-0

V.GUIMARÃES-SPORTING
Dois erros claros marcam este jogo, um para cada equipa.
No lance do golo anulado a Caicedo, o equatoriano está em linha no momento do passe, pelo que se trata de um equívoco do assistente. Por outro lado, há um penálti, também na primeira parte, cometido por Vukcevic junto da linha de fundo, e que Olegário Benquerença não terá visto.
São ambos lances difíceis de avaliar sem recurso às repetições televisivas. Mas com estas, percebe-se claramente que os erros aconteceram.
No golo do Sporting, quando é efectuado o passe, Matias Fernandez está atrás da linha da bola, nada havendo assim que apontar à decisão do auxiliar.
Resultado Real: 2-2

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 24
Sp.Braga 19
FC Porto 17
Sporting 12

LEÃO SEM JUBA

Apesar de toda a cortina depressiva que se estende em redor da equipa, a verdade é que Sporting não está a fazer em 2009-10 muito pior do que fez nas últimas épocas.
Faz agora um ano (estávamos pois em 2008-09), os leões acabavam de perder em casa com o Leixões, e tinham, à 8ª jornada, somente mais um ponto do que têm agora – e os mesmos que somavam em 2005-06. Há duas épocas (2007-08) tinham perdido 9 pontos nos primeiros oito jogos, o que também está longe de ser um registo empolgante. Em 2006-07 fizeram um pouco melhor, cedendo ainda assim 7 pontos.
Com a excepção de 2006-07 (em que estava por esta altura a apenas 2 pontos da liderança), a regra deste período tem-nos mostrado o Sporting a atrasar-se logo na alvorada do campeonato, ficando rapidamente para trás no comboio de um título que não vence desde 2002. Tudo foi sempre tolerado, tudo foi sempre entendido. Só esta época a contestação se generalizou.
O que mudou agora?
A resposta é clara: o que mudou, e muito, foi o…Benfica.
A relação do Sporting com o Benfica tem algo de doentio, e está muito para além da rivalidade natural entre dois grandes clubes. Trata-se no fundo de uma relação de dependência, ou, sendo um pouco mais duro, de subalternidade.
Na verdade, o Sporting não sobrevive sem o Benfica (sua verdadeira razão de ser), e os seus adeptos, mais do que com as vitórias próprias, satisfazem-se com os fracassos do vizinho - algo que não se vê, na mesma medida, no FC Porto, cujas glórias internacionais permitiram libertar para uma espécie de auto-suficiência desportiva.
Essa atitude paroquiana do mundo sportinguista é a principal responsável pelas ilusões em que o clube embarcou nos últimos anos: a de que discutia verdadeiramente os títulos com o FC Porto, a de que tinha crescido competitivamente face ao passado, e a de que tinha deixado o Benfica irremediavelmente para trás.
Já aqui demonstrei que, ao contrário do que as classificações finais possam indiciar (e do que em Alvalade se apregoa), foi o Benfica, e não o Sporting, a dar alguma luta à hegemonia FC Porto nestes anos: já depois dos dois segundos lugares de Camacho, do título de Trappatoni, e da Liga dos Campeões de 2005-06, foi o Benfica de Fernando Santos que a sete jornadas do fim discutiu a liderança com o FC Porto na Luz (1-1), foi o Benfica de Quique que comandou a classificação durante dois meses e foi campeão de Inverno, e até Camacho, quando se demitiu, mantinha o 2º lugar com 6 pontos de avanço sobre o Sporting. Só a total desmobilização encarnada sempre que se viu afastado do primeiro lugar foi permitindo ao Sporting (fortemente motivado pela perspectiva de ultrapassar o rival) chegar ao segundo. Em termos internacionais, outro equívoco: nas últimas quatro épocas o Benfica participou em tantas edições da Liga dos Campeões como o Sporting, chegando numa delas aos quartos-de-final, algo que o Sporting não conseguiu.
Desde 2005 – quando, com Peseiro, jogava um excelente futebol, mas ficou, pela última vez, atrás do Benfica – o Sporting não melhorou em nada. Limitou-se a aproveitar os problemas do rival para, com segundos lugares fortuitos, satisfazer adeptos pouco exigentes. O estado actual do clube de Alvalade não significa mais do que o esbarrar com a realidade que a crise benfiquista foi escondendo.
Culpas de Paulo Bento? Não creio. Olhando para o onze apresentado esta noite em Guimarães, vemos no Sporting um grande jogador (Liedson), um bom jogador (João Moutinho), três jogadores razoáveis (Miguel Veloso, Vukcevic e Matias Fernandez), e tudo o resto é mediocridade.
Outro problema de fundo do clube reside, por paradoxal que pareça, na aposta na formação. Jogadores como Daniel Carriço, Adrien Silva, Yannick Djaló, Carlos Saleiro, André Marques, Bruno Pereirinha ou mesmo Rui Patrício, no Benfica ou no FC Porto estariam seguramente emprestados (ou dispensados), enquanto no Sporting – para além das necessidades decorrentes de uma situação financeira débil - parece haver sempre quem espere deles novos Cristianos Ronaldos, Simãos ou Nanis (que, verdade se diga, há muito deixaram de aparecer em Alcochete). A estratégia de privilegiar a formação é bonita, simpática, pode até ser interessante em termos económicos, mas não dá títulos. E esse balanço está por fazer em Alvalade.
Ao treinador será lícito argumentar com as debilidades orçamentais. Já quanto aos dirigentes tal não faz o menor sentido, pois é a eles, e a mais ninguém, que cabe a tarefa de encontrar formas de eliminar essa limitação. Embora Paulo Bento pareça cada vez mais impotente para reverter uma situação que, nos termos actuais, é de facto irreversível, seria apropriado ver José Bettencourt assumir também algumas responsabilidades. Ou então, pelo menos, dizer a verdade aos sócios e adeptos: o Sporting está de tanga, tem uma equipa miserável, e assim não pode ser candidato a coisa nenhuma, tendo de encetar um longo caminho (porventura de alguns anos) até recuperar o seu estatuto histórico no futebol português. Nada que o Benfica não tenha feito desde 2001, ao que parece, com sucesso.

