MÚSICA DE FUNDO

Sem querer viajar até ao tempo dos penáltis à Jardel, e ignorando as incidências do empate de Setembro em Alvalade, as três únicas derrotas do Benfica ante o Sporting em oito anos, tiveram, todas elas, um ponto em comum: ficou sempre um penálti por marcar a nosso favor. Foi assim em 2008, com Jorge Sousa (3-5); foi assim em 2009, com Olegário Benquerença (2-3); e a história repetiu-se em 2012, com Artur Soares Dias (0-1). No primeiro caso ficou por sancionar um derrube a Luisão, no segundo um agarrão a Aimar, e no terceiro uma rasteira a Gaitán. Não obstante tudo isto, o nosso vizinho continua a vitimizar-se, à medida que as vitórias benfiquistas se vão sucedendo. Já não há dérbi que não venha acompanhado da habitual música dos dias seguintes - salvo quando o Sporting ganha, o que apenas aconteceu nas ocasiões mencionadas. Nessas, não houve “música”. Houve festa, do lado de lá, resignação do lado de cá, e silêncio generalizado nos media. Quando somos nós a vencer, pelo contrário, é o que se vê, e o que se ouve. A Taça da Liga de 2009 foi talvez o momento mais ilustrativo desta realidade. Um só lance, um só erro (que na altura permitiu apenas o empate), e logo um escândalo de que ainda hoje falam com a indignação de uma virgem ofendida. Os factos remetem-nos para um simples penálti mal assinalado. A lenda, para um roubo premeditado e aparatoso que subtraiu um troféu às vitrinas de Alvalade. Na época passada…mais do mesmo. Uma arbitragem que não marcou faltas a ninguém, em nenhum local do campo, foi o que bastou para descobrirem 2, 3, ou 4 penáltis, mais todos os que fossem necessários para justificar nova derrota. Com triunfo benfiquista, o último dérbi não poderia escapar ao folclore. No estádio ninguém viu nada. Algumas horas mais tarde, a narrativa estava já composta, com o ruído do costume. Passado tanto tempo, ainda perdura. As arbitragens portuguesas têm muito que se lhes diga. Mas para o Sporting, aconteça o que acontecer, se o Benfica ganha, a culpa é do árbitro.

SINAL DOS TEMPOS

Terminado o Dérbi do passado sábado, notava-se, entre os benfiquistas, um sentimento bastante contido de satisfação. Ou eram as bolas paradas – um problema a resolver -, ou era a recuperação consentida na segunda parte, ou era a fracassada expectativa de goleada que (confessem lá...) todos tínhamos ao intervalo, a verdade é que, descontada a beleza do espectáculo, ganhar ao Sporting de forma tão apertada já não nos deixa propriamente eufóricos, mas tão só com a sensação de dever cumprido. Paradoxalmente, do lado de lá, notava-se uma atmosfera bem positiva, de onde se depreendia um certo alívio por perderem por poucos (depois dos tais 3-1 ao intervalo), e até algum regozijo pela capacidade de discutirem o jogo até final. Aliás, já da recente derrota diante do FC Porto a generalidade dos sportinguistas havia saído de peito feito, como se estas vitórias morais (?) tivessem o condão de lhes devolver o estatuto de outrora. Diga-se que, entre estes dois estados de espírito, nem tudo é a preto e branco, ou, para ser mais exacto, a vermelho e verde. Vencer o Sporting, depois de uma roleta de emoções tão vibrante e arrebatadora, não pode deixar de nos encher a alma. É verdade que poderíamos ter goleado, é verdade que aquele golo ao minuto 92 nos fez reviver fantasmas de um passado recente, mas, caramba, ganhámos! E ganhámos bem, depois de uma grande partida de futebol, durante a qual fomos sempre superiores. Para o rival, contente ou não com isso, fica apenas mais uma derrota. A 11ª nos últimos 15 Dérbis. Compreende-se o esforço – e louve-se a eficácia - do seu aparelho de comunicação para não deixar estoirar o balão da euforia (semelhante ao que, não há muito tempo, encheu Domingos Paciência), procurando álibis na arbitragem. Mas não é preciso ter memória de elefante para recordar o jogo de Alvalade, já nesta mesma época, ou, indo um pouco mais atrás, um tristemente célebre empate a dois, na velha Luz, com este mesmo árbitro. Portanto, esta já tradicional gritaria não nos vai comover.