JESUS NO BANCO, DEUSES NA RELVA E UMA EQUIPA DOS DIABOS

Já não há qualquer dúvida: aconteça o que acontecer em Braga, este Benfica de Jorge Jesus é uma super-equipa, que nos últimos vinte anos do futebol português só encontra termo de comparação no também soberbo FC Porto de José Mourinho.
É verdade que aquele confirmou com títulos a sua qualidade futebolística. Não sabemos ainda se o Benfica terá a mesma dose de sorte, se será capaz de manter os mesmos índices de confiança, se, enfim, materializará no fim da época todo este terramoto de bom futebol e golos que tem feito tremer o país desportivo, e que tem deleitado os seus, cada vez mais fiéis, adeptos. Além de que em 2003-04 o FC Porto não jogava sozinho, e o Benfica, como hoje se percebeu na actuação do fiscal-de-linha do lado dos balneários, tem ainda muitos adversários com que se confrontar dentro e fora do campo.
Não falo pois de resultados – esses só mais tarde poderão ser devidamente ponderados. Falo de futebol jogado, e nesse particular a comparação feita acima é a única que me ocorre.
Pelos mesmos motivos, não adiantará recordar que também na época passada, com Quique Flores, os encarnados mantiveram a liderança da Liga durante várias jornadas, lutando pelo título até à entrada do último terço da prova. Quem vê esta equipa e viu aquela, percebe bem as diferenças. Independentemente das classificações, mais do que o dobro, com Jesus joga-se o triplo ou o quádruplo do futebol que se jogava.
Muitos ainda esperam que o Benfica venha a ceder ao desgaste físico, e, mais cedo ou mais tarde, acabe por ver quebrado seu ritmo competitivo. Não excluindo tal eventualidade, diga-se todavia que a principal força deste Benfica não está no seu fulgor atlético, mas antes na superior classe dos seus jogadores, e numa organização táctica e estratégica que a sabe potenciar. O modelo de jogo do Benfica exige concentração e agressividade, mas nem sequer obriga os jogadores a correr em demasia: a maior parte das recuperações de bola é feita no meio-campo adversário, cabendo à arte dos criativos a tarefa de desequilibrar, e aos avançados a de finalizar. Será assim difícil que, depois de descoberto o segredo do cofre, este conjunto regrida o suficiente para pôr em causa a sua capacidade global enquanto candidato ao título. Em condições normais, teremos pois um Benfica fortíssimo até final da temporada, com todos os predicados exigíveis ao grande campeão em que ameaça vir a tornar-se.
A crónica ao jogo de hoje quase poderia ser decalcada da anterior, e da maioria dos 25 jogos (entre particulares e oficiais) já feitos nesta temporada. Um luxo, uma delícia, um regalo, um primor, são já palavras gastas. A continuar este estado de coisas, ao cronista não restará outra alternativa que não abandonar a prosa e enveredar pelo verso, mais de acordo, aliás, com aquilo que se vai passando no relvado da Luz.
Além de todos os adjectivos - que seriam sempre poucos para ilustrar a exibição encarnada - será de destacar a extremamente bem sucedida adaptação de Fábio Coentrão a lateral-esquerdo, abrindo esperanças de que possa residir nele a solução para o único problema posicional deste Benfica. Para já, nem Shaffer, nem César Peixoto (nem Duda, na selecção) fizeram melhor.
Sobre a arbitragem falarei na altura oportuna. Adianto apenas que há um penálti mal assinalado (sobre Aimar), uma expulsão perdoada ainda na primeira parte (a Patacas), e um golo mal validado (ao Nacional). Minudências face ao luminoso espectáculo que quase 50 mil pessoas tiveram o privilégio de usufruir.
PS: O clima vivido esta noite à saída do estádio foi indescritível, e só encontra paralelo nas últimas jornadas de 2004-05. Chegou-se até a ouvir o cântico "campeões, campeões...", o que, sendo prematuro, não deixa de ser revelador do estado de espírito dos benfiquistas.

UMA DELÍCIA !

Diante do 5º classificado da última edição da Premier League, e finalista da Taça de Inglaterra, o Benfica de Jorge Jesus confirmou de forma expressiva a elevadíssima qualidade futebolística que tem mostrado desde a pré-época.
Já não há argumentos para os cépticos. Este Benfica joga, brilha, esmaga os adversários e regala os adeptos. Um luxo que há décadas não se via no reino das águias.
Os recordes caiem, o estádio enche, o povo vibra. Que grande equipa!
O jogo de hoje cabe na estrita galeria das mais cintilantes noites da Luz, pelo menos do período pós-Eusébio. Não garante mais do que os três pontos, mas permite sonhar, sonhar muito alto.
Marcando cedo (aos 14 minutos), os encarnados procuraram, num primeiro momento, gerir a vantagem sem arriscar em demasia. A prioridade assumida por todos é o campeonato, e com o marcador a favor percebia-se que o Benfica procurasse assegurar a vitória sem entrar em grandes correrias. A primeira parte foi razoável, mas distante do delicioso sabor do prato que mais tarde seria servido aos 45 mil espectadores presentes.
Os três golos marcados nos primeiros sete minutos do segundo período resolveram o jogo, e transportaram o Benfica para uma dimensão superior. Uma dimensão de onde voltou a tocar nas estrelas, como reiteradamente tem feito nesta temporada. É verdade que, como diz a máxima, uma equipa joga o que a outra deixa – e o Everton, a perder 4-0, foi ao tapete. Mas foi o Benfica, o talento dos seus inspiradíssimos jogadores, a força do seu futebol, que atropelou e esquartejou a equipa inglesa. Foram Saviola, Cardozo, Aimar e Di Maria (sobretudo este quarteto), que transformaram um jogo difícil numa noite para recordar.
Não há muitos segredos nesta equipa. Um onze base mais ou menos fixo, um esquema táctico bem definido, muita intensidade na recuperação da bola (preferencialmente em zonas avançadas do terreno), e uma auto-confiança que permite soltar o inesgotável talento dos principais artistas. O resultado também é simples e está à vista de todos.Com um discurso de prudência que se compreende e aplaude, Jesus reafirma que nada está ganho. Não é bem verdade: está ganha uma equipa, uma equipa fortíssima como não se via no nosso país desde o Porto de Mourinho, e como não se via na Luz desde os melhores anos de Eriksson.
O Benfica não vai vencer todos os jogos , e pode até perder o campeonato. Mas a jogar assim, a manter este elevado nível, a menos que forças exteriores o impeçam, em três campeonatos ganhará dois. E cá estaremos para ver.

É quase criminoso individualizar alguém numa noite como esta, mas Saviola justifica amplamente esse destaque. O avançado argentino realizou a sua melhor exibição desde que está no Benfica, e provavelmente também dos últimos anos da sua carreira. Encheu o campo com a classe de um príncipe e marcou dois golos com a eficácia de um vilão. Como numa banda desenhada, El Conejo pincelou a noite com traços de magia, abriu tesouros, derreteu resistências. Escreveu com os seus aveludados pés o final feliz de uma história de encantar. E vão 11 golos com a camisola do Benfica.

Seis árbitros ? Não vi nenhum.

UMA NOITE DE LUZ !

UM BREVE BALANÇO EUROPEU

ANOS 501957/58
R1: Sevilla FC (ESP), 1-3* & 0-0
2 JOGOS, 0 VITÓRIAS, 1 EMPATE, 1 DERROTA /

ANOS 60

1960/61 CAMPEÕES
Q1: Hearts Edinburgh (SCO), 2-1* & 3-0
R1: Ujpest Budapest (HUN), 6-2 & 1-2*
QF: AGF Aarhus (DEN), 3-1 & 4-1*
SF: Rapid Vienna (AUT), 3-0 & 1-1*
FL: FC Barcelona (ESP), 3-2**
1961/62 CAMPEÕES
R1: Austria Vienna (AUT), 1-1* & 5-1
QF: 1.FC Nuremberg (GER), 1-3* & 6-0
SF: Tottenham Hotspur (ENG), 3-1 & 1-2*
FL: Real Madrid (ESP), 5-3**
1962/63 CAMPEÕES
R2: IFK Norrköping (SWE), 1-1* & 5-1
QF: Marila Pribram (CZE), 2-1 & 0-0*
SF: Feyenoord Rotterdam (NED), 0-0* & 3-1
FL: AC Milan (ITA), 1-2**
1963/64 CAMPEÕES
R1: Distillery Belfast (NIR), 3-3* & 5-0
R2: Borussia Dortmund (GER), 2-1 & 0-5*
1964/65 CAMPEÕES
R1: Aris Bonnevoie (LUX), 5-1* & 5-1
R2: FC Chaux-de-Fonds (SUI), 1-1* & 5-0
QF: Real Madrid (ESP), 5-1 & 1-2*
SF: Raba ETO Gyor (HUN), 1-0* & 4-0
FL: Internazionale Milan (ITA), 0-1**
1965/66 CAMPEÕES
R1: Stade Dudelange (LUX), 8-0* & 10-0
R2: Levski Sofia (BUL), 2-2* & 3-2
QF: Manchester United (ENG), 2-3* & 1-5
1966/67 UEFA
R2: Spartak Plovdid (BUL), 1-1* & 3-0
R3: VfB Leipzig (GER), 1-3* & 2-1
1967/68 CAMPEÕES
R1: Glentoran Belfast (NIR), 1-1* & 0-0
R2: AS St. Etienne (FRA), 2-0 & 0-1*
QF: Vasas Budapest (HUN), 0-0* & 3-0
SF: Juventus Torino (ITA), 2-0 & 1-0*
FL: Manchester United (ENG), 1-4**
1968/69 CAMPEÕES
R1: Valur Reykjavik (ISL), 0-0* & 8-1
QF: Ajax Amsterdam (NED), 3-1* & 1-3 & 0-3**
1969/70 CAMPEÕES
R1: KB Copenhagen (DEN), 2-0 & 3-2*
R2: Glasgow Celtic (SCO), 0-3* & 3-0
68 JOGOS, 36 VITÓRIAS, 13 EMPATES, 19 DERROTAS / 2 TÍTULOS, 5 FINAIS, 5 MEIAS-FINAIS e 7 QUARTOS-DE-FINAL

ANOS 70
1970/71 TAÇAS
R1: Olimpija Ljubljana (SVN), 1-1* & 8-1
R2: Vorwarts (GER), 2-0 & 0-2/3-5p*
1971/72 CAMPEÕES
R1: Tirol Innsbruck (AUT), 4-0* & 3-1
R2: CSKA Sofia (BUL), 2-1 & 0-0*
QF: Feyenoord Rotterdam (NED), 0-1* & 5-1
SF: Ajax Amsterdam (NED), 0-1* & 0-0
1972/73 CAMPEÕES
R1: Malmö FF (SWE), 0-1* & 4-1
R2: Derby County (ENG), 0-3* & 0-0
1973/74 CAMPEÕES
R1: Olympiakos Piraeus (GRE), 1-0 & 1-0*
R2: Ujpest Budapest (HUN), 1-1 & 0-2*
1974/75 TAÇAS
R1: Vanløse IF Copenhagen (DEN), 4-0 & 4-1*
R2: Carl Zeiss Jena (GER), 1-1* & 0-0
QF: PSV Eindhoven (NED), 0-0* & 1-2
1975/76 CAMPEÕES
R1: Fenerbahce Istanbul (TUR), 7-0 & 0-1*
R2: Ujpest Budapest (HUN), 5-2 & 1-3*
QF: Bayern Munich (GER), 0-0 & 1-5*
1976/77 CAMPEÕES
R1: Dynamo Dresden (GER), 0-2* & 0-0
1977/78 CAMPEÕES
R1: Torpedo Moscow (RUS), 0-0 & 0-0/4-1p*
R2: B1903 Copenhagen (DEN), 1-0 & 1-0*
QF: Liverpool FC (ENG), 1-2 & 1-4*
1978/79 UEFA
R1: FC Nantes-Atlantique (FRA), 2-0* & 0-0
R2: Borussia M'gladbach (GER), 0-0 & 0-2*
1979/80 UEFA
R1: Aris Thessaloniki (GRE), 1-3* & 2-1
46 JOGOS, 17 VITÓRIAS, 14 EMPATES, 15 DERROTAS / 1 MEIAS-FINAIS e 3 QUARTOS-DE-FINAL