DO PAVILHÃO AOS RELVADOS

1. No passado sábado, a nossa equipa de Hóquei em Patins viveu mais um momento histórico, ao vencer, pela segunda vez, a Taça Continental. Em pouco mais de três anos, o hóquei encarnado conquistou oito troféus, quatro deles internacionais. A jóia da coroa foi, naturalmente, o triunfo no Dragão, que valeu uma inédita Liga dos Campeões, à qual a comunicação social nunca chegou a dar o devido destaque, preferindo então explorar até à náusea o alegado caso-Cardozo, ocorrido uma semana antes - sinal de uma confrangedora cultura desportiva, e de um sistema mediático que prefere remexer no lixo do que brindar a glória. Agora, perante os nossos olhos, com nota artística elevada e números eloquentes, o Benfica voltou a festejar, e a mostrar que, com arbitragens isentas, é uma das melhores equipas do mundo na modalidade. Apenas um pequeno reparo: é pena que a estas grandes conquistas não tenha ficado associada a tradicional camisola vermelha. As fotos ficariam muito mais bonitas. 2. Escrevo antes do jogo de Atenas. Espero que tudo tenha corrido bem, e, pelo menos, estejamos em posição de discutir o apuramento nas duas jornadas que restam. Como diz Jorge Jesus, na Champions, em qualquer partida, estamos sempre tão perto de ganhar como de perder. Uma vitória seria o ideal, mas um empate pode não ser totalmente negativo. A esta hora, o leitor já saberá. 3. Amanhã disputa-se mais um “Dérbi” lisboeta, prato sempre apetecível para os adeptos do futebol. Jogando em casa, teremos de assumir o favoritismo, embora sabendo que, neste tipo de jogo, a surpresa pode esperar-nos ao virar de qualquer esquina. Afinal de contas, Taça é Taça, e ainda em Maio passado nos confrontámos com essa verdade inelutável. A época futebolística não nos tem corrido de feição. O nosso rival, pelo contrário, está em alta. Juntando as situações, temos uma igualdade pontual na tabela classificativa. Agora, um dos dois terá necessariamente de ficar de fora. É altura de puxarmos dos galões, e mostrarmos quem é o melhor.

UM PRESIDENTE PARA A HISTÓRIA

Comemorámos, na passada semana, o décimo aniversário do nosso belo estádio. À sua construção não pode deixar de estar associado o nome de Luís Filipe Vieira - que dias depois tomou posse como Presidente do Benfica, transformando-o de alto a baixo, e erguendo-o até a um grau compatível com o seu glorioso passado. Terão faltado apenas mais um ou dois campeonatos de futebol para que Vieira fosse hoje unanimemente considerado o melhor presidente de sempre deste Clube. Faltou, por exemplo, que em Maio passado um remate de um tipo de crista tivesse embatido no poste, em vez de entrar na baliza de Artur. Faltou que, na temporada anterior, um fiscal-de-linha pouco atento tivesse visto um fora-de-jogo de Maicon, no lance que decidiu o título. Em suma, faltou sorte numas ocasiões, e verdade desportiva noutras, para alcançarmos os títulos que o trabalho realizado tanto justificava. São contingências, às quais não podemos também subtrair o facto de, ao longo desta década, termos enfrentado o mais forte rival de toda a nossa história. Em dez anos, o FC Porto conquistou três taças europeias, e nos últimos cem jogos de campeonato registou apenas uma derrota. Tem sido um opositor feroz, que, além de uma inegável capacidade desportiva, nunca hesitou em utilizar meios ilícitos para conseguir o que queria. É contra ele que nos temos batido, e, ainda assim, equilibrado os pratos de uma balança que em 2003 apresentava um claríssimo défice. Campeonatos à parte, seria fastidioso enunciar toda a obra de Luís Filipe Vieira. Do Estádio ao Centro de Estágio, da Benfica TV ao Museu, dos títulos nacionais e europeus nas modalidades ao sexto lugar no ranking da UEFA, do investimento na Formação ao incremento do número de sócios. Mas aquilo que, enquanto benfiquista, mais lhe agradeço, é ter-nos permitido voltar a acreditar no futuro. Em 2003, vencer era uma utopia. Hoje, ganhar ou perder depende de pequenos detalhes, e a nossa memória tem de ser suficientemente ampla para reconhecer a diferença.