ANOS 80
1980/81 TAÇAS
Q1: Altay Izmir (TUR), 0-0* & 4-0
R1: Dynamo Zagreb (CRO), 0-0* & 2-0
R2: Malmö FF (SWE), 0-1* & 2-0
QF: Fortuna Düsseldorf (GER), 2-2* & 1-0
SF: Carl Zeiss Jena (GER), 0-2* & 1-0
1981/82 CAMPEÕES
R1: Omonia Nicosia (CYP), 3-0 & 1-0*
R2: Bayern Munich (GER), 0-0 & 1-4*
1982/83 UEFA
R1: Real Betis Sevilla (ESP), 2-1 & 2-1*
R2: Lokeren St. Niklaas (BEL), 2-0 & 2-1*
R3: FC Zurich (SUI), 1-1* & 4-0
QF: AS Roma (ITA), 2-1* & 1-1
SF: Universitatea Craiova (ROM), 0-0 & 1-1*
FL: Anderlecht Brussels (BEL), 0-1* & 1-1
1983/84 CAMPEÕES
R1: Linfield Belfast (NIR), 3-0 & 3-2*
R2: Olympiakos Piraeus (GRE), 0-1* & 3-0
QF: Liverpool FC (ENG), 0-1* & 1-4
1984/85 CAMPEÕES
R1: Red Star Belgrade (SRB), 2-3* & 2-0
R2: Liverpool FC (ENG), 1-3* & 1-0
1985/86 TAÇAS
R2: Sampdoria Genoa (ITA), 2-0 & 0-1*
QF: Dukla Praga (CZE), 0-1* & 2-1
1986/87 TAÇAS
R1: Lillestrøm SK (NOR), 2-0 & 2-1*
R2: Girondins Bordeaux (FRA), 1-1 & 0-1*
1987/88 CAMPEÕES
R1: Partizan Tirana (ALB), 4-0* & 3-0
R2: AGF Aarhus (DEN), 0-0* & 1-0
QF: Anderlecht Brussels (BEL), 2-0 & 0-1*
SF: Steaua Bucharest (ROM), 0-0* & 2-0
FL: PSV Eindhoven (NED), 0-0/5-6p**
1988/89 UEFA
R1: Montpellier HSC (FRA), 3-0* & 3-1
R2: RFC Liege (BEL), 1-2* & 1-1
1989/90 CAMPEÕES
R1: Derry City (IRL), 2-1* & 4-0
R2: Kispest-Honved Budapest (HUN), 2-0* & 7-0
QF: Dnepr Dnepropetrovsk (UKR), 1-0 & 3-0*
SF: Olympique Marseille (FRA), 1-2* & 1-0
FL: AC Milan (ITA), 0-1**
66 JOGOS, 36 VITÓRIAS, 14 EMPATES, 16 DERROTAS / 3 FINAIS, 4 MEIAS-FINAIS e 6 QUARTOS-DE-FINAL

ANOS 90
1990/91 UEFA
R1: AS Roma (ITA), 0-1* & 0-1
1991/92 CAMPEÕES
R1: Hamrun Spartans (MLT), 6-0* & 4-0
R2: Arsenal London (ENG), 1-1 & 3-1*
SF (Grp B): Dynamo Kiev (UKR), 0-1* & 5-0
SF (Grp B): FC Barcelona (ESP), 0-0 & 1-2*
SF (Grp B): Sparta Prague (CZE), 1-1 & 1-1*
1992/93 UEFA
R1: Belvedur Izola (SVN), 3-0 & 5-0*
R2: Izzo Vac (HUN), 5-1 & 1-0*
R3: Dynamo Moscow (RUS), 2-2* & 2-0
QF: Juventus Torino (ITA), 2-1 & 0-3*
1993/94 TAÇAS
R1: GKS Katowice (POL), 1-0 & 1-1*
R2: CSKA Sofia (BUL), 3-1 & 3-1*
QF: Bayer Leverkusen (GER), 1-1 & 4-4*
SF: AC Parma (ITA), 2-1 & 0-1*
1994/95 CAMPEÕES
R1 (Grp C): Hajduk Split (CRO), 0-0* & 2-1
R1 (Grp C): Anderlecht Brussels (BEL), 3-1 & 1-1*
R1 (Grp C): Steaua Bucharest (ROM), 2-1 & 1-1*
QF: AC Milan (ITA), 0-2* & 0-0
1995/96 UEFA
R1: SK Lierse (BEL), 3-1* & 2-1
R2: Roda Kerkrade (NED), 1-0 & 2-2*
R3: Bayern Munich (GER), 1-4* & 1-3
1996/97 TAÇAS
R1: Ruch Chorzow (POL), 5-1 & 0-0*
R2: Lokomotiv Moscow (RUS), 1-0 & 3-2*
QF: AC Fiorentina (ITA), 0-2 & 1-0*
1997/98 UEFA
R1: SEC Bastia (FRA), 0-1* & 0-0
1998/99 CAMPEÕES
Q2: Beitar Jerusalem (ISR), 6-0 & 2-4*
R1 (Grp F): PSV Eindhoven (NED), 2-1 & 2-2*
R1 (Grp F): HJK Helsinki (FIN), 0-2* & 2-2
R1 (Grp F): 1.FC Kaiserslautern (GER), 0-1* & 2-1
1999/00 UEFA
R1: Dynamo Bucharest (ROM), 0-1 & 2-0*
R2: PAOK Thessaloniki (GRE), 2-1* & 1-2 vp
R3: Celta Vigo (ESP), 0-7* & 1-1
64 JOGOS, 29 VITÓRIAS, 18 EMPATES, 17 DERROTAS / 1 MEIAS-FINAIS e 5 QUARTOS-DE-FINAL

ANOS 00
2000/01 UEFA
R1: Halmstads BK (SWE), 1-2* & 2-2
2003/04 CAMPEÕES
Q3: Lazio Roma (ITA), 1-3* & 0-1 UEFA
R1: RAA La Louviere (BEL), 1-1* & 1-0
R2: Molde FK (NOR), 3-1 & 2-0*
R3: Rosenborg Trondheim (NOR), 1-0 & 1-2*
R4: Internazionale Milano (ITA), 0-0 & 3-4*
2004/05 CAMPEÕES
Q3: Anderlecht Brussels (BEL), 1-0 & 0-3*UEFA
R1: Dukla Bystrica (SVK), 3-0* & 2-0
R2 (Grp G): SC Heerenveen (NED), 4-2
R2 (Grp G): VfB Stuttgart (GER), 0-3*
R2 (Grp G): Dynamo Zagreb (CRO), 2-0
R2 (Grp G): KSK Beveren (BEL), 3-0*
R3: CSKA Moscow (RUS), 0-2* & 1-1
2005/06 CAMPEÕES
R1 (Grp D): Lille OSC (FRA), 1-0 & 0-0*
R1 (Grp D): Manchester United (ENG), 1-2* & 2-1
R1 (Grp D): Villarreal CF (ESP), 1-1* & 0-1
R2: Liverpool FC (ENG), 1-0 & 2-0*
QF: FC Barcelona (ESP), 0-0 & 0-2*
2006/07 CAMPEÕES
Q3: Austria Vienna (AUT), 1-1* & 3-0
R1 (Grp F): Glasgow Celtic (SCO), 0-3* & 3-0
R1 (Grp F): Manchester United (ENG), 0-1 & 1-3*
R1 (Grp F): FC Copenhagen (DEN), 0-0* & 3-1UEFA
R3: Dynamo Bucharest (ROM), 1-0 & 2-1*
R4: Paris St. Germain (FRA), 1-2* & 3-1
QF: Espanyol Barcelona (ESP), 2-3* & 0-0
2007/08 CAMPEÕES
Q3: F.C.Copenhagen (DEN), 2-1 & 1-0*
R1 (Grp E): Milan (ITA), 1-2* & 1-1
R1 (Grp E): Glasgow Celtic (SCO), 1-0 & 0-1*
R1 (Grp E): Shakhtar Donetsk (UKR), 0-1 & 2-1*UEFA
R3: Nurnberg (GER), 1-0 & 2-2*
R4: Getafe (ESP), 1-2 & 0-1*
2008/09 UEFA
R1: Napoli (ITA), 2-3* & 2-0
R2 (Grp G): Hertha Berlim (GER), 1-1*
R2 (Grp G): Galatasaray (TUR), 0-2
R2 (Grp G): Olympiakos (GRE), 1-5*
R2 (Grp G): Metalist (UKR), 0-1
2009/10 UEFA
R1: Vorskla Poltava (UCR), 4-0 & 1-2*
R2 (Grp I): Bate Borisov (BEL), 2-0
R2 (Grp I): AEK Athens (GRE), 0-1*
R2 (Grp I): Everton (ENG),
68 JOGOS, 28 VITÓRIAS, 13 EMPATES, 27 DERROTAS / 2 QUARTOS-DE-FINAL
NÚMEROS GLOBAIS: 314 JOGOS, 146 VITÓRIAS, 73 EMPATES, 95 DERROTAS / 2 TÍTULOS, 8 FINAIS, 11 MEIAS-FINAIS e 23 QUARTOS-DE-FINAL

ROTATIVIDADE SIM, AFROUXAMENTO NÃO !

É esta a rotatividade que proponho para os dois próximos jogos da equipa do Benfica.
Sendo a prioridade o Campeonato, há que apresentar o melhor onze diante do Nacional, com todos os jogadores suficientemente frescos para deixar a pele em campo.
Para defrontar o Everton, aproveitaria o bom momento de Carlos Martins no lugar de Aimar, a experiência de Nuno Gomes, poupando Saviola, e a juventude de Ruben Amorim e Fábio Coentrão, permitindo a Ramires e Di Maria mais uns dias de descanso.
O plantel do Benfica é forte e extenso. É para isto que serve.
O que não é de admitir é uma equipa displicente e desconcentrada como se viu em Atenas.

CONFIRMAR QUALIDADES

Aproxima-se a hora da verdade para o Benfica de Jorge Jesus.
Pese embora os encarnados tenham, desde a pré-época, vencido, goleado e convencido na maioria dos seus jogos, e tenham mostrado argumentos técnico-tácticos bastante prometedores, os mais cépticos continuam a questionar a capacidade dos adversários derrotados, considerando-os insuficientes para certificar a qualidade deste novo Benfica. É uma opinião discutível (Belenenses e Paços de Ferreira roubaram pontos a Sporting e FC Porto; e V.Setúbal não é tão frágil como parecia), mas percebe-se quando se verifica que os confrontos com os quatro mais fortes adversários internos, e com o mais temível opositor externo, estão reservados para as próximas semanas – até dia 20 de Dezembro o Benfica vai ter de medir forças com FC Porto, Sporting, Sp.Braga, Nacional, Everton e, novamente, AEK, nas duas principais competições em que está envolvido.
Dentro do ciclo que agora se inicia, as próximas duas semanas são particularmente difíceis, e deverão deixar já sinais claros sobre a verdadeira força do conjunto de Jesus. Na próxima quinta-feira os encarnados recebem o Everton, quatro dias depois recebem o Nacional, no sábado seguinte vão a Braga, para se deslocarem a Liverpool cinco dias depois, recebendo por fim a Naval. Cinco jogos que não deixarão margem para dúvidas, caso o Benfica deles se saia bem.
E o que será sair-se bem? Ganhar todos eles?
Não necessariamente. Um empate em Braga não será um mau resultado, e quatro pontos no duplo confronto com os ingleses serão suficientes para abordar as últimas duas jornadas do grupo com total confiança face ao apuramento. Ora, isto significa que os próximos dois jogos em casa (Everton e Nacional) são extraordinariamente importantes, e que as respectivas vitórias são, elas sim, imprescindíveis para não deixar esfumar a onda de euforia e apoio que tem envolvido a equipa desde a pré-época. Mais importante do que vencer em Braga ou em Liverpool, onde um eventual percalço será decerto bem compreendido, importa não esbanjar pontos em casa, nem permitir que, com isso, se instale de novo a descrença e a intranquilidade que tem marcado os últimos anos do clube, e que será rapidamente aproveitada pelos rivais para o tentar desestabilizar.
É assumido na Luz que a prioridade máxima é o Campeonato Nacional. Compreende-se a opção, mas a mesma deve, quanto a mim, limitar-se à poupança de dois ou três jogadores em cada jogo europeu (se entendido como necessário), e nunca resvalar para o menor empenho dos onze que entrarem em campo, como parece ter sucedido em Atenas. O Benfica tem de orientar a sua bússola para o título, mas não pode comprometer o prestígio europeu que ainda tem, com participações ao nível da mediocridade do ano passado. Além de que, este plantel benfiquista - carregado de classe e com experiência quanto baste, com jogadores como Aimar ou Saviola vocacionados para grandes momentos - está particularmente talhado para uma boa campanha europeia, onde terá pela frente adversários abertos, jogará em bons relvados e não terá que vencer Paulos Costas, Olegários Benquerenças ou Pedros Proenças.
Deste modo, a partida com o Everton reveste-se de dupla importância: primeiro, face à necessidade imperiosa de o Benfica se apurar, pelo menos, para a fase seguinte da Liga Europa; segundo, pelo facto de se tratar do primeiro combate contra um adversário de idêntico nível, e assim, da oportunidade de começar a calar os mais resistentes críticos.

A MINHA CONVOCATÓRIA

Seria esta a minha escolha para o play-off e, em caso de apuramento, também a base a considerar desde já para a fase final do Mundial. Os lesionados ficariam obviamente de fora dos jogos com a Bósnia, mas o grupo seria este.
O meu onze base poderia ser o seguinte, e permitiria, com os mesmos jogadores, vários esquemas tácticos diferentes (4-3-3 ; 4-2-3-1 ; 4-4-2 ; 3-4-3):
Depois de feitas as opções do seleccionador, deixarei de falar no assunto, apoiando todos os jogadores que vestirem a camisola das quinas.
NOTA: Sabe-se que sou contra a utilização de naturalizados. Mas uma vez que o facto está consumado, considero-os nesta análise, e aceito-os contrariado.

VENHA A BÓSNIA !