A NOSSA CASA

Celebra-se hoje o décimo aniversário do nosso belo e grandioso Estádio. É o maior do país, já conquistou a sua identidade própria, sem deixar de honrar a memória da velha Luz, e terá, em Maio próximo, a prenda que merece: o jogo mais importante do ano em competições de clubes. Pois é. Já lá vai uma década desde o dia em que aquilo que parecia impossível se tornou realidade aos nossos olhos. Ao longo destes dez anos, muitos foram perdendo a memória desse tempo. É natural, e muito bom sinal que assim seja. Efectivamente, o Benfica de hoje nada tem a ver com aquele que Manuel Vilarinho e Luís Filipe Vieira herdaram. Em 2003, estávamos em convalescença da mais grave doença de que padecemos num século inteiro de história. As inúmeras fragilidades que o nosso Clube revelava pareciam impedir-nos até de sonhar. Os que, como eu, ainda se recordam desses momentos, lembram-se também de quase se beliscarem para acreditar que, contra ventos e marés, contra o cepticismo e a angústia, tinham por diante uma obra capaz de tão bem emoldurar a nossa paixão. Nesta década, muitos foram os momentos de glória ali vividos. Poderíamos evocar o triunfo sobre o Sporting, em 2005, que praticamente valeu esse Campeonato; também a vitória sobre o Rio Ave em 2010, que lançou o país em festa; para além de grandiosas jornadas europeias, entre as quais dois Quartos-de-Final da Champions League, e duas Meias-Finais da Liga Europa (a última das quais selada com o acesso à Final). Grandes nomes do futebol mundial pisaram aquele relvado. Messi, todos os Ronaldos, Ibrahimovic, Iniesta, Zidane, Maldini, Pirlo, Kaká, Rooney, Robben, Del Piero ou Van Persie são apenas alguns. Do nosso lado, tivemos Di Maria, Aimar, Fábio Coentrão, Rui Costa, David Luíz, Ramires, Javi Garcia, Witsel, Miccoli, Nuno Gomes e Simão, para referir apenas figuras que já não constam do plantel actual. Mais décadas se seguirão. Mais vitórias também. Por tudo aquilo que representa, a Nova Catedral é um marco indelével na história do Benfica.

A NOSSA CHAMPIONS

Depois de uma eliminatória da Taça de Portugal diante do Cinfães, que se prevê tão tranquila quanto festiva, regressa, já na próxima semana, a sumptuosa Champions League, com todo o seu encanto, e grau de dificuldade máximo. Com uma vitória em casa, e uma derrota fora, pode dizer-se que o Benfica está perfeitamente dentro dos carris do apuramento, sendo provável que os próximos dois jogos, diante do Olympiacos, venham a determinar quem acompanha o PSG rumo à fase seguinte da competição. Ou seja, uma vitória na Luz frente aos gregos afigura-se fundamental nesta corrida, pois qualquer outro resultado, mesmo não nos eliminando sumariamente, deixará contas demasiado complicadas por fazer. Muito se tem discutido a hipótese de o nosso clube apostar mais ou menos na competição, e ter mais ou menos possibilidades de atingir a respectiva Final. Muitas vozes extrapolaram palavras do nosso Presidente, subvertendo-as, e transformando um sonho legítimo e saudável, numa exigência que jamais foi feita aos jogadores ou ao técnico. Há que dizer, com toda a clareza, que chegar à Final da Champions, no contexto actual do futebol português e europeu, pode obviamente ser um sonho (quem não o tem?), mas não poderá constituir um objectivo concreto, e muito menos uma exigência. As diferenças de orçamento face a “tubarões” como Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Chelsea, Juventus, Dortmund ou Bayern de Munique não deixam margem para grandes expectativas, seja onde for que se dispute a última partida da prova. O objectivo do Benfica para a Liga dos Campeões terá de ser, por enquanto, a passagem à fase seguinte. Isso sim, está de acordo com o poder financeiro e desportivo de que dispomos. Em termos realistas, as nossas exigências não deverão ir muito mais além, e o que vier a mais, bem-vindo será. É com esta humildade que devemos enfrentar os difíceis adversários que temos pela frente. E é com esta atitude que podemos, eventualmente, vir a superar aquilo que neste momento é expectável.