Podia ter sido pior.
O adversário de Portugal no play-off será a Bósnia-Herzegovina, equipa forte mas que permite à nossa selecção acalentar todas as esperanças de estar no Mundial da África do Sul. Livrámo-nos da Ucrânia que era, creio, a principal ameaça dentro do lote de equipas que tínhamos por diante.
O nome Bósnia-Herzegovina causa ainda alguns arrepios em virtude da sangrenta guerra que consumiu o país na primeira metade da década de noventa. Estão bem presentes as imagens diárias de um conflito fratricida entre sérvios, muçulmanos e croatas, pela posse de um território outrora integrado na pacífica Jugoslávia de Tito, mas que os precipitados impulsos independentistas subsequentes à queda do muro de Berlim – muitas vezes induzidos a partir do exterior - lançaram no caos e na destruição total. Ainda hoje Portugal tem um contingente militar de paz na região, sendo este, seguramente, um momento muito especial para todos os que dele fazem parte.
Voltando ao futebol, diga-se que a grande força da Bósnia está no seu ataque, onde dispõe jogadores como Misimovic, Ibisevic e, sobretudo, Dzeko, o grande goleador da equipa e estrela maior do Wolfsburgo, vencedor da Bundesliga na última temporada. Os números globais mostram-nos um dos melhores ataques da fase de grupos, mas também uma defesa permeável, algo que Portugal terá de saber explorar. O apuramento para este play-off concretizou-se fundamentalmente com base nas seis vitórias em seis jogos diante de Bélgica, Arménia e Estónia – a Bósnia não ganhou nenhum jogo à Espanha nem à Turquia, as mais cotadas equipas do seu grupo (ver quadro acima).
Seria preferível decidir a eliminatória na Luz, aspecto em que o sorteio não nos bafejou. O segundo jogo vai ser fora, provavelmente em Zenica, cidade industrial a 70 kms de Sarajevo, onde a selecção bósnia realizou todas as partidas desta qualificação. É um estádio pequeno, e o clima de Novembro não deve ser nada favorável. Imagina-se que os bósnios - pelo seu passado guerreiro, e pelo seu sangue meio balcânico, meio muçulmano - não sejam flores que se cheirem, sendo de esperar um ambiente tremendamente hostil.
O ideal seria pois partir para lá com a eliminatória já razoavelmente encaminhada (2-0, por exemplo). Um passo em falso no jogo da Luz pode revelar-se muito difícil de corrigir.
Mas julgo que Portugal é favorito.
PS: É absolutamente ridículo o coro de criticas portuguesas a uma decisão da UEFA/FIFA que objectivamente nos beneficiou. A criação de cabeças-de-série é normal, e em nada difere daquilo que é comum nas provas de clubes, ou na definição dos grupos de qualificação (onde Portugal já havia sido distinguido). Só a vontade de dizer mal, em que também somos especialistas, pode fazer dela um caso.

A FESTA DO GOLO

Se exceptuarmos a proeza do Valenciano (que eliminou o Olhanense), a jornada de Taça não trouxe surpresas de maior. Benfica, FC Porto e Sporting desembaraçaram-se tranquilamente dos seus modestos adversários, avançando com naturalidade para os dezasseis-avos de final.
No jogo de Torres Novas aconteceu aquilo que se esperava: um Benfica a meio-gás, com muitas alterações na equipa (apenas dois titulares no onze: David Luíz e Javi Garcia), limitou-se a aproveitar as naturais insuficiências do Monsanto para, a partir delas, construir uma vitória clara. Nos últimos minutos, com o desgaste físico a desagregar a equipa do escalão secundário, os encarnados lograram mesmo construir mais uma expressiva goleada, mantendo assim o hábito instalado com Jorge Jesus nesta temporada.
O destaque individual da partida vai para Carlos Martins – que parece estar a solucionar um dos problemas apontados inicialmente ao plantel: a alternativa a Aimar. O médio encarnado marcou mais dois golos (depois de também ter marcado em Paços de Ferreira), e mostrou entusiasmo e alegria. Já da dupla de ataque (Weldon e Nuno Gomes), esperar-se-ia uma prestação mais viva, até porque um adversário com estas características convidava à inspiração dos avançados.
Na quinta-feira deverão regressar as principais estrelas, num jogo onde não existirão facilidades.

Depois da pausa para as selecções, o futebol de clubes volta com a Taça de Portugal. É uma boa forma de regressar, pois a ausência dos principais jogadores das equipas de topo durante vários dias, iria certamente fazer estragos caso estivéssemos perante uma jornada da Liga Sagres. Nada como uma tranquila eliminatória da Taça para rodar jogadores e readaptar gradualmente os adeptos às emoções clubistas.
Benfica, FC Porto e Sporting têm pela frente simpáticos adversários, e só um escândalo absoluto faria com que qualquer deles não estivesse presente na próxima eliminatória. Já Sp.Braga, Marítimo e Nacional vão ter de puxar os galões para ultrapassar complicados adversários da Liga Vitalis fora de casa.
Na televisão vamos ter: Monsanto-Benfica, sábado, 18.15h, TVI ; FC Porto-Sertanense, sábado, 20.15h, Sport Tv ; e Sporting-Penafiel, domingo, 18.15h, Sport Tv.

UMA FINAL RIMA SEMPRE COM CAPITAL

... e neste caso também com Catedral.

O jogo do Play-Off de acesso ao Mundial terá, obviamente, de ser disputado na Luz.
É o maior estádio, situa-se na capital do país, e é também aquele onde a Selecção Nacional tem obtido melhores resultados, onde tem tido maior apoio, e onde tem escrito parte importante da sua história - de que são exemplo os apuramentos para o Euro 84, para o Euro 96, para o Euro 2000 e para o Mundial 2002.
Qualquer outra decisão será difícil de compreender.

É SÓ ESCOLHER...



UCRANIA

É provavelmente o nome mais sonante deste lote de selecções. Shevchenko, Milevskyi, Chigrinskyi ou Timoschuk são jogadores de top no futebol europeu, e têm presença assídua na Liga dos Campeões. Além dos aspectos desportivos, não deverá ser fácil jogar na Ucrania em Novembro.
A surpreendente vitória sobre a Inglaterra permitiu-lhe ultrapassar in-extremis a Croácia, tida durante toda a fase de qualificação como a previsível segunda classificada do grupo. Esse resultado possibilitou também que Portugal fosse considerado cabeça-de-série neste sorteio, pois a Croácia tem melhor ranking que nós.

ESLOVÉNIAA Eslovénia é a equipa que apresenta menos jogadores conhecidos do grande público, e como tal, até pela consequente inexperiência internacional, talvez seja o adversário mais apetecível.
Há contudo que realçar o extraordinário desempenho defensivo desta selecção, que apenas sofreu 4 golos em toda a fase de qualificação - é a melhor defesa de todos os grupos de seis equipas da zona europeia.
O jogador que mais se tem destacado é contudo o ponta-de-lança Novakovic (5 golos no grupo), colega de Petit e Maniche no Colónia.

REPÚBLICA DA IRLANDA
Orientada pela Velha Raposa italiana, a selecção da Irlanda terá abandonado grande parte da natureza eminentemente britânica que normalmente caracterizava o seu futebol. É hoje equipa de poucos golos marcados e sofridos, e, conhecendo Trappatoni, terá certamente um contra-ataque perigoso e eficaz.
É juntamente com Itália, Espanha e Alemanha, uma das equipas que não perdeu qualquer jogo na zona de qualificação europeia, cedendo todavia seis empates.
Jogadores como John O'Shea, Damien Duff, McGeady ou Robbie Keane, com larga experiência na Premier League e nas competições da UEFA, asseguram a maturidade colectiva.

BÓSNIA-HERZEGOVINA
O facto de nunca ter participado em qualquer fase final de Mundiais ou Europeus pode transmitir a ideia de alguma fragilidade. No entanto, com uma linha avançada poderosíssima - Misimovic, Ibisevic e Dzeko são três grandes figuras da Bundesliga, e este último é pretendido por muitos dos principais clubes europeus, entre os quais o Milan -, a Bósnia é um adversário de respeito.
Os seus números correspondem ao perfil da equipa, com muitos golos marcados (quarto melhor ataque da zona europeia), e também muitos sofridos (pior defesa de entre todos os apurados). Talvez até encaixe bem nas características do futebol português, mas é tudo menos uma pêra doce.
ORDEM DE PREFERÊNCIA (do mais acessível ao mais difícil):
1º Eslovénia
2º Irlanda
3º Bósnia
4º Ucrania

MISSÃO CUMPRIDA, SONHO VIVO

Não seria de esperar outra coisa. Portugal aproveitou, como lhe competia, as circunstâncias que uma feliz carambola de resultados lhe havia proporcionado no último sábado, e qualificou-se para o Play-Off de acesso ao Mundial.
É como que um voltar à estaca zero, depois ultrapassar momentos em que tudo se afigurava perdido. Não é um feito – num grupo como este Portugal teria de ser considerado favorito ao apuramento directo -, mas antes um alívio. É uma nova vida para uma selecção que, nestas últimas partidas, voltou a reencontrar a sua identidade, e, de certa forma, recuperou a paixão do povo.
O jogo teve pouca história. O guião estava escrito à partida, e a dúvida residia apenas em saber a que minuto Portugal marcaria o primeiro golo.
Queiroz surpreendeu ao retirar Bruno Alves para fazer entrar Pepe (mantendo desse modo Pedro Mendes no onze), rendendo-se também à evidência de ter de trocar o sofrível Duda por Miguel Veloso (o lateral-esquerdo do Sporting e da Selecção para muitos anos, caso ele queira sê-lo).
Toda a primeira parte foi de grande pressão da Selecção Nacional, que mostrou não querer brincar com a situação favorável que se lhe apresentava por diante. Foi essa atitude – que terá faltado, por exemplo, no jogo de Braga com a Albânia – que tornou as coisas fáceis. O segundo golo, a fechar a primeira parte, seguido de um terceiro, á abrir a segunda, foram golpes demasiado profundos numa simpática Malta que nada tinha a perder nem a ganhar. O jogo acabou aí.
Queiroz pôde então poupar os amarelados, e a equipa limitou-se a aguardar pelo apito final, certa que estava da concretização do seu objectivo. O quarto golo apenas serviu para abrilhantar a noite, e agraciar o fantástico público de Guimarães, que tal como o da Luz no passado sábado, respondeu à chamada com fervor, patriotismo e esperança.
Segue-se um dramático Play-Off. Qualquer das equipas que nos pode calhar em sorte é superior à Hungria, e incomparavelmente mais forte que esta modesta Malta. Talvez a Eslovénia fosse o adversário ideal, mau grado a sua capacidade defensiva. A Irlanda, do nosso bem conhecido Giovanni Trappatoni, também poderá ser um bom adversário. Ucrânia (de Milevsky, Timoschuk e Shevchenko) e Bósnia-Herzegovina (de Ibisevic, Misimovic e Dzeko) serão de evitar.
Com a Selecção no seu melhor, os portugueses terão uma alegria. Veremos contudo como se encontram os jogadores nucleares da equipa portuguesa dentro de um mês, a começar por Cristiano Ronaldo.

QUEREMOS MAIS...

Estes foram alguns dos momentos saborosos que a Selecção Nacional nos proporcionou nos últimos anos (curiosamente, dois deles comigo nas bancadas). Esperamos que a saga possa continuar na África do Sul, e o povo português volte a vibrar com uma grande competição internacional.