UM PRIMEIRO OLHAR

A pausa nas competições de clubes deixa espaço para uma primeira reflexão acerca do início da temporada futebolística da nossa equipa. Há que começar por dizer, sem subterfúgios, que o rendimento atingido tem estado aquém do esperado. E várias podem ser as explicações para tal. Em primeiro lugar, embora o mercado não nos tenha retirado nenhuma das principais figuras do onze, houve necessidade de integrar novos reforços, grande parte dos quais jovens com vincada qualidade, mas naturalmente sem identificação com os processos da equipa. Markovic, por exemplo, tem um talento que ninguém discutirá, mas que ainda não foi possível adaptar plenamente ao modelo de jogo encarnado. Djuricic será outro caso, ao qual as mesmas palavras poderiam encaixar na perfeição. E a articulação entre Fejsa e Matic está ainda longe de ser uma aposta ganha. As lesões de Gaitán, e sobretudo de Sálvio, obrigaram a apressar alguns destes processos, impondo indesejadas experiências em plena competição. Não podemos também ignorar o calendário que tivemos pela frente neste mês e meio. Deslocações à Madeira, Alvalade, Guimarães e Estoril, em apenas sete jornadas, eram algo que, à partida, seria sempre de impor respeito. Desses jogos, vencemos dois, empatamos um, e perdemos o outro. Não é um bom registo, mas está longe de ser uma catástrofe – e o pior resultado terá mesmo sido o empate caseiro com o Belenenses. Era também natural que, depois de um fim de temporada decepcionante, os níveis de confiança dos jogadores se ressentissem. Nova derrota a começar o Campeonato foi, nessa medida, o que de pior podia ter acontecido. Last but not least, as arbitragens têm tido, uma vez mais, um papel determinante. Cinco pontos surripiados não são coisa pouca, e não podem, de modo algum, deixar de figurar em qualquer ponderação deste tipo. Agora vamos olhar para a frente, e, unidos, serenos e determinados, recuperar à Benfica, partindo para uma época que nos devolva os sucessos que a infelicidade roubou há poucos meses atrás.

COROAS E CARAS

O passado fim-de-semana poderia ser evocado, simultaneamente, como paradigma do que de melhor e de pior tem para oferecer o desporto nacional. Do lado positivo, é de sublinhar o triunfo de Rui Costa em Florença, colocando-o na esteira de Agostinho como figura cimeira da nossa velocipedia. Quando, em 2008, saiu do Benfica para abraçar uma carreira internacional, poucos imaginariam que chegasse tão longe. Hoje é Campeão do Mundo com todo o mérito. Também João Sousa brilhou além-fronteiras, com uma conquista inédita para o Ténis luso. Ambos simbolizam o que de melhor existe neste país desportivo. Lamentavelmente, o futebol intra-muros não podia oferecer uma imagem mais contrastante com a que nos chega de tão cintilantes palcos. Arbitragens miseráveis, resultados falseados, anti-jogo, e uma terrível sensação de déjà-vu. É verdade que o Benfica, frente ao Belenenses, não esteve ao seu melhor nível. Mas o FC Porto, no seu compromisso doméstico, também não. A diferença é simples: nós vimos um fiscal-de-linha oferecer um golo ao adversário, enquanto o nosso rival nortenho viu Pedro Proença regalar-lhe uma grande penalidade providencial. Contas feitas, temos, à 6ª jornada, dois penáltis por marcar sobre Lima (no Funchal e em Guimarães), um sobre Cardozo (em Alvalade), e sofremos dois golos irregulares (em Alvalade e frente ao Belenenses). O FC Porto, por seu turno, venceu o V.Guimarães com um penálti inexistente (coisa que já ocorrera em Setúbal), e o P.Ferreira com um golo ilegal. Ao Benfica, os homens de negro subtraíram 5 pontos. Ao FC Porto acrescentaram 4 - já descontado um penálti da Amoreira. Tudo somado, eis uma enorme mentira na tabela classificativa. Também não posso deixar passar a pouco edificante atitude desportiva do Belenenses ao longo da partida da Luz, que de forma alguma homenageou o seu convalescente treinador. Tácticas defensivas são legítimas. Simulações e constante queima de tempo são “chico-espertices” que só a falta de categoria dos árbitros tornam possíveis.