OPORTUNIDADE DE OURO

Não é imaginável, nem aceitável, que Portugal desperdice a oportunidade que tem por diante de chegar aos play-offs de acesso ao Mundial.
Depois de passar por grandes dificuldades, a equipa nacional viu a felicidade sorrir-lhe neste sábado, dispondo agora de uma nova vida, numa campanha que parecia irremediavelmente destinada ao fracasso.
Há quatro meses atrás (a meio da qualificação), Portugal tinha cinco jogos disputados, apenas uma vitória (precisamente sobre Malta), três empates a zero e uma derrota. Nas cinco partidas que faltavam, tinha de se deslocar à Albânia, à Hungria e à Dinamarca, antes desta dupla jornada final em casa. O panorama era negro.
O que é certo que, quando já poucos acreditavam, a equipa de Queiroz conseguiu reerguer-se, vencendo três dos últimos quatro jogos, alcançando ainda um precioso empate na Dinamarca. É verdade que o triunfo em Tirana foi obtido no tempo de descontos, e o golo do empate de Copenhaga a quatro minutos do fim, em duas partidas que poderiam ter corrido muito mal. Mas não seria justo deixar de saudar esta ponta final do conjunto luso, que, olhando agora para o copo meio cheio, acaba esta fase de qualificação com apenas dois verdadeiramente maus resultados: o empate em Braga com a Albânia, e a derrota em Alvalade perante a selecção dinamarquesa (esta, diga-se, na sequência de uma exibição agradável).
Independentemente daqueles golos providenciais de Bruno Alves e Liedson, não creio que esta boa ponta final tenha sido fruto acaso. Ela coincide precisamente com o momento em que Queiroz estabilizou o seu onze, e largou o experimentalismo que havia marcado os primeiros meses do seu trabalho. Nos últimos cinco jogos, sete jogadores foram sempre titulares, e dois só falharam um jogo (Deco por lesão, Pepe por castigo). Nos quatro primeiros houvera alterações em todos os sectores, em todas as convocatórias, em todos os onzes apresentados – só três jogadores haviam então feito o pleno.
Queiroz cometeu o erro crasso de querer alterar de forma abrupta todo o legado que Scolari havia deixado. Perdeu pontos, foi criticado, expôs-se, e expôs Portugal a uma profunda desilusão. Mas deve reconhecer-se que, a dado passo, inflectiu o seu caminho, e nas últimas convocatórias pouco há a apontar-lhe. Tem hoje o seu grupo mais ou menos definido, dispondo agora de todas condições para cumprir o objectivo básico de chegar ao Mundial. Certamente ele próprio estará arrependido de algumas das opções que tomou e de algumas frases que proferiu.
Também por este motivo, não creio que faça muito sentido que alguns sectores da opinião pública (em que, de resto, me incluo), que não viram com bons olhos o seu regresso à selecção, e menos ainda a sua entrada de elefante em loja de porcelanas (entre afirmações bombásticas e convocatórias ridículas), insistam agora nas críticas mais veementes e numa antipatia pessoal que não é muito diferente da que outros dispensaram a Scolari durante vários anos. Nem a convocação de Liedson (com a qual não concordo) será argumento, pois foi justamente com Felipão que os naturalizados tiveram entrada na equipa.
A Selecção Nacional é, sempre foi, e continuará a ser a equipa de todos nós, quer o seleccionador tenha bigodes, quer não tenha, e quaisquer que sejam os jogadores que conjunturalmente a representem. É esse o espírito de pacificação a que estes últimos resultados abriram espaço, e é essa a porta por onde os verdadeiros adeptos do futebol português podem e devem agora entrar, no sentido de recuperar a alma que nos levou a uma final de um Europeu, e a umas meias-finais de um Mundial.
Eu já entrei por essa porta. Viva Portugal !

PS: Será já com a qualificação para o play-off garantida, que espero ver um palpitante e decisivo Uruguai-Argentina. De um lado Maxi Pereira, Álvaro Pereira, Fucile e Cristian Rodriguez (e Forlán). Do outro, Aimar e Di Maria (e Messsi). Uma repetição da final do primeiro Mundial (em 1930), um duelo apaixonante entre vizinhos e rivais, que poderá deixar uma das selecções de fora do África do Sul-2010. Por vários motivos, seria uma pena que fosse a Argentina...

INÉDITO

Não há memória de qualquer outro clube português colocar simultaneamente, como titulares, dois jogadores na selecção brasileira e outros dois na selecção argentina - porventura as duas maiores referências do futebol mundial.
Aconteceu no sábado com o Benfica, e com Luisão, Ramires, Aimar e Di Maria.
Todos eles poderão estar no Mundial, o que não sendo uma muito boa notícia no plano desportivo, é uma deliciosa eventualidade para as finanças do clube da Luz.

PORREIRO, PÁ !

Depois de muitas voltas e reviravoltas, a Selecção Nacional lá acabou por conseguir colocar-se numa situação privilegiada para aceder ao Mundial 2010.
Bastará agora ganhar à simpática Malta, e depois ultrapassar Bósnia, Irlanda, Eslováquia ou Ucrânia, o que não sendo favas contadas (principalmente no caso desta última), não pode deixar de despertar o optimismo dos portugueses, sobretudo levando em conta que há bem pouco tempo atrás tudo parecia irremediavelmente perdido.
Mas este passo em frente não pode ser dissociado do que aconteceu em Copenhaga, local onde verdadeiramente se jogava o nosso destino. Foi o golo de Poulsen frente à Suécia que abriu caminho à equipa de Queiroz, e foi ele que evitou que a partida da Luz se tornasse num verdadeiro funeral à nossa selecção e, sobretudo, ao seleccionador.
O mérito português é pois bastante relativo, quer na conjugação de factores que abriu a porta à classificação actual, quer também, diga-se, nos contornos da própria vitória portuguesa sobre a Hungria, obtida com uma exibição sofrida, intranquila e despida de classe, que resultou bem sucedida mais por via de fraquezas adversárias do que por virtudes próprias.
Durante 75 minutos a Selecção Nacional não foi capaz de impor o seu jogo de forma clara, deixando sempre a sensação que as coisas poderiam acabar por correr mal, tal como tinha sucedido há um ano atrás em Alvalade diante da Dinamarca. Só no último quarto de hora Portugal foi efectivamente capaz de fazer descansar os 50 mil que quase enchiam as bancadas, e enfim encostar uma selecção húngara fraca, rendida às suas insuficiências e que só por acidente chegou a esta altura com esperanças numa qualificação.
É verdade que há problemas insanáveis na equipa portuguesa - Duda, por exemplo, é o lateral-esquerdo que se pode arranjar, estando todavia longe, muito longe, da classe exigível a uma selecção com ambições. Mas o principal problema é a dinâmica de jogo, e, arriscaria a dizê-lo, a auto-confiança (ou falta dela) com que aborda os desafios que lhe são colocados por diante. Vê-se algum talento avulso, vê-se profissionalismo e entrega, vê-se até ambição, mas falta aquela dose de confiança e de segurança que faz a diferença entre as grandes selecções e as que se ficam pelas vitórias morais.
Não faz sentido hoje, às portas de 2010, voltar a falar de Scolari. Mas não deixa de ser estranho que aquilo que sempre foi a grande arma do brasileiro – o aspecto psicológico – continue a ser, tanto tempo depois, a principal fragilidade da selecção de Queiroz. Passam por aí grande parte dos problemas da equipa, e passa também por aí algum do divórcio dos adeptos face a ela, sentido claramente ao longo destes últimos meses. Diga-se no entanto a este respeito que, na noite de sábado, quer pelo número de espectadores presentes (surpreendente pela positiva), quer pelo ambiente vivido no estádio, quer pelo cheiro a sucesso que esta jornada despertou, a animosidade de muitos portugueses para com esta selecção pode ter ficado, em larga medida, dissipada, havendo espaço para o ressurgimento de uma onda de apoio aproximada à de há uns tempos atrás.
Também por isso não haverá, a partir de agora, desculpas para Portugal ficar do lado de fora do Mundial. Depois, na África do Sul - como se espera e deseja -, talvez já não possa haver muito para esperar desta equipa. Mas essa análise virá a seu tempo.
Agora é altura de saborear, senão a alegria, pelo menos o alívio de nos vermos novamente com a cabeça de fora da água, e livres de um pesadelo que assolou o futebol português durante meses a fio.